Capítulo 37: Feridas abertas

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POV GABI

As últimas semanas tinham sido um verdadeiro teste para mim e Sn. Desde nossa conversa em Paris, as coisas haviam melhorado. Eu estava tentando ao máximo compensar o tempo que passei ausente emocionalmente, reconectando-me com ela, mostrando de todas as maneiras possíveis o quanto ela significava para mim. Mas, por mais que eu fizesse, algo ainda parecia não estar completamente certo.

Eu podia sentir a distância que ainda pairava entre nós, uma sombra que nos seguia, mesmo quando estávamos rindo ou compartilhando momentos íntimos. Sn estava mais reservada, mais cuidadosa com suas palavras e reações, como se estivesse pisando em ovos ao meu redor. E eu sabia o motivo: a insegurança que as especulações sobre mim e Rebeca tinham gerado não desapareceria tão facilmente.

"Eu fiz o jantar que você gosta," disse, tentando soar casual, enquanto colocava o prato à sua frente. Era um de seus pratos favoritos, algo que costumávamos compartilhar nos dias de folga, uma tradição que sempre nos conectava.

Ela me olhou e sorriu de leve, mas o sorriso não alcançou seus olhos. "Obrigada, Gabi. Parece ótimo."

Sentei-me ao seu lado, observando-a por um momento enquanto ela começava a comer em silêncio. Havia algo pesado no ar, algo que não conseguíamos nomear. Desde aquela noite em Paris, eu estava fazendo o possível para estar presente, mas parecia que, mesmo com todos os meus esforços, Sn ainda não tinha conseguido superar completamente a situação.

"Sn, está tudo bem?" perguntei, tentando suavizar minha voz, mesmo sabendo que essa era uma pergunta que fazia repetidamente nas últimas semanas.

Ela parou por um segundo, sua mão segurando o garfo no ar, como se estivesse ponderando a resposta. Finalmente, suspirou e pousou o talher, cruzando os braços sobre a mesa. "Gabi, eu... eu sei que você está se esforçando, e eu realmente aprecio isso. Mas não é tão simples para mim."

Eu me inclinei para frente, tentando entender. "Não é simples como?"

Ela olhou para o prato, evitando meus olhos por um momento. "Eu ainda sinto essa... essa sombra de insegurança. Eu confio em você, de verdade. Mas, às vezes, é como se uma parte de mim estivesse sempre esperando algo dar errado."

Seu tom era calmo, mas eu podia sentir a tristeza por trás das palavras. Isso me atingiu como um golpe, mesmo que eu soubesse que não era intencional. Sn não estava querendo me magoar, mas era claro que as feridas ainda estavam lá, abertas e expostas.

"Eu entendo," falei, minha voz mais baixa agora. "Eu realmente entendo, Sn. E sei que eu causei isso. Mas o que eu posso fazer para te ajudar? Para fazer você se sentir segura de novo?"

Ela mordeu o lábio, finalmente me olhando nos olhos. "Eu não sei. Acho que parte disso é comigo. Eu odeio admitir, mas essa coisa toda com a Rebeca me fez sentir... substituível."

"Substituível?" Eu franzi a testa, incapaz de processar como ela poderia pensar isso. "Sn, você é a pessoa mais importante da minha vida. Não existe ninguém que possa te substituir."

Ela balançou a cabeça levemente. "Eu sei que você diz isso. E uma parte de mim acredita. Mas a outra parte... bem, ela está sempre lá, sussurrando que talvez você encontre alguém melhor, alguém que te entenda de um jeito que eu não entendo."

Essas palavras me devastaram. Como ela podia pensar isso? Depois de tudo o que passamos, depois de eu ter me esforçado tanto para mostrar o quanto a amava, ainda havia esse medo em seu coração. Eu segurei sua mão sobre a mesa, apertando-a com firmeza.

"Você nunca vai ser substituível," eu disse, minha voz trêmula. "Eu sei que te machuquei ficando tão distante, e sei que as pessoas disseram coisas horríveis sobre mim e Rebeca, mas eu nunca, em momento algum, deixei de te amar. Você é minha prioridade. Sempre foi e sempre será."

Ela sorriu de leve, mas ainda havia algo nos seus olhos que me dizia que as palavras não seriam suficientes para apagar suas inseguranças.

"Eu sei, Gabi. E eu estou tentando. Mas eu preciso de tempo. Acho que é isso."

Eu assenti lentamente. Ela precisava de tempo, e eu precisava respeitar isso. Não adiantaria pressioná-la ou exigir que ela simplesmente superasse tudo. As emoções não funcionavam assim. As cicatrizes que eu tinha deixado ainda estavam lá, e, por mais que eu quisesse, não poderia apagá-las tão rapidamente.

"Eu estou aqui, sempre que você estiver pronta," prometi. "Eu só quero que você saiba que não há ninguém mais importante para mim do que você. Não existe nada que eu queira mais do que te ver feliz."

Sn assentiu, apertando minha mão de volta. "Eu sei, Gabi. Eu sei."

Jantamos em silêncio depois disso, um silêncio que não era pesado, mas também não era completamente confortável. Era como se estivéssemos tentando encontrar nosso caminho de volta uma para a outra, passo a passo, mas com a incerteza ainda pairando sobre nós.

No final da noite, deitada ao lado dela na cama, ouvi sua respiração tranquila, mas minha mente não conseguia relaxar. Eu sabia que as coisas não estavam resolvidas, sabia que ainda havia uma longa jornada pela frente até que pudéssemos estar completamente em paz. Sn não falava muito sobre suas inseguranças, mas o gelo emocional que ela às vezes me dava era a prova de que ainda havia muita coisa não dita entre nós.

Eu a observei dormir por alguns minutos, sentindo a urgência de protegê-la, não só dos rumores ou das pessoas, mas também dos medos e das dúvidas que estavam nos corroendo por dentro. Eu faria o que fosse necessário para que ela nunca mais se sentisse insegura ao meu lado. Não havia ninguém mais importante para mim, e eu precisaria provar isso, não só com palavras, mas com ações, dia após dia.

POV SN

Eu sabia que Gabi estava tentando. Ela era doce, atenciosa, e estava fazendo de tudo para me mostrar o quanto me amava. Mas, no fundo, uma parte de mim continuava travada naquela insegurança. Eu odiava me sentir assim. Odiava saber que as palavras e ações dela não eram o suficiente para calar aquela voz interna que me dizia que algo poderia dar errado, que ela poderia se cansar de mim, que eu poderia perder meu lugar em sua vida.

Enquanto eu fingia dormir, eu ouvia sua respiração ao meu lado, sentindo sua presença. Queria me sentir completamente segura de novo, mas, por mais que tentasse, ainda não estava lá. Talvez, com o tempo, eu pudesse superar esse medo, mas, por enquanto, tudo que eu podia fazer era esperar que as feridas cicatrizassem.

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⏰ Última atualização: Sep 21 ⏰

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