Capítulo 16

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Meu coração disparava quando a carruagem começou a desacelerar, meus olhos presos na paisagem familiar da vila que um dia chamei de lar. Os telhados baixos, as ruas de terra batida, e o cheiro de lenha queimando no ar traziam de volta lembranças que eu preferia esquecer. Mesmo a carruagem sendo simples, era uma atração incomum naquela pequena vila. As pessoas se aglomeravam ao lado da estrada, curiosas e surpresas. Respirei fundo, sentindo o nervosismo ameaçar me dominar, mas levantei o queixo e estufei o peito. Eu não era mais a garota que partira dali. Agora, eu era uma mulher forte e determinada.

Com um gesto firme, ordenei ao cocheiro que parasse. O silêncio caiu sobre a multidão, como se o mundo tivesse prendido a respiração. Desci da carruagem, a capa esvoaçando ao meu redor, sentindo os olhares pesarem sobre mim. O caos no olhar das pessoas foi instantâneo. Primeiro, o espanto por ser uma mulher a emergir de um veículo tão imponente. Depois, a incredulidade ao perceberem quem eu era. Os murmúrios começaram, venenosos e rápidos.

"É a Isabelle? Não pode ser."

"Ela sumiu e agora volta assim?"

"Deve ter arrumado um barão rico. Sabia que ela ia virar uma prostituta."

Cada palavra era como uma lâmina atravessando minha pele. Mas não devia nada a eles. Mantive minha postura ereta, ignorando os sussurros venenosos, e comecei a caminhar em direção à forja. Antes que eu pudesse avançar muito, senti uma mão rude agarrar meu braço, me forçando a parar. Olhei para o lado e vi uma mulher da vila, o rosto amargo e os lábios finos.

— É você mesmo, Isabelle?—  Sua voz era cheia de desprezo. — Sempre soube que você acabaria assim, vendendo seu corpo para algum homem rico.

Meu sangue ferveu, mas me controlei.
— Você não sabe o que diz e eu não tenho a obrigação de te dar satisfação.

Ela apertou meu braço com mais força, a raiva distorcendo suas feições. — Você é uma vadia de luxo, é o que é. Todos sabíamos que esse era o seu destino.

Soltei meu braço com um puxão rápido, me libertando do aperto dela. — Você não passa de uma sombra amargurada. O que sente é inveja por eu ter saído daqui…

Sua mão permaneceu suspensa no ar, e sem olhar para trás, continuei meu caminho em direção à forja. Mas, assim que me aproximei, meu mundo desabou. A visão diante de mim era um pesadelo. A forja estava completamente destruída. As paredes de pedra, que antes eram sólidas, estavam cobertas de fuligem, desmoronando em pedaços. O telhado havia sido consumido pelas chamas, e o cheiro de aço queimado preenchia o ar. Parei, incapaz de me mover, o choque me paralisando. Meus olhos arderam, e lágrimas começaram a escorrer silenciosamente pelo meu rosto. Caminhei lentamente até os escombros, cada passo mais doloroso que o anterior. Tudo o que eu havia construído... estava em cinzas.

A raiva começou a crescer dentro de mim, queimando meu peito. Meus punhos tremiam, e o choro se transformou em uma fúria incontrolável. Me virei para a multidão que havia se formado ao redor. — Quem fez isso?—  Gritei, a voz forte e carregada de desespero. — Quem queimou minha forja?

Um riso frio ecoou pelo ar. Da multidão, Damien apareceu, seus olhos verdes brilhando com desprezo e maldade. Ele não estava sozinho; outros cavaleiros o acompanhavam, como sombras. Seu sorriso cruel crescia à medida que ele se aproximava de mim.

— Fui eu, Isabelle. — ele declarou, alto o suficiente para que todos ouvissem. — A guarda real não perdoa traidores. E você é uma traidora.

Meu corpo inteiro tremeu de ódio e dor. — Seu desgraçado!—  Minha voz falhou, a fúria tomando conta de mim. — Se divertiu tentando arrancar minha adaga da sua perna depois de tentar me violentar?

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