A carruagem real avançava pela propriedade, parecendo deslocada, uma presença quase grotesca contra o cenário branco e gelado. O palacete, normalmente isolado e afastado do burburinho da corte, parecia distorcido diante daquela ostentação. Era raro ver qualquer sinal da realeza por aqui, nessa parte esquecida do reino. Ao meu lado, Lucien permanecia em silêncio, mas eu podia sentir sua tensão, uma presença quase palpável. Para mim, uma garota comum de uma vila insignificante, e para ele, um homem exilado, a chegada dessa visita não era nada além de um presságio de algo ruim.
A carruagem parou lentamente à frente da entrada, e meu coração acelerou. Senti os braços de Lucien ao meu redor apertarem-se com mais força, como se ele pudesse me proteger de qualquer coisa que estivesse por vir. Seu corpo estava rígido, e por mais que ele estivesse calado, eu sabia que ele estava tão preocupado quanto eu.
A porta da carruagem finalmente se abriu, e um homem magro e esguio desceu, coberto por camadas de peles grossas. Ele carregava uma bengala de ouro nas mãos, o que me parecia desnecessário, já que ele não aparentava ser velho o suficiente para precisar dela. Seus passos eram lentos, e notei uma leve mancada enquanto ele descia, seguido por um servo silencioso, cuja presença era quase imperceptível. Eu o observei atentamente, tentando entender o que alguém como ele fazia em um lugar tão distante e inóspito.
Ele parou a poucos passos de nós, a neve rangendo sob seus pés. Seus cabelos loiros curtos balançavam com o vento, e, mesmo sob tantas camadas de roupas, era óbvio que o frio o incomodava. Apesar disso, ele mantinha o queixo erguido, olhando para Lucien com um ar de superioridade, como se fosse natural para ele estar acima de qualquer um, inclusive de Lucien, que era imensamente maior e mais imponente. A tensão entre os dois era palpável. Havia algo entre eles, uma história silenciosa e cheia de mágoas que eu não conseguia decifrar.
Foi o servo quem quebrou o silêncio. Sua voz trêmula e cheia de reverência ecoou no ar frio, ordenando que nos curvássemos diante do Grão-Duque Osvald, o braço direito do rei. Senti o pânico subir pela minha garganta e me curvei rapidamente, puxando meu vestido com dificuldade, já que Lucien ainda me segurava com força. Olhei de soslaio para ele, esperando que fizesse o mesmo, mas para meu espanto, ele permaneceu ereto, sem fazer nenhum movimento para se curvar. Seu maxilar estava trincado, e seus olhos fixos no homem à nossa frente, cheios de desprezo.
Osvald parecia imune à afronta de Lucien. Seus olhos claros brilharam com desdém enquanto ele olhava para mim, por um momento longo demais, antes de voltar sua atenção para Lucien.
— Senhor Raven — disse ele, com uma voz baixa, carregada de uma arrogância que fazia meu estômago revirar. Raven. Nunca antes eu tinha ouvido o sobrenome de Lucien, e agora, ao ser pronunciado por aquele homem, parecia um segredo sombrio que eu não deveria ter descoberto.
Lucien não tirou os olhos de Osvald, sua voz rouca e cheia de desprezo quando respondeu.
— O que o traz aqui, Grão-Duque, às minhas terras, em pleno inverno?
Osvald riu, mas o som foi seco e sem humor. Ele então voltou a olhar para mim, e a intensidade em seus olhos fez o sangue gelar em minhas veias.
— A garota, senhor Raven — disse ele, com uma frieza que me fez estremecer. — Ela é o motivo da minha ilustre visita.
Senti o chão vacilar sob meus pés. O que eu poderia ter feito para atrair a atenção de alguém como o Grão-Duque? Meu coração batia descompassado enquanto eu olhava para Lucien, desesperada por respostas. Mas o rosto dele estava imóvel, seus olhos de cobre fixos em Osvald com uma fúria silenciosa. Eu não sabia o que estava por vir, mas a sensação de que algo perigoso estava prestes a acontecer me envolveu por completo.
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The Belle
Acak[ CONCLUÍDA] Em um vilarejo onde as sombras guardam segredos e o passado se recusa a ficar enterrado, Isabelle é uma jovem marcada pela tragédia, vivendo à margem da sociedade que a rejeita. Seu único desejo é encontrar independência e reconheciment...