18. enemies

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Noah assumiu a responsabilidade de cuidar de mim, algo que ele fazia com um cuidado quase meticuloso. Ele sempre foi assim, com um toque suave e gestos precisos enquanto tratava meus ferimentos, mas havia um tom de frustração constante em sua voz. Cada vez que nossas conversas começavam, ele aproveitava a oportunidade para me repreender.

- Você é louca por ter desafiado o Atlas, - ele repetia, como se isso fosse fazer alguma diferença agora. Eu sabia que ele tinha razão. Desafiar Atlas foi um ato impulsivo, mas a última coisa que eu precisava era ouvir isso repetidamente.

- Eu sei, Noah. Já ouvi mil vezes, - retruquei, tentando desviar o olhar enquanto ele trocava as bandagens nos meus braços machucados.

- É sério, Galadriel. Você não entende no que se meteu. Atlas não é alguém que você pode simplesmente enfrentar assim, e Peter... Peter não vai te proteger para sempre. - Ele suspirou, mas continuou.

Sua voz soava cansada, como se estivesse repetindo isso há dias e provavelmente estava. Mas o olhar nos olhos de Noah era mais do que preocupação; ele realmente se importava, mesmo que demonstrasse isso com dureza. Cada curativo que ele aplicava, cada suspiro exasperado, deixava claro que ele se importava com o que acontecia comigo, mesmo que ele não concordasse com as minhas escolhas.

- Eu estou cansada de ficar quieta e seguir as regras deles, - murmurei, sentindo a frustração crescer dentro de mim novamente. ,-Não dá mais pra viver assim, Noah.

Ele se ajoelhou ao meu lado, seus olhos fixos nos meus, e balançou a cabeça lentamente. 

- Você não tem escolha, Galadriel. Não enquanto Peter estiver no controle. Você tem que pensar melhor nas suas decisões antes de acabar machucada de novo. Atlas quase te matou, e você sabe disso.

A verdade das palavras dele pesava em mim, mas não podia deixar de sentir que havia mais em jogo do que apenas minha segurança. Eu estava cansada de ser controlada por Peter, Atlas, e todos os outros.

Eu queria mais do que aquela vida de submissão e medo constante, mas Noah era sempre o lembrete de que, para sobreviver naquele lugar, eu teria que ceder, mesmo que a custo da minha própria liberdade.

Os dias seguintes foram longos e lentos, cada um mais exaustivo do que o anterior. Noah sempre estava lá, ajudando-me a me levantar, mesmo quando eu teimava em dizer que podia fazer isso sozinha. Ele me observava com aquele olhar preocupado, mas firme, sabendo que, se me deixasse, eu provavelmente faria alguma loucura outra vez.

Toda manhã, ele me guiava até a árvore de pensar um lugar afastado onde eu costumava ir para tentar clarear a mente. Era um velho carvalho, seus galhos grossos formando uma sombra confortável, um refúgio da pressão constante de Peter, Atlas, e de todo aquele inferno. Ali, sentada, eu podia respirar sem a sensação de sufocamento, pelo menos por alguns minutos.

Noah sempre ficava por perto, um guardião silencioso, esperando pacientemente enquanto eu ficava perdida nos meus pensamentos. Às vezes, ele sentava ao meu lado, outras vezes, permanecia de pé a alguns metros de distância, observando, mas nunca muito longe.

- Nunca pensei que te veria tão quieta, - ele comentava, quebrando o silêncio quando achava que eu já tinha ficado tempo demais perdida em minha própria cabeça.

- Não é como se eu tivesse escolha agora, né? - Eu respondia com uma risada amarga, olhando para o céu através dos galhos, como se pudesse encontrar algum tipo de resposta ali.

Noah suspirava, e eu sabia que ele queria dizer algo, mas sempre se continha. Talvez por achar que eu já estava lidando com coisas demais, ou talvez por saber que suas palavras não mudariam minha teimosia. Ele me conhecia bem o suficiente para entender que, uma vez que eu decidia algo, dificilmente voltava atrás. Mas, mesmo assim, ele tentava me manter estável, de alguma forma.

Piratas em Neverland - Peter Pan Onde histórias criam vida. Descubra agora