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  A viagem estava sendo um verdadeiro silêncio, apenas o barulho do carro que seguia pela estrada era escutado – ao menos até Priscilla resolver puxar assunto.

  — Se sente melhor para se abrir comigo?

  [Nome] a encarou brevemente antes de voltar seu rosto para a janela e soltar um suspiro enquanto observava as paisagens passarem diante de seus olhos.

  — Eu não quero encarar a realidade. — ela soltou de repente e essa afirmação cativou a atenção de Priscilla que resolveu apenas escutar. — Acho que é por isso que mergulho fundo demais em tudo que não é real... os jogos são um bom exemplo disso...

  — E por que você evita tanto a realidade? — o tom acolhedor da psicóloga fez ela ponderar.

  Sua vida não era tão ruim assim, mas ela sentia que faltava algo.

  — Eu sei que tenho que parar com isso. Já tenho 18 anos e estou prestes a concluir o colégio... mas é errado preferir está em outra realidade? Uma realidade que é perfeita?

  — Nada é perfeito, [Nome]. — Priscilla a encarou.

  Um breve silêncio se formou até a psicóloga voltar a proferir:

  — O porteiro comentou que você gritou quando ele foi te ajudar, o que você viu exatamente que te assustou? Teve algum gatilho que te causou essa reação? — o tom dela agora remetia à preocupação e [Nome] hesitou.

  Seria esse o momento de abrir o jogo e relatar os "encontros dimensionais" com Leon?

  — Eu vi um fantasma... — [Nome] comentou de forma vaga, como se não quisesse falar.

  — Fantasma?

  — Sim... às vezes ele aparece pra mim... e infelizmente ele não existe. — a última frase soou mais como um desabafo do que um relato em si.

  Essas afirmações fizeram a psicóloga debater mentalmente. Era uma situação delicada e por mais que fosse um grande passo, ainda não era o bastante para ela concluir qualquer coisa sobre o quadro de [Nome].

  — E por que você acha isso ruim? Você queria que ele existisse?

  — Porque ele me faz sentir coisas que eu jamais pude sentir com outro alguém. — os olhos de [Nome], nesse momento, brilhavam ao lembrar dos momentos com Leon.

  Priscilla pareceu começar a entender.

  — Entendi... Se fosse possível defini-lo em uma música, qual seria?

  — Certamente "dark paradise" da Lana. — [Nome] respondeu para ver a psicóloga procurar a canção no som do carro.

  Sua mente sendo transportada para as lembranças assim que escutou a música começar a tocar. A psicóloga observou como [Nome] parecia estar em outra realidade, como que enfeitiçada, pela forma como olhava de forma hipnótica para a frente.

  — Algo chamou sua atenção? — nesse momento, [Nome] piscou os olhos e se recompôs no banco.

  — Ham... não... — ela ajeitou o cabelo. - Eu só me peguei sentindo a vibe da música.

  Priscilla sorriu de volta para ela, que forçou um riso.

  Após chegar em casa, [Nome] correu para tomar uma ducha a fim de relaxar já que infelizmente seu final de semana havia ido por água abaixo e assim que terminou, ela resolveu pesquisar formas de voltar a sonhar com Leon. Estava sendo uma tortura não vê-lo depois do último encontro que tiveram.

  Entre sites e fóruns, [Nome] acabou descobrindo os sonhos lúcidos. De cara ficou interessada pela ideia de dominar seus sonhos, então, determinada em conseguir ter algum, assim que se recolheu, ela começou a formular cenas que gostaria de acabar sonhando como havia lido nos sites. Ela sabia que talvez isso não fosse o bastante, mas ela tinha que tentar.

  Ao acordar no dia seguinte, percebeu que não havia funcionado. Simplesmente nada surgiu em sua mente durante toda a noite e seu domingo foi marcado por mais pesquisas e técnicas para alcançar os tão almejados sonhos lúcidos, deixando, até mesmo, o trabalho com Flávia de lado – a qual já havia mandado várias mensagens a respeito.

  Numa última tentativa de ligação, finalmente [Nome] a atendeu.

  — Onde você se meteu!? — a voz indignada de Flávia, bradou. — Mandei várias mensagens, liguei cinco vezes e nada!

  — Foi mal, eu tava ocupada. — [Nome] respondeu. Ela até coçou a testa, ciente de que havia vacilado.

  — Espero que a ocupação tenha sido por conta dos estudos para o trabalho de amanhã... — ela comentou.-— Por favor, [Nome], esse trabalho é importante, então não vacila. — o tom dela agora era de súplica.

  — Certo... me desculpa de novo... Vou desligar e... — ela olhou para a tela do computador vendo as pesquisas que estava fazendo. — ...e voltar a estudar.

  — Beleza. Tchau.

  Assim que Flávia desligou, [Nome] sentiu um pouco de remorso por ter mentido. Ela sabia que o trabalho era importante, mas não conseguia priorizá-lo naquele momento. Sua alma ansiava desesperadamente em reencontrar aquele homem que ela não conseguia parar de pensar. Era uma sina que, a cada dia que passava, se mostrava mais inevitável.

  (...)

  Enquanto seus colegas apresentavam o trabalho, [Nome] continuava com suas pesquisas no celular abaixo da carteira. Ela simplesmente não aceitava o fato de não conseguir sonhar mais.

  Flávia não queria iniciar uma briga, mas ela estava quase explodindo por ver que sua tão estimada colega havia simplesmente tacado o foda-se para sua vida acadêmica a ponto de sequer revisar o assunto que ela apresentaria em seguida. Chegava a ser assustador como ela havia mudado em pouco tempo.

  Enrolando uma bolinha de papel, Flávia arremessou na carteira de [Nome] que olhou assim que o objeto parou em cima de seu caderno. Ela pegou o papel e desenrolou para ler a seguinte frase: "seremos as próximas, concentre-se!".

  Depois de amassar, [Nome] se virou e lançou um olhar de blefe para Flávia que apenas cruzou os braços soltando um suspiro apreensivo.

  —  Quem são os próximos? — o professor perguntou olhando para a classe, quando Flávia se levantou dizendo que seria ela e [Nome]. — Muito bem, fiquem à vontade. Silêncio turma.

  Enquanto Flávia conectava o pendrive para passar o slide para o notebook, [Nome] tentava lembrar do resumo que fez às pressas para apresentar. Ela praguejou para si mesma mentalmente, ao perceber que havia esquecido 90% do assunto e tentou conter o pânico, mas até uma criança perceberia sua tensão – e foi exatamente o que aconteceu com seus colegas. Era impossível não perceber a forma tensa como [Nome] os encarava e em como ela parecia nervosa ao passar as mãos uma na outra.

  Logo, os burburinhos começaram a vagar pela sala, deixando [Nome] ainda mais insegura. Ela estava tão atenta aos risinhos e comentários sobre sua postura que sequer percebeu quando Flávia começou com a apresentação.

  — ... Então é por isso que devemos ter uma rotina saudável. Minha amiga irá dar alguns exemplos. — Flávia concluiu depois de passar o slide.

  Vendo ela que [Nome] parecia não ter escutado, ela agiu rapidamente e tocou em seu ombro recebendo um olhar assustado.

  — Sua vez... — Flávia sibilou para que ela desse continuidade.

  Tentando ao máximo, [Nome] tornou a virar para a classe.

  — Er... um exemplo é... — a garota parou, tentando lembrar o que dizer em seguida. Sua mente totalmente travada e seu corpo tenso com os olhares sobre si. — Um exemplo é... — ela olhou para o professor antes de pousar a visão em Flávia. Seu olhar claramente pedindo socorro para a amiga que não sabia o que fazer senão encorajá-la silenciosamente para que continuasse.

  Mas para a infelicidade de Flávia e surpresa de seus colegas e professor, [Nome] deixou a sala sem dar qualquer explicação. Flávia ficou tão sem reação que a única ação que teve foi encerrar a apresentação e sair da sala também – enquanto os demais colegas comentavam sobre o ocorrido e faziam até piadas.

O Dono dos meus Sonhos | LEON KENNEDYOnde histórias criam vida. Descubra agora