Piratas em Neverland - Peter Pan

30. Between Two Worlds

Já se passaram três dias desde que Regina lançou o feitiço de memória, e a cada vez que Emma me perguntava se eu lembrava de algo, eu dizia que não tudo. Era a mesma resposta, repetida como um reflexo. Mas, honestamente, comecei a questionar tudo isso. Não parecia que eu precisava me lembrar de nada. Era estranho enquanto todos estavam tão preocupados com minhas memórias perdidas, eu sentia que nada estava faltando.

Às vezes, me perguntava se não estavam mentindo para mim. Talvez houvesse algo que não queriam que eu soubesse, algo que estavam tentando esconder. Emma insistia tanto, o que me fazia desconfiar ainda mais. Atlas e Josh sempre saíam à noite, dizendo que estavam patrulhando o perímetro, mas eu nunca era convidada a ir junto. Havia segredos pairando no ar, e eu os sentia, mas não sabia ao certo de onde vinham.

Enquanto isso, Avril, Henry, o Encantado e Margareth estavam focados em encontrar uma saída da Terra do Nunca. Eu sabia que eles estavam tentando evitar chamar a atenção de Peter. Qualquer movimento errado poderia nos colocar em perigo, e o medo deles era palpável. Peter estava sempre vigiando, sempre atento, e não podíamos nos dar ao luxo de cometer erros.

O colar que Peter me deu estava brilhando de novo. Eu sabia o que isso significava: ele estava à minha procura. A cada vez que aquela luz intensa surgia, era como se ele me chamasse, me puxando de volta para ele.

Eu costumava olhar para o céu da ilha nesses momentos, tentando encontrar uma resposta nas estrelas. Algo dentro de mim me dizia que eu deveria ir até ele, que o meu lugar era ao seu lado. Era uma sensação estranha, como se uma parte de mim quisesse se render a essa chamada, se perder completamente no mundo que ele criara para mim.

Mas, ao mesmo tempo, havia outra força me puxando na direção oposta. A caverna onde eu estava com Avril, Henry e os outros... havia algo naquele lugar, naquela companhia, que me fazia hesitar. Eu não os conhecia tão bem, e, ainda assim, havia uma conexão, um desejo silencioso de ficar.

Como se, de alguma forma, eu também pertencesse ali, com eles. Aqueles estranhos agora tinham se tornado uma parte do meu mundo, e esse vínculo, mesmo sendo novo e frágil, me aprisionava de uma forma que eu não conseguia explicar.

Eu estava dividida. Parte de mim ansiava por Peter, pela familiaridade do que eu já conhecia. Mas outra parte... outra parte queria resistir, queria descobrir o que havia por trás dos olhares preocupados daqueles ao meu redor, queria entender por que ficar parecia, de algum modo, a escolha certa. Mesmo que eu soubesse que, mais cedo ou mais tarde, Peter viria atrás de mim.

A voz voltou a ecoar na minha mente, firme e inabalável, como se estivesse impregnada nas paredes da caverna.

"Por que você precisa parar de fazer isso, Galadriel. A vida não é sobre seus sentimentos. Aqui, precisamos de foco e força. Então, pare de se deixar levar por tudo isso e lute."

Eu fechei os olhos, tentando afastar a pressão crescente. Cada palavra parecia uma faca afiada, cortando através da minha confusão. A voz falava como se me conhecesse, como se soubesse exatamente o que eu estava sentindo e estivesse determinada a me fazer resistir. Mas resistir a quê? Ao colar? A Peter? Aos meus próprios medos?

Suspirei profundamente, tentando encontrar alguma paz no meio do caos que estava se formando dentro de mim. Quem era essa voz? E por que ela sempre aparecia no momento em que eu mais precisava de respostas?

- Quem é você? - murmurei, minha voz quase um sussurro, esperando uma resposta, qualquer sinal de que a presença desconhecida voltaria.

Mas tudo o que veio foi o silêncio.

Mark se aproximou e, com um sorriso malicioso no rosto, estendeu uma pequena coxa de algum animal que ele provavelmente havia caçado.

- Quer uma? - Ele disse casualmente, balançando o pedaço de carne na minha direção. Eu aceitei, mordendo devagar, mas minha mente estava distante. A pergunta que não saía da minha cabeça escapou de meus lábios mais uma vez, quase sem pensar.