LEMBRANÇAS

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GEÓRGIA

A luz da tarde filtrava-se através das cortinas pesadas do quarto de Vincent, lançando padrões tênues no chão de madeira escura. Eu estava ali deitada na cama, com os olhos fechados, tentando afastar a sensação opressiva que parecia me prender o peito.

O eco das palavras dos pais de Vincent ainda ressoava em minha mente, um martelar cruel e constante.

“ Ela so lhe trará problemas.” A frase parecia uma acusação constante, como se estivesse tatuada em minha mente.

Infelizmente errados eles nao estavam, ate agora eu so havia trazido isso, para eles e Giovanni.

Me levantei abruptamente e me dirigiu ao banheiro, buscando um espaço onde pudesse se sentir um pouco mais isolada, mas também mais real.

A pequena janela do banheiro estava coberta por uma cortina de renda, e o ambiente, por mais íntimo que fosse, parecia apertado e sufocante.

Me encostei na pia e olhei para o espelho.

A reflexão parecia um fantasma cansado.

As olheiras profundas denunciando a noite mal dormida.

Meu olhar caiu sobre mim, e como o atormento, voltou a memória de alguns anos atrás.

"Lembrei do dinheiro guardado em um canto do armário do banheiro – o dinheiro que ela havia conseguido ajudando Giovanni."

Lembranças amargas começaram a emergir, trazendo consigo um misto de raiva e tristeza, que não me.deixavam.

Lembro

" que estava em uma tarde quente, segurando uma nota amassada com as mãos trêmulas. Havia ido buscar meus pais, depois de conseguir o dinheiro, com a ilusão de ter finalmente uma família.

Estava feliz por conseguir os encontrar, e ter aquilo que não tinha tido a 15 anos.

Mas fui enganada, eles nunca me quiseram, quando eu senti ter uma vida, levando em uma madrugada qualquer e vejo que nada do dinheiro que eu tinha estava ali, somente uma nota encima de uma mesa, e nem sinal de meus pais.

Eu tinha sido abandonada de novo!"

Me afastou do espelho, meu corpo tremendo

As palavras de minha mãe e a traição dela junto com a afirmação dos pais de  Vincent haviam se misturado com a amargura de minha própria solidão.

Sabia que era uma idiota por sonhar com uma vida diferente, mas não conseguia me libertar desse desejo, nem da dor.

Fiz errado em baixar minha guarda, a culpa não é dele, é minha por ter me permitido.

-Talvez eu devesse me acostumar- murmurou para si mesma. -Talvez a solidão seja tudo o que eu mereça.

Sentindo um impulso desesperado, me dirigi ao closet, onde escondia as drogas que usava para se anestesiar contra a realidade.

- eu preciso delas - digo andando em sua direção.

Mas antes que pudesse alcançar o closet e pegar minha bolsa onde mantia meu escap uma batida suave na porta me fez parar.

A voz de uma mulher, suave e tranquila, atravessou a porta fechada.

-Geórgia? Você está aí? - diz e não reconheço essa voz.

Confusa e ainda com o coração acelerado, me preparo para se precisar lutar contra alguém.

Abriu a porta lentamente.

À minha frente estava uma jovem de beleza etérea, com cabelos longos e pretos que caiam em ondas suaves e olhos azuis que tirariam o fôlego de qualquer um.

Ela sorriu de maneira calorosa.

- Oi, eu sou Cecília. Sou a irmã do Vincent.- disse e eu a olho confusa.

- oi - sussurro sem saber o que dizer.

- mamãe disse que estaria aqui provavelmente sozinha, já que meu irmão teve que ir para o galpão tomar banho, já que o trancou para fora do quarto.

Ela diz e fico com vergonha do que fiz.

- aah não fique envergonhada, eu praticamente adorei- diz entrando no quarto.

Olho sem entender.

ECecília continua, sua voz carregada de simpatia.

- Deixei meu marido de babá hoje com as crianças só para vir aqui e te conhecer melhor.- fala e sinto minhas bochechas ficarem vermelhas.

- Queria falar com você sobre o meu irmão. - diz e fico nervosa - ou melhor mal dele - ela sorri simpática e sorrio.

A surpresa e a confusão misturavam-se no meu rosto.

Cecília parecia genuinamente interessada, e o jeito com que falava, com tanto carinho e compreensão, era um bálsamo inesperado para a dor que eu sentia naquele momento com as lembranças que tive.

-Você não se importa de dar uma volta comigo? - Cecília sugeriu.

- nao - disse.

- otimo - diz dando palminhas - Eu adoraria te conhecer melhor e, quem sabe, ter uma conversa mais tranquila. - diz e aceno a cabeça-  Eu sei que você deve estar passando por um momento difícil. - diz e eu apenas concordo.

No início hesitei por um momento, mas a ideia de sair de casa e ter uma conversa amigável parecia quase irreal.

Mas também era um vislumbre de algo novo e talvez me reconforta-se.

Com um suspiro profundo,  finalmente assenti.

- Vamos então -  ela respondeu, sua voz ainda um pouco trêmula me indicando o closet  - de troque rapidinho e vamos, Preciso de um pouco de ar fresco - diz rindo - e acho que você também- fala carinhosamente.

E assim, com Cecília ao meu lado, depois de pronta dei um passo fora do quarto, um pequeno gesto que poderia ser o início de uma mudança inesperada em minha vida agora.

O HERDEIRO - 2° Geração ( HERDEIROS FONTANA) - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora