Piratas em Neverland - Peter Pan

28. Hidden Truths

Eu não conseguia confiar completamente no Peter, não importa o quanto tentasse. Algo dentro de mim me dizia que era errado, como se uma sombra estivesse sempre entre nós, obscurecendo o que eu via nele. Por mais que houvesse momentos em que parecia que estávamos bem, a dúvida me corroía. Talvez fosse o modo como ele controlava tudo ao redor, como se tudo e todos estivessem sob o comando dele, inclusive eu. Isso me deixava inquieta.

E então havia o Atlas. Ele... ele era diferente dos outros. Sempre mantinha uma certa distância, mas eu podia sentir que ele se importava de verdade, mais do que os outros garotos. Quando nossos olhares se cruzavam, parecia que ele queria me dizer algo, que estava preocupado comigo. E eu, por algum motivo que eu mesma não entendia, sentia vontade de me aproximar, de falar com ele. Mas toda vez que eu tomava coragem para tentar, Peter aparecia, como se soubesse o que eu estava pensando. Era sufocante, essa sensação de estar sempre sob os olhos de alguém que eu não conseguia desvendar completamente.

Eu não sei o que Atlas pensa sobre tudo isso. Ele é quieto, reservado, mas a forma como ele me observa me faz acreditar que talvez ele tenha as mesmas dúvidas que eu. Queria confiar nele, mas o medo de Peter descobrir me travava. A presença dele era constante, e eu não sabia o que ele seria capaz de fazer se percebesse qualquer hesitação da minha parte.

Eu queria ir até as gaiolas de novo. Ver o Atlas. Talvez falar com ele, entender o que estava se passando na cabeça dele. Desde o momento em que comecei a desconfiar de Peter, ele foi a única pessoa que parecia... real, diferente dos outros. Ele não seguia Peter cegamente, e eu precisava daquela sensação de alguém que não estava completamente sob o controle dele.

Mas o medo me paralisava. E se Peter descobrisse? Ele sempre estava por perto, observando. Eu sabia que ele notava cada mínimo movimento meu, como se pudesse ler meus pensamentos. A simples ideia de ele me encontrar indo até as gaiolas me fazia gelar. Peter era imprevisível. E eu já tinha visto do que ele era capaz quando se sentia traído.

Ainda assim, algo dentro de mim gritava para ir, para arriscar. O olhar de Atlas não saía da minha cabeça, a preocupação nos olhos dele era como um farol em meio à escuridão que eu vivia. Eu precisava saber se ele estava bem, se havia algo que ele sabia e eu não. Talvez ele pudesse me ajudar a entender o que estava acontecendo aqui. Mas o medo... o medo me segurava, e eu odiava isso.

Peter é meu namorado, repeti para mim mesma pela milésima vez. Se é isso, por que estou tão desconfiada dele? Não faz sentido... ou faz? Eu não conseguia entender o que estava me bloqueando, por que a ideia de confiar nele parecia tão errada, tão difícil. O sorriso dele, o jeito como ele parecia se importar comigo, será que era tudo uma ilusão? E se for, o que eu faço? Esse pensamento me sufocava, mas eu não conseguia afastá-lo.

De repente, ouvi passos. Levantei a cabeça e vi Scott se aproximando, com aquele jeito descompromissado de sempre.

- Galadriel, já terminou de treinar os garotos? - Ele perguntou, a voz despreocupada, mas seus olhos me analisando como sempre faziam.

Eu assenti, tentando afastar a confusão na minha mente.

- Sim, já terminei. - Respondi sorrindo.

Scott deu um leve aceno com a cabeça, parecendo satisfeito com a resposta.

- Peter está sumido a manhã toda, - ele comentou casualmente. - Alguém tem que cuidar dos garotos, e parece que essa alguém é você.

Claro, pensei. Peter desaparece e eu fico com a responsabilidade de tudo. Engoli o desconforto que isso me trouxe, forçando um sorriso.

- Entendi. Vou cuidar disso. - Mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim se perguntava onde exatamente Peter estava. E por que, sempre que ele sumia

Enquanto eu e Scott caminhávamos pelo acampamento, o silêncio entre nós era preenchido pelos sons dos outros garotos treinando e pela brisa que balançava as árvores ao redor. Meu olhar seguia distraído, mas minha mente continuava presa na mesma teia de dúvidas que Peter tinha tecido ao meu redor.