Capítulo 30: Um novo horizonte

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POV SN

Acordar ao lado de Gabi era uma dessas pequenas bênçãos que eu ainda estava me acostumando a ter. O cheiro suave dos lençóis, o som da respiração dela tão perto de mim, o jeito que seu cabelo caía sobre o travesseiro – tudo parecia perfeito. A luz da manhã atravessava as cortinas, iluminando seu rosto com um brilho suave, tornando-a ainda mais linda. Eu fiquei deitada ali, observando-a dormir por um tempo, com o coração cheio de um amor que parecia crescer mais a cada dia.

Havia algo de profundamente reconfortante em saber que, apesar de tudo o que tínhamos passado, estávamos ali, juntas, prontas para encarar o que quer que viesse a seguir. Nossas conversas recentes tinham sido intensas – as inseguranças dela, meus medos, o ciúme que ela admitiu sentir de Roberta e Júlia... Tudo parecia tão real e, ao mesmo tempo, tão frágil. Mas, ao mesmo tempo, era exatamente isso que nos tornava tão fortes. Enfrentar nossos medos de frente era um sinal de que estávamos prontas para algo mais profundo, mais verdadeiro.

Eu me levantei da cama com cuidado, tentando não fazer barulho para não acordá-la. Caminhei até a varanda, sentindo a brisa fresca da manhã bater no meu rosto. Lá fora, a cidade já começava a despertar, mas para mim, aquele momento de quietude era tudo. Com os braços cruzados, eu me apoiei na grade, pensando em como nossa relação tinha mudado tanto em tão pouco tempo.

A princípio, tudo parecia complicado, como se estivéssemos navegando em águas turbulentas. Eu me lembro de como era no início, quando o medo de magoá-la me fazia tomar decisões erradas, como afastá-la de mim para que eu pudesse processar tudo sozinha. Mas, com o tempo, fui percebendo que o que eu precisava era justamente o contrário. Precisava dela ao meu lado, de sua força, de sua compreensão. E, mais importante, precisava confiar nela para compartilhar meus próprios medos.

Meus pensamentos foram interrompidos quando senti os braços de Gabi ao redor da minha cintura, me puxando gentilmente para perto.

"Você já está acordada faz tempo?" ela murmurou, sua voz ainda rouca de sono. Seu corpo quente se encostava no meu, e eu podia sentir o cheiro doce do seu perfume.

"Não muito," menti, sorrindo enquanto me virava para encará-la. Ela estava ali, com os olhos semiabertos, envolta em um lençol que pendia de seus ombros de forma desleixada. Mesmo assim, ela era a visão mais bonita que eu poderia ter naquela manhã.

Ela se encostou na grade ao meu lado, ainda meio sonolenta. "Tá pensando no que?"

"Em nós," respondi honestamente, envolvendo-a em meus braços novamente. "Em como estamos lidando com tudo. Parece que estamos navegando bem melhor agora, não acha?"

Ela assentiu, mas eu podia ver em seus olhos que algo mais estava acontecendo. Não era apenas cansaço ou preguiça matinal. Havia uma certa tensão ali, algo que ela parecia estar guardando, mas hesitava em dizer.

"Você parece distraída," comentei, segurando seu queixo suavemente e olhando-a nos olhos. "Tem algo te incomodando?"

Ela soltou um suspiro, como se estivesse tentando decidir se deveria falar ou não. Mas então, como sempre, Gabi escolheu ser honesta.

"É que... Eu ainda estou com aquilo na cabeça, sabe? O lance de você se aproximar tanto da Roberta e da Júlia..." Sua voz foi ficando mais baixa enquanto falava, e ela desviou o olhar para o chão. "Eu sei que não tem nada de errado, mas eu não consigo evitar. Sinto ciúmes."

Eu não consegui evitar um pequeno sorriso ao ouvir isso. Não porque achava que o ciúme dela era algo bobo, mas porque era um reflexo do quanto ela se importava comigo, do quanto nossa relação era importante para ela.

"Parece que você guardou isso por tempo demais," falei, puxando-a para mais perto e acariciando seu cabelo. "Eu entendo que você sinta ciúmes, Gabi. Mas você precisa saber que, apesar de eu me aproximar delas, ninguém ocupa o lugar que você tem no meu coração."

Ela me olhou, e seus olhos estavam cheios de emoção. "Eu sei, mas às vezes, só de ver vocês rindo juntas, me dá um aperto no peito. Eu me sinto... insegura. Como se pudesse te perder."

"Você nunca vai me perder," sussurrei, segurando suas mãos entre as minhas. "Eu sou sua, Gabi. Só sua. E se, em algum momento, você sentir que algo está te incomodando, me avisa. A última coisa que quero é que você sofra em silêncio."

Ela soltou um suspiro profundo, como se estivesse aliviada por finalmente falar sobre o que estava pesando em sua mente. "Obrigada por entender."

"Eu sempre vou te entender," respondi, beijando sua testa com carinho.

Mais tarde, naquele mesmo dia...

Passamos o resto da manhã juntas, em um clima mais leve e descontraído. Gabi parecia mais relaxada, e eu também me sentia mais tranquila depois da nossa conversa. Decidimos aproveitar o dia e almoçar com as meninas, Carolana, Thaisa, Roberta, Júlia e o restante do grupo.

No restaurante, o clima estava alegre. As meninas estavam rindo e brincando entre si, e Gabi estava mais envolvida nas conversas do que eu esperava. Ainda percebi alguns olhares de hesitação da parte dela, principalmente quando eu e Roberta trocávamos algumas palavras ou piadas, mas ela estava tentando, e isso era o que mais importava.

Roberta, sendo a pessoa descontraída que era, notou que Gabi estava um pouco mais distante e fez questão de incluí-la nas conversas. Júlia também fez sua parte, puxando Gabi para o centro das atenções em alguns momentos, o que fez a dinâmica entre todas nós fluir de uma maneira bem mais natural.

O almoço se transformou em uma tarde divertida, e quando finalmente saímos do restaurante, senti que havia dado um passo importante. Não só em minha amizade com Roberta e Júlia, mas também em meu relacionamento com Gabi. Ela sabia agora que, apesar de minhas novas amizades, nada seria mais importante do que o que tínhamos.

No fim da tarde, de volta ao apartamento...

Deitada no sofá com Gabi, percebi o quanto tínhamos crescido juntas. Cada dia que passava, me sentia mais conectada a ela, e nossos medos e inseguranças, embora presentes, estavam cada vez mais sob controle.

"Eu te amo, sabia?" ela disse de repente, me surpreendendo.

"Eu também te amo," respondi, sorrindo.

Era isso. Juntas, podíamos enfrentar qualquer coisa.

Cᴏʀᴀçãᴏ ᴇᴍ ᴊᴏɢᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora