Capítulo 10: Entre o dever e o desejo

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*POV SN*

Eu sempre soube que trabalhar com atletas de alto nível exigia mais do que apenas conhecimento técnico. Era preciso empatia, paciência e uma habilidade quase intuitiva de entender o que eles sentiam, mesmo quando não diziam. Mas com a Gabi... as coisas estavam fugindo do controle. Não era só a tensão emocional típica da recuperação de uma lesão. Era algo mais. Algo que eu vinha tentando, a todo custo, manter à distância.

E hoje, pela primeira vez, eu senti que essa distância estava se desmanchando.

Desde o momento em que entrei na sala, o ambiente entre nós estava diferente. Gabi estava mais silenciosa, mais introspectiva, e, de alguma forma, eu sabia que hoje não seria uma sessão qualquer. Eu sabia que algo estava prestes a acontecer.

Durante os exercícios, as perguntas dela não foram só sobre o corpo, sobre os músculos ou o retorno às quadras. Foram perguntas sobre mudanças — profundas e pessoais. E cada uma delas atingia um lugar dentro de mim que eu não queria admitir.

“Você acha que vou voltar a ser a mesma de antes?” ela perguntou, com uma vulnerabilidade que me desarmou completamente.

Eu respondi com a verdade que eu sabia: que ela voltaria, mas talvez não exatamente como antes. E isso não era uma coisa ruim. Eu queria acreditar que estava apenas falando sobre o físico, sobre a atleta que ela era. Mas a verdade é que eu também estava falando sobre mim, sobre nós.

Ela insistiu, me pressionando gentilmente a responder perguntas que eu não tinha certeza de como lidar. E, então, as palavras que eu tanto temia ouvir escaparam de sua boca.

“Você também sente isso, né?”

Eu sabia que não poderia mais fugir da verdade. O fato é que sim, eu sentia. Cada vez que nossos olhares se cruzavam, cada vez que eu a ajudava com um movimento mais delicado, uma parte de mim se conectava com ela de uma forma que eu não deveria permitir. Mas admitir isso, especialmente para ela, era cruzar uma linha que eu não tinha certeza se conseguiria voltar.

Olhei para ela, buscando as palavras certas, tentando manter o controle. “Gabi... nós precisamos manter as coisas profissionais. Isso é... complicado.”

“Complicado por quê? Porque você é minha médica? Ou porque... você sente algo também?” Ela estava me desafiando, expondo tudo o que eu tentava esconder.

Foi aí que eu soube. Não havia mais como fingir que o que acontecia entre nós era puramente profissional. Eu estava envolvida. E isso... me aterrorizava.

Suspirei, desviando o olhar por um instante, buscando forças para dizer o que precisava ser dito. “Sim, eu sinto algo, mas não posso deixar isso atrapalhar sua recuperação. Você precisa de mim como sua médica, Gabi, e eu... eu não posso ser mais do que isso.”

A dor em seus olhos quando eu disse isso me atingiu em cheio. Parte de mim queria desfazer tudo, dizer que poderíamos, sim, encontrar uma forma de lidar com aquilo. Mas a outra parte — a parte mais racional — sabia que isso seria um erro. Um erro que poderia custar não apenas sua recuperação, mas também tudo o que tínhamos construído até ali.

O silêncio entre nós era quase insuportável. O olhar dela, cheio de perguntas, era difícil de suportar. Eu queria tanto dizer que sentia o mesmo, mas eu sabia o quanto isso poderia prejudicar seu progresso, sua carreira... sua vida.

“Eu não sei se consigo separar as coisas... Não quando estou tão perto de você,” ela disse, com uma honestidade que me quebrou por dentro.

Fechei os olhos por um segundo, tentando encontrar as palavras certas, algo que pudesse protegê-la e, ao mesmo tempo, colocar uma barreira entre nós.

“Gabi, isso não é justo com você. Eu quero o melhor para sua recuperação, e qualquer coisa além disso... só vai te confundir mais,” respondi, tentando me manter firme, mas sentindo minha voz vacilar.

Eu sabia que estava certa. Era o que qualquer profissional responsável diria. Mas a verdade era que, por trás dessa lógica, havia algo que eu não conseguia controlar. Algo que estava crescendo entre nós, dia após dia, e que eu não sabia mais como ignorar.

Conforme a sessão continuava, eu tentava retomar o controle, focar nos exercícios, no trabalho. Mas cada toque, cada vez que nossas mãos se encontravam, me lembrava da verdade que eu estava tentando afastar: eu não conseguia mais vê-la apenas como minha paciente. Eu estava envolvida demais. E isso me assustava.

Quando terminamos, eu sabia que o silêncio entre nós era mais do que apenas o fim da sessão. Era o reconhecimento de que as coisas estavam mudando, e que, por mais que tentássemos, não poderíamos mais voltar ao ponto de partida.

“Nos vemos amanhã, Gabi,” eu disse, antes de sair rapidamente da sala, tentando esconder o turbilhão de emoções que borbulhava dentro de mim.

Assim que saí, encostei-me na parede do corredor e fechei os olhos, sentindo a pressão do que acabara de acontecer. Eu sabia que não seria capaz de manter essa fachada por muito mais tempo. Mas, ao mesmo tempo, sabia que ceder a esses sentimentos poderia destruir tudo.

Ela precisava de mim focada, profissional. E eu... precisava encontrar uma maneira de manter o controle antes que tudo desmoronasse.

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Estou postando mais um capítulo pq estou gripada e talvez não poste amanhã 😭

Cᴏʀᴀçãᴏ ᴇᴍ ᴊᴏɢᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora