Capítulo 6

9 2 0
                                    

Eu fui deixada no salão do palacete, meu corpo tremendo enquanto meus pés descalços tocavam o chão frio. O homem que me salvara — o mesmo que eu temia — me colocou suavemente no chão, mas o calor dos seus braços fortes e ensanguentados ainda parecia envolver-me. Sem dizer uma única palavra, ele se afastou, seus passos pesados ressoando pelo salão silencioso.

Por um momento, apenas o observei se afastar, meu coração batendo rápido demais. Via como ele andava com dificuldade, cada movimento traindo o cansaço e a dor dos ferimentos que sofrera. O sangue ainda escorria de seus ombros e braços, manchando o chão de mármore. A ideia de que ele estava naquela condição por minha causa me afligia, uma culpa silenciosa começando a pesar em meu peito.

Vencendo o medo que ainda me mantinha gelada, dei um passo à frente, e depois outro, até que me vi seguindo-o pelo corredor. Meus pés, antes hesitantes, agora se moviam com mais determinação.

— Você não deveria me seguir. — A voz dele ecoou, áspera e baixa, como se cada palavra lhe custasse dor.

— Eu posso ajudá-lo. — Respondi, minha voz mais firme do que eu esperava.

— Não preciso da sua ajuda. — Ele rosnou por cima do ombro, sem diminuir o passo, mesmo com o andar claramente afetado.

Ignorei a frieza na voz dele, continuando a segui-lo com determinação. — Você está sangrando por minha causa. — Insisti, tentando manter a voz estável enquanto a culpa e a ansiedade se misturavam em meu interior. — Deixe-me cuidar dos seus ferimentos.

— Eu disse, não preciso. — Ele repetiu, o tom raivoso, mas havia algo mais ali, uma exaustão que ele não conseguia esconder.

Trocamos palavras ácidas, cada frase cortante e cheia de tensão. Senti o medo pulsando em minhas veias, mas minha determinação era mais forte. Sabia que precisava ajudá-lo, mesmo que ele resistisse.

Finalmente, ele empurrou uma porta pesada e entrou em um cômodo próximo ao meu quarto. Sem pensar duas vezes, o segui. O quarto era amplo e escuro, com uma decoração austera que refletia sua personalidade, móveis pesados de madeira escura, cortinas grossas que bloqueavam a pouca luz da lua, e uma grande cama de dossel no centro, coberta por lençóis brancos que rapidamente começaram a se manchar de vermelho quando ele se jogou nela, sem qualquer consideração pela própria saúde.

Hesitei à entrada do quarto, sentindo o peso da atmosfera carregada, mas a determinação em meu peito me empurrou para frente.

— Deixe-me ajudar. — Disse, minha voz mais suave, mas carregada de firmeza.

Ele abriu os olhos, seus orbes de cobre me observando com uma intensidade que fez eu me sentir dissecada. — Você por acaso é surda ou teimosa? Quem sabe os dois. — Ele começou, mas a raiva em sua voz era menos feroz agora, ofuscada pela exaustão.

— Não importa. — Respondi, decidida. Saí do quarto antes que ele pudesse protestar, indo até o banheiro. Peguei algumas toalhas e as molhei com a água morna da banheira, depois voltei para o quarto, a resolução firme em meu coração.

Quando voltei para a cama, aproximei-me com cautela, mas sem hesitação. Observei seu peito nu, os músculos bem definidos manchados de sangue, e as feridas abertas onde os lobos o atacaram. Com uma respiração profunda, estendi a mão, o pano úmido em meus dedos, e comecei a limpar as feridas. O contato fez o homem se retrair, mas não parei. A sensação da pele quente e firme sob meus dedos me fez sentir um arrepio subir pela espinha, mas mantive o foco, os olhos fixos em seu peito, ignorando o olhar penetrante dele que eu sabia estar fixo em mim.

Por um momento, o silêncio foi preenchido apenas pelos suaves suspiros de dor que ele não conseguia conter, enquanto eu limpava o sangue e cuidava dos ferimentos com o máximo de cuidado que conseguia. Cada toque parecia uma pequena chama acesa no gelo que envolvia o homem.

The BelleOnde histórias criam vida. Descubra agora