Capítulo 12: Romper as Barreiras

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*POV SN*

Eu não consigo parar de pensar em nossa última conversa. Cada palavra da Gabi, cada olhar que ela me lançou, me assombra desde aquele momento. Eu tinha dito a ela que não podíamos cruzar essa linha, que tudo isso era errado, mas parte de mim sabia que estava apenas tentando me convencer de algo que eu já não acreditava mais.

Fingir que nada está acontecendo entre nós é como tentar apagar o sol com as mãos. Ridículo. Ineficaz. Porque a verdade, por mais dura que seja, está sempre lá, brilhando forte, me cegando. Não há como escapar disso.

Nos últimos dias, cada vez que eu a vejo, é como se algo dentro de mim estivesse à beira de explodir. Tento manter a fachada profissional, ser a médica que ela precisa, mas minhas emoções estão sempre ali, fervendo logo abaixo da superfície. E a cada sorriso dela, a cada toque, o controle que eu tanto tento manter se desfaz um pouco mais.

Hoje é o dia que eu decidi parar de lutar contra isso. Porque a verdade é que não posso continuar fugindo.

Pela manhã, tentei me convencer de que seguiríamos como sempre, que seria mais um dia comum na clínica. Mas quando entrei na sala e vi Gabi sentada, esperando por mim, algo mudou. Eu sabia que não conseguiria passar por mais uma sessão fingindo que sou apenas sua médica. Minha pele formigava cada vez que nossos olhares se encontravam, e eu sabia que, se não fizesse algo, essa tensão entre nós iria consumir a ambos.

“Bom dia, [SN],” Gabi disse, com um sorriso leve, mas os olhos dela me diziam mais. Ela estava esperando por algo. Algo que eu sabia que só eu poderia dar.

“Bom dia,” respondi, tentando manter a voz firme, mas minha mente já estava a quilômetros de distância.

Começamos os exercícios de rotina, e tudo seguia como sempre — ao menos na superfície. Mas com cada movimento que ela fazia, cada vez que eu a ajudava a ajustar um alongamento ou corrigir uma postura, o ar entre nós parecia ficar mais pesado, mais carregado de tudo o que não estávamos dizendo.

Quando ela terminou um dos alongamentos, deitei a mão sobre o ombro dela para ajustar o ângulo, e naquele momento, senti. Não era mais só uma tensão sutil, era uma necessidade palpável. Eu sabia que, se continuasse fugindo, iria me arrepender para sempre.

Então, antes que eu pudesse me segurar, retirei minha mão do ombro dela e recuei um passo.

“**[SN]? O que houve?” A preocupação era clara na voz dela, mas também havia algo mais — uma expectativa.

Eu não conseguia mais disfarçar. Sabia que aquilo não tinha volta.

Respirei fundo, tentando organizar os pensamentos. “Gabi... a gente precisa parar.”

Ela me olhou, confusa. “Parar o quê?”

“Parar de fingir que o que está acontecendo entre nós é só profissional. Porque não é.”

O silêncio que seguiu foi avassalador. Gabi me encarava, surpresa, mas também havia um brilho de entendimento nos olhos dela. Ela sabia exatamente do que eu estava falando, e estava apenas esperando o momento em que eu tomaria coragem para dizer.

Eu continuei, sabendo que não poderia parar agora. “Eu tentei, de verdade, manter isso aqui só sobre a sua recuperação. Mas, Gabi, a verdade é que estou envolvida. E não dá mais para fingir que não sinto nada.”

Ela respirou fundo, e por um momento pensei que ela fosse recuar. Mas, ao invés disso, ela se aproximou um passo, sua presença tão forte que quase me fez perder o equilíbrio.

“Eu sabia que você sentia, [SN]. Só não sabia por quanto tempo mais você ia tentar esconder.”

Essas palavras me atingiram com força, porque eram verdadeiras. Eu vinha escondendo, lutando, colocando barreiras entre nós. Mas agora, ali, na frente dela, eu sabia que nenhuma barreira poderia nos proteger do que estávamos prestes a enfrentar.

Olhei para Gabi, meu coração disparado, mas não havia mais espaço para o medo. “Eu não posso continuar com essa farsa. Eu sinto algo por você, Gabi. E não é só atração. É algo mais forte... algo que eu não consigo mais ignorar.”

Gabi sorriu, aquele sorriso suave e cheio de significado. “Eu também, [SN]. Sempre senti. Desde o início, eu soube que o que estava crescendo entre nós era mais do que você queria admitir.”

Por um instante, fiquei sem fala. Saber que ela também estava tão envolvida, tão conectada a mim, trouxe um alívio e um pânico simultâneos. Eu deveria estar preocupada com o que isso poderia causar, com as repercussões. Mas, naquele momento, tudo o que eu queria era estar com ela.

Eu dei mais um passo, reduzindo a distância entre nós até que eu pudesse sentir a respiração dela. Minhas mãos tremiam, mas não era medo. Era o reconhecimento de que estávamos cruzando uma linha, e que não havia mais como voltar atrás.

“Você tem certeza?” perguntei, minha voz saindo mais baixa do que eu pretendia. “Se a gente seguir por esse caminho, não vai ter volta.”

Ela assentiu, sem hesitar. “Eu tenho certeza. E estou cansada de esperar.”

Antes que eu pudesse pensar duas vezes, minhas mãos encontraram o rosto dela, e o toque foi como uma faísca. Durante tanto tempo, eu havia evitado isso, lutado contra. Mas naquele momento, tudo pareceu certo. Nós estávamos onde precisávamos estar.

Eu a beijei, e tudo pareceu parar. Não havia mais preocupações com a ética, com a clínica, com a recuperação. Era apenas nós duas, no meio de algo que vínhamos construindo desde o início, algo que finalmente estávamos prontas para admitir.

Quando nos separamos, ainda ofegantes, olhei para ela, e por um momento, toda a minha insegurança desapareceu. Eu sabia que, por mais complicado que fosse, por mais desafios que enfrentássemos, isso era real. E não importava o que viesse depois.

“E agora?” Gabi perguntou, um sorriso brincando nos lábios.

Eu sorri de volta, sentindo um peso ser retirado dos meus ombros. “Agora... a gente enfrenta isso juntas. Sem medo.”

O que viria a seguir, eu não sabia. Mas, pela primeira vez em muito tempo, não estava mais fugindo. Estávamos prontas para viver o que estávamos evitando por tanto tempo. E, de alguma forma, isso era tudo o que eu precisava saber.

Cᴏʀᴀçãᴏ ᴇᴍ ᴊᴏɢᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora