Capítulo 6: conexões silenciosas

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**POV GABI**

Há algo diferente no ar hoje. Não sei se é porque acordei com menos dor do que o normal, ou se é o fato de que, aos poucos, começo a sentir o controle voltar ao meu corpo. Cada dia na fisioterapia tem sido uma pequena vitória, mas o verdadeiro progresso continua a me escapar.

Estou sentada no mesmo banco de sempre, esperando minha próxima sessão. As horas aqui parecem se arrastar, e às vezes me pergunto se vou conseguir suportar mais um dia de reabilitação.

A porta se abre, e é claro, é a Dra. Sn. Não preciso olhar para saber, porque o ritmo dos meus batimentos cardíacos sempre muda quando ela entra na sala. Estranho, né? Não sei explicar o que é, mas a presença dela me traz uma sensação de calma — e algo mais que ainda estou tentando entender.

“Oi, Gabi. Pronta para mais uma sessão?” Ela pergunta, com aquele sorriso que sempre me faz querer tentar mais um pouco.

Eu dou um meio sorriso de volta. “Pronta, mas não prometo milagres,” brinco, tentando manter o clima leve.

Ela se senta ao meu lado, com a prancheta no colo, e me observa por um instante. Há algo nos olhos dela hoje, como se estivesse pensando em algo que não quer dizer em voz alta. Ou talvez eu esteja apenas projetando meus próprios pensamentos nela. Difícil dizer.

“Você está indo muito bem, sabia?” ela diz, de repente. “Sei que às vezes parece que as coisas não estão avançando como deveriam, mas você está mais perto do que imagina.”

Ouço essas palavras quase todos os dias, mas há algo diferente no jeito como ela diz hoje. Como se ela realmente quisesse que eu acreditasse, mais do que nunca.

Eu baixo o olhar para minhas mãos e suspiro. “Eu sei que estou melhorando, mas ainda me sinto tão... longe de quem eu era, sabe? Como se tivesse perdido parte de mim.”

Ela não responde de imediato, mas o silêncio dela me conforta. De alguma forma, saber que ela está ali, mesmo sem ter todas as respostas, é o que me faz continuar.

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**POV SN**

Olhar para Gabi enquanto ela se esforça para se recuperar é mais difícil do que eu esperava. Como médica, já vi muitos atletas lutarem contra seus corpos para voltar ao que eram, mas há algo em Gabi que me toca de uma maneira diferente.

Talvez seja a força silenciosa que ela tenta esconder de todos, ou a maneira como seus olhos revelam uma vulnerabilidade que ela raramente mostra. Eu vejo as pequenas vitórias que ela não enxerga, e cada dia me sinto mais envolvida no progresso dela, de uma maneira que vai além do meu papel de médica.

Hoje, ela está mais introspectiva. Algo nela mudou, talvez um cansaço mental que vem se acumulando. Ela está sentada no banco, tentando mascarar a frustração com uma piada leve. Mas eu percebo que, no fundo, ela está começando a se questionar.

“Você está indo muito bem, sabia?” digo, tentando trazer algum conforto. Sei que ela já ouviu isso várias vezes, mas, hoje, quero que ela acredite em cada palavra. Porque, para mim, isso é verdade.

Ela baixa os olhos, e vejo a dor em seu semblante, uma dor que não é só física. “Eu sei que estou melhorando, mas ainda me sinto tão... longe de quem eu era, sabe? Como se tivesse perdido parte de mim.”

Essas palavras me atingem. Sei que não posso curar tudo. Não posso restaurar o que ela sente ter perdido, mas posso estar aqui, ao lado dela, enquanto ela tenta se encontrar novamente.

Por um momento, penso em como seria se eu pudesse ajudá-la de outra forma, fora da clínica. E me dou conta de que Gabi está se tornando mais do que uma paciente para mim. Tento afastar esses pensamentos, lembrando-me do meu papel, mas eles voltam cada vez que nossos olhares se encontram.

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**POV GABI**

Ela me escuta em silêncio, sem me interromper, e isso é algo que eu aprecio nela. Sn nunca tenta me empurrar para além dos meus limites, seja físico ou emocional. E talvez seja isso que está me atraindo cada vez mais para perto dela.

Eu a olho por um segundo mais longo do que o necessário, e percebo algo diferente no ar. Há uma conexão que não precisa ser dita em voz alta. É algo que ambos sentimos, mas nenhuma de nós está pronta para admitir.

“Vamos começar a sessão?” ela finalmente diz, quebrando o silêncio, mas sem quebrar a tensão que paira no ar.

Eu apenas assinto, me levantando devagar. Ainda há um longo caminho pela frente, mas, por algum motivo, sinto que estou pronta para enfrentá-lo desde que ela esteja por perto.

Cᴏʀᴀçãᴏ ᴇᴍ ᴊᴏɢᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora