Capítulo 21: Raízes profundas

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POV SN

O silêncio do apartamento era reconfortante. Havia algo especial em estar ali com Gabi, sem a pressão das expectativas que costumávamos carregar. Apenas nós duas, no espaço que agora simbolizava a nossa jornada e, de certa forma, o nosso recomeço. Estar ali me fez perceber o quão longe chegamos, o quanto havíamos crescido desde os primeiros dias – cheios de incerteza, de medos e de barreiras que construímos ao redor de nós mesmas.

Eu a observava enquanto ela mexia na cozinha, preparando duas xícaras de chá. Era um gesto simples, mas, no contexto do que vivemos, aquilo representava muito. As coisas entre nós nunca foram fáceis. Estávamos constantemente navegando por águas turbulentas, tentando encontrar equilíbrio entre o profissional e o pessoal, entre a necessidade de cura e o medo de sermos expostas.

Gabi me lançou um sorriso enquanto colocava as xícaras na mesa. "Ainda gosta de chá de camomila, né?"

Assenti com a cabeça, sentindo um calor percorrer meu peito. "Sim, ainda é meu favorito. Me ajuda a relaxar."

Ela se sentou à minha frente, e por um momento ficamos apenas em silêncio, saboreando o chá. Não havia a necessidade de palavras, não naquele momento. Mas eu sabia que havia muito ainda a ser dito, muitas questões a serem resolvidas entre nós. O que tínhamos era forte, sim, mas não era à prova de falhas. Tínhamos consciência disso.

"Eu pensei muito nesses últimos dias," comecei, quebrando o silêncio. Eu sabia que precisava falar sobre o que estava sentindo, sobre o que ainda me assombrava. "Sobre nós, sobre o que passamos."

Gabi me olhou com atenção, mas seu rosto se manteve sereno. "E o que você concluiu?"

Respirei fundo antes de responder. "Concluí que, por mais que tenha sido difícil, cada passo que demos foi necessário. Eu me sinto mais forte agora, mais capaz de lidar com o que vier. Mas também percebi que preciso ser mais aberta com você. Não posso deixar meus medos me dominarem como antes."

Ela assentiu lentamente, seus olhos brilhando com compreensão. "Eu também cheguei a essa conclusão. Acho que ambos os lados da nossa história têm um peso, e é importante que a gente continue conversando, sendo honestas uma com a outra."

Eu a observava, e a clareza em suas palavras me trouxe uma paz que eu nem sabia que estava procurando. Era exatamente isso. Honestidade. Durante tanto tempo, deixei que o medo de perder o controle, de machucar ou ser machucada, dominasse minhas ações. Mas, ali, diante de Gabi, eu sabia que não podia mais me esconder.

"Eu te amo," falei, sem rodeios. "E sei que já disse isso antes, mas sinto que agora é diferente. Eu estou disposta a lutar por isso. Por nós. E isso inclui lidar com o que ainda não resolvemos."

Gabi sorriu, um sorriso que iluminou o rosto dela de uma maneira que fez meu coração acelerar. "Eu também te amo. E estou disposta a fazer o mesmo. Mas vamos com calma, certo? Sem pressa."

Eu ri suavemente, assentindo. "Com calma. Prometo."

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Mais tarde naquela noite, estávamos deitadas no sofá, a cabeça de Gabi repousando no meu colo. As luzes suaves do apartamento criavam um ambiente aconchegante, e enquanto eu acariciava seus cabelos, sentia uma sensação de paz que há muito tempo não experimentava. A conexão entre nós era palpável, e era reconfortante saber que, apesar de tudo, havíamos encontrado uma maneira de nos entender e continuar juntas.

"Você acha que as coisas sempre serão assim?" Gabi perguntou de repente, com a voz suave, quase como um sussurro.

Eu a olhei, confusa. "Assim como?"

"Tranquilas," ela esclareceu. "Como agora. Será que sempre conseguiremos encontrar essa paz, mesmo depois de todas as dificuldades?"

Fiquei em silêncio por um momento, ponderando sua pergunta. Era uma questão legítima, e eu não tinha todas as respostas. Mas sabia de uma coisa.

"Eu acho que teremos momentos de dificuldade," respondi, com honestidade. "Mas também acho que, se continuarmos conversando, se continuarmos sendo verdadeiras uma com a outra, sempre encontraremos o caminho de volta para essa paz."

Ela sorriu novamente, um sorriso tranquilo e satisfeito, e fechou os olhos. "Gosto de pensar assim. Faz tudo parecer mais possível."

O silêncio voltou a nos envolver, e enquanto Gabi descansava em meu colo, senti que, pela primeira vez em muito tempo, estávamos realmente no lugar certo. O futuro ainda era uma incógnita, mas o presente... o presente era nosso.

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POV GABI

Quando acordei na manhã seguinte, senti o calor de Sn ainda ao meu lado. O sol entrava pelas cortinas do quarto, iluminando suavemente a pele dela. Ela estava dormindo, e havia algo tão sereno em sua expressão que me fez sorrir. Cada pedacinho do meu ser se sentia em paz naquele momento, como se tudo o que passamos tivesse finalmente nos levado até aqui.

Levantei-me devagar, tentando não acordá-la, e caminhei até a varanda. O ar fresco da manhã me atingiu de imediato, e fiquei ali por alguns minutos, apenas observando a cidade abaixo. Não pude evitar pensar em como chegamos até aqui, em tudo o que enfrentamos.

Era estranho pensar que, há alguns meses, eu estava perdida, presa em um ciclo de medo e dor, sem saber como seguir em frente. Agora, eu tinha algo mais forte do que nunca. Sn e eu estávamos construindo algo sólido, algo que, apesar das dificuldades, conseguia sobreviver.

Eu sabia que ainda havia desafios à nossa frente. Sempre haveria. Mas, pela primeira vez, eu sentia que estava realmente pronta para enfrentá-los, e não sozinha. Estávamos juntas, e isso era tudo o que importava.

O som suave de passos atrás de mim me fez virar, e lá estava ela, com um sorriso sonolento no rosto. "Você acordou cedo."

Eu sorri de volta. "Só queria aproveitar o momento."

Ela se aproximou, envolveu-me em seus braços e repousou a cabeça no meu ombro. Ficamos assim, em silêncio, apenas sentindo a presença uma da outra.

Sim, as raízes que estávamos plantando eram profundas. E, dessa vez, eu sabia que poderiam crescer fortes.

Cᴏʀᴀçãᴏ ᴇᴍ ᴊᴏɢᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora