Prólogo

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A noite caía pesada sobre o vilarejo, e as sombras das árvores dançavam como espectros sob a luz trêmula da lua. O coração do medo pulsava em minhas veias enquanto eu me escondia, meus dedos trêmulos agarrados à borda do armário de madeira onde meus pais me colocaram. Meus olhos grandes e assustados estavam fixos na porta entreaberta da sala de estar, e do outro lado, eu podia ouvir as vozes ásperas e ríspidas que pareciam preencher todo o espaço. Cada palavra era como um veneno, impregnada de violência e ódio.

De repente, ouvi o som da madeira sendo arrastada pelo chão, e o grito que veio em seguida me atingiu como uma adaga. Era o grito da minha mãe. Meu coração disparou, batendo tão forte que eu mal conseguia respirar. Queria correr, queria gritar, mas o medo me mantinha congelada no lugar. Lágrimas silenciosas corriam pelo meu rosto, mas eu me obrigava a manter os olhos abertos, a não desviar o olhar do que estava prestes a acontecer.

Eles entraram na sala como predadores, suas mãos sujas e manchadas de sangue segurando armas enferrujadas, mas ainda assim, mortais. Meu pai, o homem que sempre me protegeu, estava de joelhos, tentando desesperadamente negociar, oferecer qualquer coisa para salvar nossa família. Mas suas palavras foram cortadas por um golpe brutal. Eu vi o corpo dele cair no chão, sem vida, e mordi o lábio com tanta força que senti o gosto de sangue, lutando para conter o grito que ameaçava escapar da minha garganta.

Então foi a vez da minha mãe. O medo nos olhos dela era quase insuportável para mim, mas, ao contrário de meu pai, ela não implorou. Ela apenas olhou para o armário onde eu estava escondida, e naquele instante, seus olhos encontraram os meus. Havia tanta tristeza ali, uma tristeza infinita, antes que o golpe final caísse sobre ela. Eu vi o corpo dela desabar, e fiquei ali, impotente, enquanto os assassinos saqueavam nossa casa, rindo e levando tudo o que podiam carregar.

Quando eles finalmente saíram, deixando apenas o silêncio mortal para trás, eu saí lentamente do meu esconderijo. Cada passo até os corpos dos meus pais parecia pesar toneladas. Quando cheguei perto deles, me ajoelhei no chão frio. Meu mundo havia acabado naquela noite. Senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, misturando-se ao sangue deles no chão, e fiz uma promessa a mim mesma. Nunca mais sentiria medo. Mas, por mais que eu tentasse ser forte, a imagem de meus pais mortos sempre estaria lá, assombrando-me, um lembrete constante do terror daquela noite.

♤♤♤

O calor da forja preenchia o pequeno espaço da minha oficina, fazendo as paredes de pedra parecerem vibrar com uma energia quase viva. O cheiro de metal quente e carvão queimado pairava no ar, denso e familiar. À minha volta, espadas de diferentes tamanhos e formatos estavam penduradas como troféus de uma guerra invisível. Suas lâminas reluziam sob a luz da forja, afiadas, prontas para a batalha. No outro lado da sala, arcos finamente esculpidos e flechas com pontas mortais esperavam para serem usados. Tudo aqui tinha uma aura de perigo, como se a própria oficina fosse um campo de batalha à espera de um confronto.

No centro dessa caverna de aço e fogo, eu trabalhava incansavelmente. Curvada sobre a forja, sentia o brilho quente das chamas banhando minha pele. Meus cabelos, tão vermelhos quanto o próprio fogo, estavam presos de forma descuidada, com mechas soltas caindo sobre meu rosto, agora manchado de fuligem. A juventude ainda brilhava nos meus traços, mas meus olhos, que um dia foram cheios de inocência, agora carregavam um peso que desmentia minha idade. A garota que viu seus pais morrerem havia crescido, transformada pelo tempo e pela dor em uma mulher de habilidades raras e perigosas.

Levantei a cabeça por um momento, olhando para a lâmina em que estava trabalhando. Havia uma beleza fria no metal que eu moldava, uma extensão da minha própria alma, endurecida e afiada. Meus dedos, fortes e ágeis, acariciaram a superfície lisa da espada, como se eu procurasse conforto no trabalho que se tornara minha única constante. Mas ao olhar para minhas mãos sujas, para minhas roupas manchadas e gastas, uma sensação de deslocamento me invadiu. Mesmo aqui, no meu elemento, eu me sentia como uma estrangeira.

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