Capítulo 9: Entre a razão e o sentimento

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**POV GABI**

Cada sessão de fisioterapia é uma montanha-russa de emoções. A dor física é difícil, mas ultimamente, o que mais tem me tirado o sono são os sentimentos que surgem toda vez que Sn está por perto.

Hoje, a clínica estava mais silenciosa do que o normal, e o clima entre nós parecia mais denso, como se as palavras que evitávamos dizer estivessem pesando no ar.

Ela entrou na sala com seu jeito tranquilo, aquele que sempre me acalma e ao mesmo tempo me deixa inquieta. “Pronta para começar, Gabi?” Sua voz era firme, mas percebi uma leve hesitação.

Eu assenti, sem saber exatamente o que esperar daquele dia. Sentia que algo estava para mudar.

Começamos com os exercícios, como sempre. Primeiro alongamentos, depois os movimentos controlados. Era rotina, mas meu corpo estava cansado de mais do que apenas o esforço físico. Cada toque, cada olhar, me deixava à beira de dizer algo que eu ainda não tinha coragem.

No meio de um dos exercícios, nossos olhares se cruzaram. O silêncio entre nós estava insuportável, e eu senti que precisava quebrá-lo.

“Sn, eu... você acha que vou voltar a ser a mesma de antes?” Minha voz saiu mais suave do que eu pretendia, quase como um sussurro.

Ela me olhou por um segundo, claramente pensando na resposta. “Você vai voltar, Gabi. Mas, como eu disse antes, talvez você não seja exatamente a mesma. E isso pode ser bom. Mudanças nem sempre são ruins.”

Eu respirei fundo, sentindo a gravidade das palavras dela. Ela estava falando de mim, do meu corpo... mas também parecia estar se referindo a algo mais.

“Mas... e se eu não quiser mudar? E se... eu não souber lidar com tudo isso?” Eu sabia que não estava mais falando só sobre a recuperação. Estava falando dos sentimentos que vinham crescendo em mim, sentimentos que eu ainda estava tentando entender.

Ela parou por um segundo, seus olhos nos meus, e o silêncio se estendeu entre nós. Finalmente, ela quebrou o momento.

“Gabi, todos nós mudamos em algum momento. Não é algo que a gente escolhe, simplesmente acontece. E, às vezes, as mudanças nos levam para lugares que não esperávamos... mas isso não significa que sejam ruins.”

Havia algo diferente no tom da voz dela, algo mais pessoal. Eu podia sentir a luta dentro dela, da mesma forma que eu estava lutando para entender o que estava acontecendo entre nós.

“Você também sente isso, né?” As palavras escaparam da minha boca antes que eu pudesse me conter. Não era mais sobre fisioterapia, nem sobre a minha carreira. Era sobre o que estava acontecendo entre nós.

Ela hesitou, o que só confirmou o que eu já sabia. Sn respirou fundo, desviando o olhar por um momento, antes de voltar a me encarar.

“Gabi... nós precisamos manter as coisas profissionais. Isso é... complicado.” Sua voz era suave, mas havia uma tensão clara. Ela estava tentando se proteger, e eu entendia isso. Mas não conseguia ignorar o que estava ali, na nossa frente.

“Complicado por quê? Porque você é minha médica? Ou porque... você sente algo também?” Eu sabia que estava cruzando uma linha, mas já não conseguia mais segurar o que estava dentro de mim.

Ela suspirou, finalmente se afastando um pouco, criando uma distância que parecia mais simbólica do que física. “É complicado porque... sim, eu sinto algo, mas não posso deixar isso atrapalhar sua recuperação. Você precisa de mim como sua médica, Gabi, e eu... eu não posso ser mais do que isso.”

O silêncio que seguiu suas palavras foi quase ensurdecedor. Meu coração batia tão forte que eu sentia que ela poderia ouvir. Eu queria responder, dizer que entendia, mas que não conseguia mais ignorar o que sentia. Mas ao mesmo tempo, sabia que ela estava certa. Tudo isso era uma bagunça.

“Eu não sei se consigo separar as coisas... Não quando estou tão perto de você,” admiti, minha voz saindo baixa, quase um pedido de ajuda.

Ela fechou os olhos por um momento, como se estivesse buscando forças. Quando os abriu de novo, havia uma tristeza ali que eu nunca tinha visto antes.

“Gabi, isso não é justo com você. Eu quero o melhor para sua recuperação, e qualquer coisa além disso... só vai te confundir mais.” Ela parecia estar se convencendo tanto quanto estava tentando me convencer.

Eu não sabia o que dizer. Havia tantas emoções misturadas — frustração, desejo, confusão. E mais do que tudo, havia o medo de perder o que quer que fosse isso que estávamos construindo, mesmo que não soubéssemos o que era.

Ela deu um passo à frente, mais uma vez, e colocou a mão levemente no meu ombro. O toque foi suave, mas carregado de sentimentos não ditos. “Vamos focar no que importa agora, tá? A gente precisa pensar no seu futuro... na sua recuperação.”

Eu apenas assenti, sentindo meu peito apertar. Sabia que ela tinha razão. Mas saber disso não tornava as coisas mais fáceis.

A sessão continuou, mas nada mais parecia igual. Cada exercício era automático, enquanto minha mente corria para lugares que eu não conseguia controlar. Quando terminamos, ela me deu um sorriso profissional, mas seus olhos ainda carregavam a tensão que tínhamos compartilhado.

“Nos vemos amanhã, Gabi,” disse ela, antes de sair da sala.

Eu fiquei ali, sozinha, por alguns minutos, tentando processar tudo. Por mais que tentássemos manter as coisas profissionais, sabíamos que algo estava mudando, e não havia como voltar atrás.

Eu só não sabia o que fazer com esses sentimentos, ou como seguir em frente sem cruzar uma linha da qual talvez nunca pudéssemos voltar.

Cᴏʀᴀçãᴏ ᴇᴍ ᴊᴏɢᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora