Piratas em Neverland - Peter Pan

36. paranoid

As ruas de Storybrooke estavam cobertas por uma fina neblina que parecia amplificar a quietude da noite, deixando o ar carregado de algo que eu não conseguia identificar. Cada passo que eu dava em direção à casa de Regina me trazia um pouco de alívio, como se estivesse mais próxima de encontrar uma resposta, ou talvez apenas algum consolo. Desde que havíamos saído de Neverland, Josh vinha agindo de forma estranha, e mesmo que todos ao nosso redor parecessem pensar que ele estava normal, eu sabia que algo estava errado. Eu sentia isso.

Bati na porta da casa, e Regina não demorou a abrir. Seus olhos me examinaram com um olhar curioso antes de esboçar um sorriso compreensivo.

- Galadriel, entre, - disse, com sua voz baixa e acolhedora. - Está tarde, mas venha, vamos conversar.

Entrando, fui recebida pelo calor e pelos aromas familiares de ervas e velas, que contrastavam com a frieza que parecia se instalar em mim desde o início das minhas dúvidas. Enquanto eu me acomodava em uma das poltronas, Regina se sentou à minha frente, aguardando pacientemente que eu falasse.

- É sobre Josh, - comecei, hesitante, mas sabendo que precisava dizer aquilo em voz alta. - Ele… está diferente, Regina. Como se ele fosse outra pessoa.

Ela ergueu uma sobrancelha, mas seu sorriso era leve, quase cético.

- Galadriel, - começou, com um tom de quem tentava ser razoável, - às vezes, depois de tanta correria, é normal que a gente se acostume a um tipo de rotina. Talvez você só esteja estranhando como ele lida com essa calmaria, com esse retorno à normalidade. - Ela deu de ombros. - Parece que todos os perdidos estão tentando se reajustar.

Eu inspirei fundo, tentando conter a frustração.

- Eu entendo, Regina, mas… não é apenas isso. Não estou estranhando o comportamento dele por algo bobo. - Minhas palavras saíram com um toque de urgência que ela não podia ignorar. - Josh era reservado, eu sei, mas ele nunca foi… tão frio. Nunca olhava para mim do jeito que olha agora. E ele não esquece certas coisas, detalhes que só ele saberia.

Regina me observou em silêncio, seu rosto assumindo uma expressão mais séria enquanto pesava o que eu estava dizendo. Por fim, suspirou, como quem decide ceder.

- Muito bem, Galadriel. Vou te contar algo, mas quero que saiba que é apenas uma lenda. - Ela fez uma pausa, e sua voz parecia mais sombria ao continuar. - Há uma antiga magia, rara e perigosa, capaz de corromper a essência de uma pessoa… ou até mesmo trocar almas.

Aquelas palavras fizeram meu estômago revirar.

- Você está dizendo que alguém pode ter trocado de corpo com o Josh? - perguntei, minha voz mal passando de um sussurro.

- Eu não disse que é o que aconteceu, - respondeu Regina, mas seu tom cuidadoso me fez sentir que ela também considerava a possibilidade. - Essas histórias são tão antigas que muitos duvidam da veracidade delas.

- Mas dizem que essa magia é sutil. O 'corrompido' consegue imitar memórias e ações, mas pequenos detalhes sempre escapam. Se o que você diz é verdade, talvez… só talvez… ele não seja mais o Josh que você conheceu. -  Aquelas palavras penetraram fundo.

A ideia era tão absurda, mas fazia um sentido que eu não conseguia ignorar. Minha mente fervilhava.

- E se… e se Peter tiver trocado de corpo com ele? - O sussurro escapou dos meus lábios, foi a primeira hipótese.

- Peter? Galadriel, ele está preso, você mesma sabe disso. - Regina me olhou com surpresa, franzindo a testa.

- Eu sei, Regina, mas ele… ele anda muito quieto na prisão também. É como se ele não fosse ele. Como se alguém tivesse tirado o que restava do verdadeiro Peter. - Balancei a cabeça, uma inquietação crescendo dentro de mim.