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  Após ouvir os berros vindo do refeitório, o segurança correu até lá e parou assim que percebeu o nível da situação. Ele então começou a andar em passos furtivos, se aproximando por trás, enquanto fazia questão de gesticular para que a cozinheira não fizesse nenhum comportamento que o denunciasse.

  Vendo o quanto [Nome] estava distraída com a figura da mulher, o segurança partiu sobre ela, imobilizando-a, segurando firmemente seus pulsos.

  — Me larga! — [Nome] começou a se debater e tentar acertar seu "raptor" com a faca.

  Os movimentos eram rápidos e imprecisos.

  — Tá tudo bem, calma! — o homem dizia com certo esforço enquanto tentava tomar a faca da mão dela que continuava com os movimentos frenéticos contra ele.

  [Nome] então mudou a direção de suas investidas e tentou acertá-lo no abdômen, fazendo-o tomar mais distância. E, nesse vai e vem quase incessante, um barulho de algo sendo cravado logo foi escutado.

  Ambos paralisaram e, enquanto a cozinheira observava tudo em choque, [Nome] esboçava um sorriso de alívio ao ver que havia conseguido acertar o inimigo encapuzado.

  — Alguém acuda pelo amor de Deus! — a cozinheira suplicou enquanto corria para amparar [Nome].

  Ela, que até então andava como quem pisava em nuvens e com um sorriso vitorioso, logo sentiu uma dor aguda e dilacerante invadir o lado esquerdo de sua barriga, sendo obrigada a olhar para baixo e ver o líquido vermelho escorrer sobre seu corpo agora trêmulo. Seu sorriso aos poucos se desfez, dando lugar a um semblante pálido e tétrico.

  Sentindo suas forças começarem a ceder, [Nome] se apoiou ainda mais sobre a cozinheira e lutou para manter os olhos abertos enquanto tentava ao máximo controlar a respiração descompassada. Ao fundo, as vozes desesperadas ficavam mais e mais distantes e a claridade no olhar dela se esvaía a cada segundo que passava até que, então...

  — [Nome]? — ela escutou seu nome ecoar pelo breu onde estava e se esforçou para virar a cabeça naquela direção.

  Ao estreitar o olhar enquanto sua cabeça latejava, ela reconheceu a figura de Leon se aproximando lentamente. O semblante apavorado dele foi percebido antes que ele engolisse em seco e tentasse parecer mais calmo.

  — Ah... — ela sorriu fracamente enquanto seus olhos marejavam de alegria apesar da dor. — Você voltou pra mim...

  — Eu jamais te deixaria. — Leon disse e acariciou levemente os cabelos dela que, com um certo esforço, tocou na gola da jaqueta dele.

  Leon franziu o cenho, sem entender o que ela queria dizer, quando a viu abrir ligeiramente os lábios tentando falar algo, mas infelizmente não conseguiu emitir uma palavra sequer antes de apagar ali mesmo.

  — Aconteceu uma desgraça! — a mãe de [Nome] dizia ao telefone enquanto andava desesperada pelo corredor do hospital. — Eu achei que isso fosse funcionar! Se eu soubesse que findaria nisso, eu jamais teria permitido! — ela gritou em meio aos prantos, quando Marcos se aproximou para a consolar.

  — Vai ficar tudo bem, Suelí... — ele alisou as costas dela depois de pegar o celular, mantendo-a contra si. — Vai ficar tudo bem... — ele pareceu repetir mais para si mesmo do que para a esposa que não conseguia parar de chorar.

  Foi então que uma médica apareceu para relatar a situação e minutos depois, Priscilla, em passos eufóricos.

  — Suelí... — a psicóloga hesitou ao vê-los reunidos, fazendo a médica parar brevemente.

  — Você é parente também? — a mulher perguntou depois dela se aproximar.

  A tensão de Priscilla podia ser notada de longe e o semblante pesaroso que ela fazia questão de não esconder, revelava um pedido de desculpas silencioso para Marcos e Suelí que a fitavam sem novas expressões senão as de tristeza e preocupação.

  — Eu sou a psicóloga... — Priscilla respondeu após olhar para a mulher. — Como ela está? Vim correndo depois de saber do ocorrido.

  A médica suspirou e olhou para os três antes de continuar.

  — Ela teve hemorragia e passará por uma cirurgia. — ao escutar tal revelação, Priscilla levou a mão até a boca, totalmente abalada.

  — Mas ela tem chance de sobreviver, não é? — a psicóloga não resistiu em perguntar. A culpa que ela sentia não permitiu que ela apenas escutasse.

  — O estado dela é instável, e só teremos um relatório mais completo após a operação. — a mulher explicou. — Eu voltarei assim que a cirurgia tiver terminado. Com licença.

  À medida que a médica se afastava, Priscilla suplicava com toda a fé que tinha – embora a culpa martelasse em sua mente de que ela devia ter feito melhor.

  (...)

  — Humm... — o grunhido de [Nome] chamou a atenção de Leon que permanecia ao lado da cama.

  Vendo as expressões de incômodo, ele se aproximou e levou a mão sob a testa dela para checar a temperatura, o que a fez despertar lentamente. Ele analisou ela observá-lo um tanto atônita, quando de repente um toque gélido cobriu sua bochecha.

  — Não pensei que você ainda estivesse aqui. — ela comentou enquanto alisava o rosto preocupado dele.

  — Você precisa descansar.

  — Você é tudo o que eu preciso. — a declaração o pegou de surpresa e ele não soube o que responder, embora soubesse que sentia algo por ela já que, caso o contrário, não havia se envolvido tanto.

  — Me disseram que você iria embora e... — [Nome] o lançou um olhar confuso e ele continuou: — ... e depois que você sumiu, eu meio que não tive motivos para duvidar. Seria apenas eu e o álcool novamente. — ele desviou o olhar.

  — Eu posso ficar com você pra sempre? — após escutá-la, Leon a olhou tão confuso quanto preocupado e então [Nome] despertou no velho quarto de hospital, encarando o famoso teto branco.

  Sua mente girou brevemente e ela não sabia dizer como se sentia, mas o modo como ela parecia chapada a fazia perceber que nada muito bom estava acontecendo. Olhando ao redor, seus olhos pousaram sobre três figuras embaçadas que, logo após sua visão focar, revelou seus pais e Priscilla. Os três pareciam não ter pregado os olhos a julgar o semblante cansado além das olheiras leves.

  Assim que eles a viram, correram para perguntar como ela estava e não suportando mais o falatório, apenas disse que estava bem.

  — Você tem certeza? — Suelí continuou e [Nome] tentou se ajeitar na cama, quando sentiu uma pontada no lugar do ferimento.

  — Uhum... — mentiu enquanto mordia o lábio inferior, tentando conter a dor. - Eu... — ela suspirou e os três prestaram atenção. — Eu gostaria de pedir uma coisa.

  — Pode pedir, minha filha, o que é? — Marcos acariciou levemente o cabelo dela.

  — Eu preciso ver Flávia. Por favor, eu... — [Nome] suspirou uma última vez antes de desmaiar, fazendo os pais se desesperarem e Priscilla ir buscar ajuda.

O Dono dos meus Sonhos | LEON KENNEDYOnde histórias criam vida. Descubra agora