*POV GABI*
As coisas entre mim e Sn mudaram. E mudaram de um jeito que eu não consigo mais ignorar. Desde o nosso beijo, é como se algo dentro de mim tivesse sido liberado, mas, ao mesmo tempo, a realidade me atingiu com força. O que a gente tem não é só uma questão de química ou atração física — é algo mais profundo. Algo que me assusta e, ao mesmo tempo, me dá forças.
Estou deitada na cama, olhando para o teto e pensando no que significa tudo isso. Eu sei que estar com ela envolve riscos, que nossa relação pode complicar não apenas minha recuperação, mas a carreira dela também. E, honestamente, isso me apavora. Mas não posso negar o que sinto, e parte de mim sabe que ela também está nesse mesmo dilema.
Ainda assim, não consigo deixar de me perguntar: como eu poderia explicar isso para as minhas amigas? Thaisa e Carolana sempre me apoiaram em tudo, mas elas não sabem sobre Sn. Não desse jeito. E como eu poderia contar a elas que estou me apaixonando por alguém que, tecnicamente, deveria ser apenas minha médica?
O dia de treino está marcado, e é a nossa rotina se reunir depois disso. Thaisa, Carolana e eu sempre encontramos tempo para colocar o papo em dia. Hoje, estou determinada a falar sobre o que está acontecendo com Sn, mas, ao mesmo tempo, tenho medo do que elas vão pensar. Será que vão me julgar? Vão achar que estou me precipitando ou sendo irresponsável? Só de imaginar, meu coração já acelera.
Chego ao centro de treinamento com as pernas um pouco bambas, tentando afastar a ansiedade. A sessão de treino parece arrastar-se, embora eu geralmente ame estar na quadra. Minhas amigas, como sempre, estão empolgadas, focadas, mas também percebo os olhares que me lançam de vez em quando. Elas sabem que algo está diferente em mim, mas são pacientes — esperando que eu esteja pronta para falar.
Depois do treino, vamos ao nosso café de sempre, e só de estar ali com elas, sinto uma mistura de conforto e medo. Sento-me, respiro fundo e tento me preparar mentalmente para o que está por vir. Carolana e Thaisa já estão rindo e conversando sobre alguma história engraçada que aconteceu no treino, mas eu estou distraída demais para acompanhar a conversa.
“Ei, Gabi, terra chamando Gabi!” Carolana acena na minha frente, interrompendo meus pensamentos. O sorriso dela é contagiante, e não consigo evitar sorrir de volta, mesmo que minha mente esteja a mil por hora.
“Desculpa, meninas. Estou meio distraída,” admito, pegando minha xícara de café e tomando um gole, mais para ganhar tempo do que qualquer outra coisa.
“Eu percebi,” Thaisa diz com aquele olhar afiado que sempre me faz sentir como se ela pudesse ver através de mim. “O que está rolando?”
“Vocês sabem que eu tenho ido à clínica para fazer fisioterapia, né?” Tento começar de maneira casual, mas o nervosismo está evidente na minha voz.
“Sim, claro. A gente sabe disso, mas o que isso tem a ver com o seu estado de hoje?” Carolana pergunta, claramente curiosa.
Eu suspiro, percebendo que não há como adiar mais. “É que... a minha fisioterapeuta, a Sn... a gente... bom, a gente meio que se envolveu.”
Há um momento de silêncio, e vejo as duas trocarem olhares. É Thaisa quem quebra o silêncio primeiro. “Envolveu? Tipo, vocês estão juntas?”
“Não sei se estamos 'juntas',” digo, tentando escolher as palavras. “Mas a gente... está se aproximando de um jeito que não deveria ser só profissional. A verdade é que não conseguimos mais fingir que não sentimos algo uma pela outra.”
Thaisa apoia os cotovelos na mesa e me olha com seriedade. “Gabi, você sabe que isso pode ser um problema, né? Ela é sua médica.”
“Eu sei,” respondo rapidamente. “Eu sei que tem complicações. E nós conversamos sobre isso. Tentamos manter as coisas profissionais por muito tempo, mas chegou num ponto em que não dá mais. O que sentimos... é forte demais para ignorar.”
Carolana sorri, quase como se já tivesse previsto isso. “Gabi, eu te conheço bem. E pelo que você está dizendo, parece que essa coisa entre vocês não é passageira. Se é real, vocês têm que encontrar uma maneira de lidar com isso.”
“Eu concordo com a Carol,” Thaisa acrescenta. “Mas vocês têm que ser cuidadosas. Não só por causa da carreira dela, mas pela sua recuperação também. Você não pode deixar isso interferir no que é mais importante agora.”
Eu balanço a cabeça, concordando. “Eu sei. A gente está tentando encontrar um equilíbrio, mas é difícil. Só de pensar em como as coisas podem complicar... me assusta.”
Thaisa sorri, dessa vez de um jeito mais suave. “Vai dar tudo certo, Gabi. Só toma cuidado. E se precisar de alguém para conversar, estamos aqui, tá?”
Sinto uma onda de alívio ao ouvir as palavras delas. Eu sabia que poderia contar com essas duas, mas ouvir o apoio delas ainda me dá uma paz que eu não esperava. Elas sabem que isso não é só uma aventura ou uma distração. É algo que vai além de tudo isso.
“Obrigada, meninas. Eu realmente precisava desabafar,” digo, sinceramente grata.
“E você sabe que pode contar com a gente,” Carolana diz, erguendo a xícara em um brinde simbólico. “Por você e por ela, Gabi. Se é importante, vale a pena lutar.”
Brindamos com as xícaras, rindo da simplicidade do gesto, mas sabendo que há algo muito maior por trás desse momento. Com essas duas ao meu lado, sinto que posso enfrentar qualquer coisa. E com Sn, tudo parece mais intenso, mais vivo. Sei que não vai ser fácil, mas pela primeira vez em muito tempo, sinto que estou no caminho certo — em todos os aspectos.
Agora, com o apoio das minhas amigas e a certeza do que sinto por Sn, estou pronta para enfrentar qualquer desafio que venha. Porque, no fundo, eu sei que o que temos é real e vale a pena lutar por isso.
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Cᴏʀᴀçãᴏ ᴇᴍ ᴊᴏɢᴏ
RomansaGabi Guimarães, uma das maiores promessas do vôlei brasileiro, enfrenta o maior desafio de sua carreira ao sofrer uma lesão que ameaça sua participação nas Olimpíadas. Determinada a voltar às quadras, ela busca a ajuda de Sn, uma renomada médica esp...