26. a possible end

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Depois de voltarmos para a cabana após o passeio, a sensação de desconforto me dominou assim que acordei no dia seguinte. Algo estava errado, mas eu não conseguia identificar o quê. Sentada no chão da caverna, olhei em volta. Todos ainda dormiam profundamente, exceto... Avril.

Ela não estava lá.

Levantei-me de imediato, o coração batendo forte no peito. Vasculhei cada canto com os olhos, na esperança de que ela estivesse apenas fora do meu campo de visão. "Avril?" Chamei seu nome, mas não obtive resposta.

O vazio na caverna me deixou inquieta. Saí apressada, o ar fresco da manhã envolvendo meu corpo. O mundo lá fora estava quieto, mas ela não estava à vista. Olhei em todas as direções, desesperada para encontrar algum sinal, e foi então que notei.

Uma silhueta.

Distante, quase indistinta contra o horizonte, mas parada, me observando. Meus olhos se fixaram nela, e como se percebesse que eu a tinha notado, a figura se virou e começou a correr.

- Espera! - gritei, meu corpo se movendo por instinto, correndo atrás da silhueta misteriosa.

O som dos meus pés batendo contra o chão ressoava na minha mente, enquanto o medo e a curiosidade me impulsionavam a continuar.

Corri pela floresta como se minha vida dependesse disso, os olhos fixos na silhueta que se afastava cada vez mais. O chão irregular sob meus pés dificultava a corrida, com raízes e pedras surgindo do nada para tentar me fazer tropeçar. O ar gelado entrava com dificuldade em meus pulmões, queimando minha garganta a cada respiração forçada, mas eu continuei.

Galhos secos se estendiam como garras, arranhando meu rosto e braços enquanto eu forçava meu corpo a passar entre as árvores. O som dos galhos quebrando e o farfalhar das folhas ecoavam ao meu redor, mas nada disso me importava. Tudo o que eu via, tudo o que eu sentia, era a necessidade de alcançar aquela silhueta misteriosa. Os arranhões ardiam, e eu podia sentir o sangue quente escorrer em pequenos filetes pela minha pele, mas a dor se misturava à adrenalina, tornando-se insignificante.

- Espera! - Gritei, minha voz rouca, mas a figura apenas continuou, seus movimentos rápidos e calculados, como se estivesse brincando comigo, sabendo que eu a seguiria até o fim.

A cada passo, a floresta parecia se fechar mais ao meu redor. As árvores eram altas e densas, suas sombras escuras se movendo conforme eu corria por entre elas. Meus pés afundavam na terra molhada em alguns pontos, quase me fazendo perder o equilíbrio, mas eu me recuperei, forçando meu corpo a continuar, ignorando o cansaço que começava a se espalhar pelas minhas pernas.

O vento frio cortava meu rosto, misturando-se ao suor que pingava de minha testa. Havia uma urgência em mim, algo mais profundo que a simples curiosidade era como se eu soubesse, no fundo, que precisava descobrir quem era aquela figura. Algo dentro de mim gritava que essa perseguição significava mais do que parecia.

Mas a cada segundo, ela se distanciava mais, e eu precisava correr mais rápido. O medo de perdê-la crescia em meu peito, fazendo meu coração martelar com mais força. Eu podia sentir o desespero crescendo, mas também uma determinação feroz. Eu não podia parar. Eu não ia desistir.

Quando finalmente alcancei a clareira, ofegante e com o corpo exausto, o cenário que se revelou à minha frente me fez parar bruscamente. Ali, no meio da escuridão da floresta, Avril estava amarrada a um tronco, seus olhos arregalados de pânico, a boca coberta por uma mordaça. Meu coração deu um salto, e minha mente foi imediatamente inundada por perguntas.

O que mais me paralisou, porém, foi a figura ao lado dela.

Peter.

Ele estava lá, observando a situação como se fosse a coisa mais natural do mundo, uma expressão quase tranquila no rosto. Minhas mãos tremiam, e meu olhar se fixou nele, confusa e indignada. Algo estava muito, muito errado.

Piratas em Neverland - Peter Pan Onde histórias criam vida. Descubra agora