Capítulo 9

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ATENÇÃO

🚫 Esse capítulo possui gatilho de importunação/abuso sexual, se você tem sensibilidade ou não gosta de ler esse tipo de cena pule a parte sinalizada do capítulo!🚫

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O som dos cascos do cavalo batia ritmicamente na estrada de terra enquanto eu me aproximava da vila. O peso no meu peito era tão palpável quanto o vestido vermelho que eu usava, uma lembrança dolorosa do lugar que acabara de deixar. Conforme as casas familiares surgiam à minha frente, uma mistura de nostalgia e desconforto crescia dentro de mim. O retorno a casa parecia ser um retorno a um mundo que agora me parecia pequeno demais.

Quando avistei a forja, meu coração deu um salto involuntário. Era o lugar onde sempre me sentira mais segura, mais eu mesma. Mas, ao descer do cavalo, minha esperança se desfez ao ver o cadeado e as correntes grossas que trancavam a entrada. A raiva e a frustração brotaram em meu peito. Quem havia ousado prender a única coisa que ainda me pertencia?

Senti os olhares pesados dos moradores da vila sobre mim. O cavalo imponente do palacete certamente chamava atenção, mas não era isso que fazia os olhos das pessoas se demorarem em mim. O vestido vermelho, tão distinto do que eu costumava vestir, parecia gritar minha diferença. Fingi não me importar, mas a angústia dentro de mim só crescia.

Estava prestes a seguir para a taverna e pedir ajuda a Thorne quando ouvi alguém gritar meu nome ao longe.
— Isabelle! — Era Léa, correndo em minha direção com os braços abertos. Antes que eu pudesse reagir, ela me envolveu em um abraço forte. Fiquei surpresa; achava que Léa nunca mais queria me ver. Mas logo, a surpresa se transformou em alívio e eu retribuí o abraço com igual força.

Quando nos afastamos, Léa tinha um brilho de preocupação nos olhos.
— Onde você esteve, Isabelle? Eu estava tão preocupada! Pedi para que te procurassem, mas todos diziam que você estava apenas... se aventurando.— A voz de Léa misturava desaprovação com alívio.

Suspirei, escolhendo as palavras com cuidado. — Eu... precisei sair por um tempo. Fiquei machucada, mas estou bem agora. — Evitei mencionar Lucien ou qualquer coisa que sugerisse a realidade sombria que vivi.

Enquanto conversávamos, Léa revelou que Thorne havia trancado a forja para proteger meus pertences de saqueadores. Sentindo-me grata pela consideração do taverneiro, acompanhei Léa até a taverna.

Dentro da taverna, a atmosfera familiar me envolveu, mas havia uma tensão nova no ar. Thorne foi o primeiro a me encontrar, e sua expressão era uma mistura de irritação e alívio.
— Sumir assim? O que você estava pensando, garota? Vai ter que trabalhar dobrado para recuperar minha confiança.

Assenti, agradecida, mas por dentro sentia que algo estava fora do lugar. O murmúrio dos clientes da taverna, misturado a olhares curiosos e maliciosos, me fez sentir ainda mais deslocada. Peguei a chave da forja que Thorne me entregou e, logo, as duas amigas saíram dali.

O dia passou lentamente enquanto tentava me reconectar com a vida que deixara para trás. Sentada na forja, Léa tentava preencher o silêncio com as novidades da vila. O desaparecimento dos cavaleiros virou assunto, e Léa contou que eles haviam partido para caçar um animal que atacara uma vila próxima à capital na noite anterior. Sentí um aperto no peito, uma sensação de desconforto que tentei ignorar.

Eventualmente, a conversa desviou para Damien. Com certa hesitação, perguntei à amiga se ela estava chateada com o cavaleiro. Léa sorriu, mas havia algo de inseguro em sua expressão.
— No começo, fiquei chateada. Mas depois, consegui me aproximar dele. Agora... acho que ele vai me pedir em casamento. — Ouvi com uma pontada de preocupação, sabendo que Damien não era o homem que Léa pensava. Mas mantive meus pensamentos para mim, sentindo-me impotente para proteger a amiga.

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