Capítulo 18

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O peso das palavras de Lucien pressionava meu peito como uma pedra, me sufocando de dentro para fora. Diante de mim estava o maior impasse da minha vida: a realização do sonho que carregava desde menina, uma forja e uma propriedade na capital, contrastando com o medo de perder aquele que havia sacrificado tanto por mim. Eu olhava para o envelope em minhas mãos, meus dedos tremendo levemente, e depois para Lucien, que me segurava com firmeza, suas mãos grandes e quentes envolvendo meu rosto com uma delicadeza quase contraditória ao homem poderoso que ele era.

Eu conseguia ver a luta interna em seus olhos — tristeza e determinação dançavam em sua expressão, como se ele mesmo estivesse tentando se convencer da decisão que havia tomado. As emoções dentro de mim eram um turbilhão. Eu precisava entender. Precisava ouvir dele o motivo real. Engoli em seco e, com a voz embargada, perguntei:

— Por que está me mandando embora, Lucien? — Minha voz saiu quebrada pela angústia. — Foi isso? Você se cansou de mim? Percebeu que não me ama?

Antes que eu pudesse terminar a frase, ele me interrompeu. Sua voz soou como um trovão, carregada de uma emoção profunda que eu nunca tinha ouvido antes.

— Não ouse pensar assim. — Seus olhos se fixaram nos meus, repletos de dor. — Eu te amo, Isabelle. Eu sou seu, com toda a escuridão que carrego dentro de mim. Só de pensar em te ver partir, eu me despedaço. O que sobra de mim é apenas uma tristeza sombria e inescapável... Mas eu não posso te prender a isso. Você é livre, e eu... eu sou um monstro. Não posso te condenar a viver nessa prisão comigo.

As palavras dele não faziam sentido. A raiva e a frustração subiram como uma onda, e eu balancei a cabeça, tentando afastar o desespero que ameaçava me engolir.

— Não! Isso é absurdo! Eu já disse que aceito quem você é! Eu não tenho medo de você, Lucien. Eu sou sua, como você é meu. Por que insiste em me afastar?

Ele se manteve firme, mesmo que seus olhos carregassem uma tristeza que me fez sentir um nó no estômago.

— Você não merece desistir dos seus sonhos, Isabelle, para viver com alguém como eu. — Ele falou com uma voz baixa, mas firme. — Você não nasceu para ficar presa neste palacete, longe de tudo o que pode realizar seus desejos mais profundos. A capital, seus sonhos... tudo isso está esperando por você. Eu não posso ser a corrente que te prende aqui.

Aquelas palavras me devastaram. O desespero tomou conta de mim, e eu explodi.

— A capital não pode me dar tudo, Lucien, porque você não estará lá! — As lágrimas brotaram antes que eu pudesse detê-las. — Eu te quero. Mais do que qualquer sonho, mais do que qualquer forja.

Ele me olhou em silêncio, e então, com um movimento lento, aproximou-se de mim novamente. Suas mãos ainda seguravam meu rosto, firmes, mas agora seus dedos acariciavam minha pele de forma suave.

— Eu sei que seu coração está pesado agora... — Ele murmurou, sua voz rouca preenchida de carinho. — Eu vejo sua dor por ver sua amiga partir. Mas, Isabelle, eu quero que você seja feliz. Quero que você viva em liberdade. Vá para a capital, com Léa. Mostre a todos quem você é. Eu não posso fazer parte desse sonho, mas isso não significa que eu não te amo.

Minhas pernas fraquejaram, e, antes que eu desabasse, Lucien me segurou em seus braços, como sempre fazia. No abraço dele, senti a força de seu amor, e, ao mesmo tempo, a dor da despedida. Sabia que ele estava certo , sempre sonhei com a capital, com minha própria forja, com a liberdade de criar. Mas a ideia de deixar Lucien, de me afastar daquele que amo, era insuportável.

Levei uma das mãos ao rosto dele, acariciando-o com delicadeza. Ele pegou minha mão e a beijou, suavemente. Em silêncio, ele me guiou até o sofá no canto da sala, sentando-se comigo em seu colo, os braços fortes me envolvendo como uma proteção contra o mundo.

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