capítulo 20

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Bárbara estava na sala, sentada em seu lugar habitual, folheando distraidamente uma revista de moda, mas com a mente longe, enquanto a expectativa da chegada de Penélope lhe deixava com os nervos à flor da pele. Ela sabia que a jovem era uma constante fonte de irritação, uma adulta que se comportava como uma adolescente mimada. Penélope era o tipo de pessoa que falava alto demais, opinava sobre tudo e tinha uma necessidade incessante de ser o centro das atenções. Tudo isso irritava profundamente Bárbara, que valorizava controle e compostura.

O som da porta se abrindo ecoou pela casa, seguido pelas risadas animadas de Alonso.

- Penélope, finalmente! Você está em casa! - diz Alonso entusiasmado.

Bárbara fechou a revista e respirou fundo, forçando um sorriso, enquanto se preparava para a tempestade que estava por vir. Penélope entrou na sala, os olhos brilhando de entusiasmo, com uma enorme mala colorida ao seu lado e uma mochila cheia de chaveiros e adesivos pendurada nos ombros.

- Tio Alonso! Que saudades! A viagem foi incrível, eu comprei tantas coisas incríveis! Olha só essas pulseiras! São super exclusivas! - diz Penélope em um tom agudo e empolgado.

Ela correu até Alonso e o abraçou com exagerada efusão. Bárbara observou a cena de longe, mantendo-se no seu canto, sem interesse em participar daquela demonstração infantil.

- É bom ter você de volta, Penélope. Bárbara também estava ansiosa pela sua chegada, não é, querida? - diz Alonso rindo.

Bárbara sentiu o peso do olhar de Alonso e forçou um sorriso ainda mais falso.

- Claro, Penélope. Estávamos te esperando.- diz Bárbara contida.

- Ai, Bárbara, você não sabe! A viagem foi TÃO legal, e você precisa ver as fotos que tirei! Já vou te mostrar tudo, e... Ah! Preciso de sua ajuda para decidir qual das tatuagens temporárias vou colocar hoje! São todas tão fofas! Não é o máximo? - diz Penélope nem percebendo a tensão.

Bárbara piscou devagar, tentando processar aquela enxurrada de informação desnecessária, enquanto Penélope já começava a tirar itens da bolsa e espalhá-los pela mesa.

- Claro, Penélope... depois... quem sabe. - Diz Bárbara irritada, mas mantendo a calma

- Oba! Vai ser demais! Eu sabia que você ia amar essas coisas! - diz Penélope sem perceber o desinteresse.

Alonso, completamente alheio à irritação de Bárbara, ria e incentivava a sobrinha, que já começava a falar de sua próxima aventura. Bárbara, por sua vez, apenas se levantou, murmurando algo sobre ir à cozinha, e saiu da sala com passos firmes. Ela sabia que precisava de alguns momentos longe de Penélope para manter a fachada de boa anfitriã.

- Isso vai ser mais difícil do que eu imaginava... - disse Bárbara em pensamento, enquanto se afastava.

Na cozinha, Bárbara abriu a geladeira e tirou uma garrafa de água, tomando um longo gole enquanto tentava acalmar os nervos. Ela sabia que Alonso estava cego pelo afeto que tinha por Penélope e que, para ele, todos os defeitos da afilhada eram vistos como traços adoráveis e encantadores. Mas, para Bárbara, aquilo era insuportável.

Segundos depois, Alonso entrou na cozinha, sorridente e satisfeito com a chegada da sobrinha.

- Penélope é cheia de vida, não é? A casa estava tão quieta sem ela. - diz Alonso alegre.

Bárbara ergueu as sobrancelhas, com a garrafa ainda em mãos, e respondeu com a voz controlada, mas carregada de sarcasmo.

- Cheia de vida? Talvez cheia de outra coisa... mas não de maturidade, com certeza.

Alonso deu uma risada suave, sem captar o tom ácido de Bárbara.

- Ah, querida, ela só está entusiasmada. Ainda é jovem, tem todo esse espírito leve e divertido. - diz Alonso minimizando.

- Ela já não é tão jovem assim, Alonso. Está na idade de saber se comportar como uma adulta, não como uma adolescente com energia demais e responsabilidade de menos. - diz Bárbara com um sorriso forçado.

- Ela só quer se divertir, e qual o problema nisso? Penélope passou por muita coisa nos últimos meses, precisa de um pouco de leveza. Acho que está sendo dura demais com ela. - diz Alonso defensivo.

Bárbara sentiu o sangue subir à cabeça. Havia um limite para sua paciência, e Alonso sempre tinha essa tendência de desculpar qualquer atitude da sobrinha. Com um sorriso firme, mas carregado de frustração, ela se aproximou de Alonso, colocando a garrafa sobre o balcão com um pouco mais de força do que o necessário.

Olha aqui, não venha com essa defensiva para o meu lado. Porque desde quando você me falou que ela viria, eu te falei que não queria que ela viesse. - diz ela irritada com tudo aqui.

- Não seja rude Bárbara, você está extremamente grossa esses tempos para cá. - diz Alonso.

- E outra, eu não estou sendo dura com ela, Alonso. Só estou dizendo o que é óbvio para qualquer um com olhos abertos. Penélope não tem noção do espaço dos outros. Ela chega, espalha as coisas, fala sem parar, sem considerar o que está acontecendo à sua volta. - diz Bárbara olhando diretamente para ele.

Alonso cruzou os braços, olhando para Bárbara com uma expressão ligeiramente irritada.

- Você está exagerando. É só um jeito diferente de ser. Penélope é espontânea, e isso não é um crime. Diz Alonso frio.

Bárbara respirou fundo, tentando manter a calma. Mas, no fundo, sabia que discutir com Alonso sobre Penélope era inútil.

- Claro. Claro, Alonso. Você sempre vê o lado bom, não importa o quanto seja irritante para os outros. - diz Bárbara com um suspiro exasperado.

Antes que Alonso pudesse responder, a voz de Penélope ecoou do corredor.

- Tio! Bárbara! Vocês têm que ver isso! Eu achei o vídeo mais engraçado da viagem! - diz Penélope gritando.

Bárbara cerrou os olhos e esfregou a têmpora, enquanto Alonso soltava uma risada e se dirigia para a sala, claramente ansioso para ver o que Penélope estava mostrando. Ela ficou parada por um momento, observando Alonso sair com aquele sorriso de sempre no rosto.

- Não sei quanto tempo vou aguentar isso... - diz Bárbara pensando com frustração.

Com um último olhar para a sala, Bárbara pegou a garrafa de água novamente e saiu pela porta dos fundos, decidida a passar alguns minutos longe daquela confusão.

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