16. the shadow of Atlas

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O vento soprava suavemente, trazendo consigo o cheiro salgado do mar enquanto eu observava o horizonte. As ondas quebravam na areia, mas tudo que eu conseguia pensar era que talvez nunca mais veria meus pais. Um suspiro escapou de meus lábios antes que eu pudesse evitar. Era uma dor que tentava sufocar, mas sempre voltava, insuportável, quase insana.

- Tá com cara de cu assim por quê? - Revirei os olhos antes mesmo de virar o rosto. Eu conhecia aquela voz irritante. Atlas. Ele sempre aparecia nas piores horas, como se fosse parte do meu destino torturante nessa ilha.

- Você sabe que eu e os outros já avisamos sobre desafiar o Peter, né? - Ele continuou, a voz carregada com a mesma condescendência de sempre. - Mas parece que você insiste em se meter em problemas.

Soltei um riso seco, virando-me para ele, sem tentar esconder a irritação no meu olhar.

- Eu insisto? Talvez seja porque eu não tenho medo dele como vocês têm. - Respondi.

Atlas arqueou uma sobrancelha, um sorriso sarcástico brincando em seus lábios.

- Ah, claro. A grande Galadriel, destemida e sempre certa. É por isso que o Peter sempre te perdoa, não é? Ele deve adorar sua... determinação.

- Cala a boca, Atlas. - Eu retruquei, já farta dessa conversa, ele riu, mas havia algo cortante no som.

- Só estou dizendo. Você tem essa mania de se jogar na boca do lobo e depois se surpreender quando ele te devora. Sabe, no fim das contas, pode ser que você esteja mesmo destinada a acabar como todos os outros que desafiaram Peter. Mas, ei, não se preocupe. Eu vou estar aqui para assistir.

Dei de ombros, tentando não deixar que as palavras dele me atingissem, mas era difícil. Atlas sempre sabia onde acertar, sempre sabia como deixar a dúvida latejando na minha cabeça.

Minha paciência estava no limite, e a cada palavra que saía da boca de Atlas, eu sentia como se ele estivesse puxando o último fio que me restava. O sorriso dele, aquele sorriso cínico, me fazia querer gritar.

- Você fala como se estivesse acima de tudo isso, Atlas, - eu retruquei, cruzando os braços, minha voz carregada de amargura. - Mas no fundo, você é só mais um dos peões de Peter. Faz tudo o que ele manda, não é? É patético.

Ele ergueu as mãos como se eu tivesse acabado de lhe pagar um elogio.

- Ah, claro! Porque ser um peão e sobreviver é muito pior do que ser uma rebelde idiota que só sabe causar confusão. - Ele balançou a cabeça com um sorriso debochado. - Você realmente acha que vai fazer alguma diferença aqui? O Peter te manipula do mesmo jeito que manipula todo mundo. A diferença é que você ainda acha que tem uma escolha.

- Cala a boca,.- rosnei, já sem paciência. - Você não sabe nada sobre mim.

Atlas deu um passo à frente, e por um breve segundo, pensei que ele finalmente ia perder aquela compostura sarcástica. Mas, é claro, ele manteve o tom.

- Eu sei o suficiente. Sei que você está cansada de lutar contra algo que não pode vencer. Sei que você está afundando cada vez mais nessa ilusão de que pode mudar as coisas. E sei que, no fundo, você está apavorada com o fato de que está sozinha.

- Eu não preciso de você me dizendo como as coisas funcionam aqui! - Eu gritei, sentindo meu rosto esquentar de raiva. - Você acha que tem todas as respostas, mas tudo o que você faz é seguir o que Peter quer. No fundo, você é tão covarde quanto qualquer um.

Atlas soltou uma gargalhada curta, os olhos brilhando de sarcasmo.

- E aí está! A grande Galadriel, a corajosa, me chamando de covarde. Sabe, eu poderia até me ofender se não fosse tão engraçado. Você fala como se estivesse acima de tudo isso, mas você está presa aqui igual a todos nós. A única diferença é que você ainda acredita nessa sua fantasia de heroína.

Piratas em Neverland - Peter Pan Onde histórias criam vida. Descubra agora