Capítulo 26: Confissões

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POV GABI

Eu estava sentada no sofá, olhando para o celular, hesitando em mandar uma mensagem para Sn. Era um daqueles dias em que a casa estava silenciosa demais, o que deixava meus pensamentos mais altos do que o normal. E, como já vinha acontecendo há algum tempo, esses pensamentos sempre acabavam no mesmo lugar: a relação da Sn com Roberta e Júlia.

Eu tinha passado a tarde com Carolana e Anne, e a conversa com elas tinha clareado minha mente. Elas tinham razão — eu estava permitindo que o ciúme tomasse conta de mim, algo que até então parecia pequeno, mas que a cada dia crescia mais. Não era justo comigo e muito menos com a Sn. Eu precisava ser honesta, precisava abrir o jogo, antes que esse sentimento ficasse insustentável.

Peguei o telefone e digitei rapidamente uma mensagem para Sn:

“Podemos conversar quando você chegar em casa?”

Encarei a tela por alguns segundos até que finalmente enviei. Era agora. Eu sabia que ela entenderia. E parte de mim sabia que ela também já devia estar sentindo que algo estava errado.

Quando Sn chegou em casa, mais cedo do que eu esperava, me encontrou no sofá, meio perdida nos meus pensamentos. Ela se aproximou com aquele olhar calmo, como quem sabe que algo importante está por vir, mas sem apressar as coisas.

"Oi, amor," ela disse, sentando-se ao meu lado. "Você queria conversar? Está tudo bem?"

Suspirei profundamente. O peso daquilo que eu carregava finalmente parecia estar perto de ser aliviado, mas ainda havia o medo da reação dela.

"Está tudo bem... mais ou menos," comecei, olhando para minhas mãos, nervosa. "Na verdade, tem uma coisa que está me incomodando há algum tempo, e eu preciso ser sincera com você."

Sn franziu a testa, claramente preocupada, mas não disse nada. Ela só esperou que eu continuasse, e essa paciência dela sempre me acalmava.

"Eu tenho sentido... ciúmes," confessei, finalmente. "Da sua proximidade com a Roberta e a Júlia."

Ela piscou algumas vezes, surpresa. "Ciúmes? Gabi, eu nem sabia que você estava se sentindo assim..."

Balancei a cabeça, tentando organizar meus pensamentos. "Eu sei, e esse é o problema. Eu deveria ter falado com você antes, mas estava com medo de parecer insegura ou exagerada."

Sn segurou minha mão, seu toque gentil, como sempre. "Você nunca vai parecer insegura ou exagerada para mim, Gabi. Se você está sentindo algo, isso é válido, e eu quero saber. Mas... me fala, o que exatamente está te incomodando?"

Era difícil explicar algo que, na maior parte do tempo, parecia irracional até para mim. Mas eu sabia que precisava ser honesta.

"Eu sei que não tem nada demais entre vocês," comecei, sentindo minha voz embargar um pouco. "Eu confio em você, e sei que Roberta e Júlia nunca fariam algo para me machucar. Mas, desde que vocês começaram a se aproximar, eu... não consigo evitar esse medo de que, de alguma forma, eu possa acabar perdendo o espaço que temos. Que elas possam ocupar um lugar que é meu."

Sn ficou em silêncio por um momento, absorvendo o que eu dizia. Ela ainda segurava minha mão, e o olhar em seus olhos não era de julgamento, mas de compreensão.

"Amor, eu entendo o que você está sentindo," ela disse suavemente. "E eu quero que você saiba que ninguém nunca vai ocupar o seu lugar. Eu me aproximei da Roberta e da Júlia porque... bem, elas são importantes para você. E eu queria fazer parte desse mundo, entende?"

Eu assenti, sentindo um pouco de alívio ao ouvir isso. "Eu sei. Eu sei que isso deveria ser uma coisa boa. E eu realmente aprecio o fato de você querer se conectar com minhas amigas. Mas, às vezes, parece que... que vocês estão construindo algo tão forte que eu fico com medo de ser deixada de lado."

Sn balançou a cabeça rapidamente, como se quisesse dissipar qualquer dúvida que eu pudesse ter. "Gabi, o que eu estou construindo com elas nunca vai se comparar com o que nós temos. Você é a pessoa com quem eu quero estar, você é a prioridade na minha vida. Eu me aproximei delas porque eu queria fortalecer nossos laços com as pessoas que você ama. Mas isso nunca foi — e nunca será — uma ameaça ao que temos."

Senti um peso enorme sair dos meus ombros enquanto ela falava. Era tudo o que eu precisava ouvir.

"Eu só não sabia como te dizer isso," admiti, sentindo uma pequena lágrima se formar nos meus olhos. "Eu não queria que você pensasse que eu não confiava em você, porque eu confio. Só que às vezes o medo de perder o que temos fala mais alto."

Sn se aproximou e me envolveu em um abraço apertado, aquele tipo de abraço que só ela sabia dar. "Você nunca vai me perder, Gabi. Eu estou aqui, e vou estar aqui. Sempre. Mas você também precisa confiar em si mesma. Nosso relacionamento é forte, e essas amizades que eu estou construindo não vão mudar isso. Se alguma coisa, elas só vão nos fortalecer."

Fiquei em silêncio por um momento, apenas apreciando a segurança que o abraço dela me trazia. Eu sabia que ela estava certa. Essas amizades não eram uma ameaça, e eu precisava confiar mais nisso.

"Obrigada por me ouvir," murmurei, minha voz um pouco abafada pelo seu ombro. "Eu precisava colocar isso para fora."

Ela sorriu, beijando o topo da minha cabeça. "Sempre que você precisar, eu vou estar aqui para ouvir. Sem julgamentos. Vamos passar por tudo isso juntas, Gabi."

E, naquele momento, senti que algo dentro de mim finalmente se acalmou. Eu sabia que o caminho não seria fácil, que ainda haveria momentos de insegurança e dúvida. Mas, com Sn ao meu lado, eu sabia que poderíamos superar qualquer coisa.

Eu me afastei um pouco, encarando-a nos olhos, e sorri. "Acho que estamos bem, né?"

Ela riu suavemente. "Sempre estivemos. Mas agora, estamos ainda melhores."

Cᴏʀᴀçãᴏ ᴇᴍ ᴊᴏɢᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora