*POV GABI*
O cheiro suave do café recém-passado preenchia o ambiente, misturando-se ao som distante do trânsito e das conversas ao redor. Eu estava sentada em uma cafeteria, uma dessas que frequentávamos no início, quando tudo entre nós ainda parecia leve, sem as cicatrizes profundas que agora carregávamos. O lugar tinha uma aura nostálgica que eu não conseguia evitar, e parte de mim sentia que estar ali era simbólico, como se estivéssemos voltando para onde tudo começou.
Sn estava ao meu lado, concentrada em algo no celular, mas eu sabia que ela estava tão perdida em pensamentos quanto eu. A jornada até aqui não foi nada fácil, e embora tivéssemos encontrado um equilíbrio momentâneo, eu ainda sentia o peso das decisões que tomamos e das palavras que trocamos. O que tínhamos era real, mas isso não significava que fosse simples.
"Você parece distante," Sn comentou, erguendo os olhos para me encarar. Ela tinha esse olhar que me atravessava, como se fosse capaz de ver todos os meus medos e inseguranças, mesmo aqueles que eu me esforçava para esconder.
Sorri de leve, mais como um reflexo do que por realmente me sentir tranquila. "Estou pensando em como tudo mudou. Parece que faz uma eternidade desde que começamos isso."
Ela assentiu, parecendo refletir sobre minhas palavras. "Mudou mesmo. Mas acho que, de certa forma, foi necessário. Nós duas crescemos muito com tudo isso, não acha?"
Olhei para ela, analisando cada detalhe de seu rosto. Havia algo diferente em Sn, uma calma que eu não via antes. O medo de perder o controle, de não ser suficiente, parecia ter desaparecido, substituído por uma confiança que eu sabia que ela também lutava para construir.
"Sim, acho que sim," admiti, minha voz suave. "Mas às vezes me pergunto... até que ponto a gente mudou e até que ponto apenas se adaptou para sobreviver."
Era uma pergunta difícil, uma que eu vinha evitando há algum tempo. Nós duas tínhamos passado por tanto, carregando nossas feridas e tentando seguir em frente. Mas será que havíamos realmente curado, ou apenas encontrado uma maneira de sobreviver juntas?
Sn franziu a testa, pensativa. "Eu acho que é um pouco dos dois," disse, finalmente. "Nós nos adaptamos, sim. Tivemos que nos ajustar ao que estávamos vivendo. Mas também mudamos porque percebemos que não podíamos mais ser as mesmas pessoas se quiséssemos que isso funcionasse."
Suas palavras me tocaram de uma maneira profunda. Talvez fosse isso. Talvez a mudança fosse inevitável, e em vez de resistir, precisávamos aceitá-la. Não éramos as mesmas pessoas que começamos a ser, e isso não era algo ruim. Era apenas parte do processo.
"Você está certa," falei, relaxando um pouco mais na cadeira. "Eu só preciso lembrar que crescer às vezes dói, mas é necessário."
Ela sorriu, e aquele sorriso trouxe de volta uma sensação de tranquilidade que eu não sentia há algum tempo. Era como se, finalmente, eu pudesse respirar com mais facilidade.
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Depois de sairmos da cafeteria, decidimos caminhar um pouco. O sol estava começando a se pôr, pintando o céu com tons de laranja e rosa, enquanto as ruas começavam a se encher com o ritmo desacelerado do fim do dia. A cidade parecia em paz, como se estivesse acompanhando o nosso próprio renascimento.
Sn andava ao meu lado, e mesmo sem palavras, havia uma conexão ali que era reconfortante. Nossas mãos se encontraram de maneira quase automática, e o toque simples me trouxe uma sensação de segurança que eu tanto precisava.
"Eu estava pensando," ela começou, quebrando o silêncio. "A gente sempre fala sobre o futuro, mas acho que, pela primeira vez, estou realmente começando a enxergar ele de maneira diferente. Antes, tudo parecia assustador, incerto. Mas agora... eu sinto que estamos realmente construindo algo. Juntas."
As palavras dela me atingiram com uma força inesperada. Talvez fosse o modo como ela disse, ou o fato de que, pela primeira vez, eu também começava a acreditar nisso. O futuro, que antes parecia uma nuvem escura e cheia de incertezas, agora se mostrava como um horizonte cheio de possibilidades.
"E você está pronta para isso?" perguntei, minha voz baixa, mas cheia de sinceridade. "Está pronta para o que vem, seja o que for?"
Ela me olhou com uma firmeza que me surpreendeu. "Eu estou. E sei que você também está, mesmo que ainda não tenha certeza."
Por um momento, fiquei em silêncio, absorvendo suas palavras. Eu queria acreditar que estava pronta, mas sempre havia aquela voz dentro de mim, sussurrando dúvidas e receios. No entanto, ao olhar para Sn, percebi que talvez essa voz não fosse mais tão alta quanto antes. Talvez, finalmente, eu estivesse pronta para silenciá-la.
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O caminho de volta foi tranquilo, e quando chegamos à frente do meu prédio, parei por um momento para absorver o que estava sentindo. O mundo parecia diferente agora. A incerteza ainda estava lá, mas algo dentro de mim havia mudado.
"Você quer subir?" perguntei, olhando para ela. Não era uma pergunta carregada de segundas intenções, mas uma maneira de dizer que eu queria mais tempo com ela, que estava disposta a abrir mais espaço para ela em minha vida.
Ela sorriu e assentiu. "Claro."
Enquanto subíamos as escadas, eu me permiti sentir o que estava por vir. O futuro ainda era incerto, mas, pela primeira vez em muito tempo, eu estava pronta para enfrentá-lo. Com Sn ao meu lado, sabia que, independentemente do que acontecesse, estaríamos bem.
E isso, no final das contas, era tudo o que importava.
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Entramos no apartamento, e enquanto a porta se fechava atrás de nós, senti uma nova página sendo virada. O passado ainda existia, com suas cicatrizes e lições, mas o presente e o futuro agora pertenciam a nós.
Era o começo de algo novo. Um renascimento.
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Cᴏʀᴀçãᴏ ᴇᴍ ᴊᴏɢᴏ
RomanceGabi Guimarães, uma das maiores promessas do vôlei brasileiro, enfrenta o maior desafio de sua carreira ao sofrer uma lesão que ameaça sua participação nas Olimpíadas. Determinada a voltar às quadras, ela busca a ajuda de Sn, uma renomada médica esp...