Após o banho quente e vestindo roupas confortáveis, Sunna sentou-se na sala, assistindo televisão. O relógio marcava meia-noite quando ouviu a porta se abrir e Milo, seu namorado, entrar.
A primeira coisa que Milo notou foi a grande mala posicionada no meio da sala. Seus olhos se arregalaram ao ver o objeto, e seu coração começou a bater mais rápido, antecipando o que aquilo poderia significar.
Sunna, que até então estava quieta, assistindo distraidamente à TV, levantou o olhar e encarou Milo. Seus olhos transmitiam uma mistura de determinação e tristeza, mas também uma certa calma.
— Olá, Milo. Você chegou tarde hoje — Sunna disse, sua voz suave, mas firme.
Milo abriu a boca, tentando encontrar as palavras certas, mas nenhum som saiu. Seus olhos vagaram entre a mala e o rosto de Sunna, a ansiedade evidente em seu semblante.
— Precisamos conversar — Sunna continuou, levantando-se do sofá e caminhando em direção a Milo.
Milo engoliu em seco, sentindo um nó se formar em sua garganta. Ele sabia, naquele momento, que algo importante estava prestes a acontecer. Sunna parecia determinada, e ele podia sentir a tensão no ar.
Eles se encararam por alguns instantes, ambos conscientes de que aquela conversa seria crucial para o futuro de seu relacionamento. Sunna respirou fundo, preparando-se para expor seus sentimentos e exigir as mudanças que precisavam acontecer.
— O que está acontecendo, Sunna? — Milo perguntou — É algum tipo de brincadeira?
— Não, na verdade não — Ela sussurrou encarando a televisão — círculos precisão ser encerrados, e o nosso precisa ser agora — ela desviou o olhar para ele com uma expressão calma — Vamos terminar..
— Terminar?! Quer jogar quase cinco anos de relacionamento fora? — Ele indagou incrédulo.
— Quatro anos namorando, e um ano namorando juntos — Sunna sussurrou — Cinco meses que você não me procura, que você não me toca, que a gente não faz amor. — Ela pausou com um olhar distante.
Milo encarou o ambiente, as fotos que antes enfeitavam as paredes agora estavam vazias, sua mala ali presente. E quando percebeu o que de fato estava aconteceu, deu um sorriso de escárnio.
— Deveria adicionar a essa conta, Cinco meses que você simplesmente deixou de se cuidar e se tomou uma desleixada — ele acusou de forma fria e cruel — Você está toda fubanga, não se arruma mais, não passa uma maquiagem. Parece uma idosa de sessenta anos.
Sunna o ouviu falar, enquanto seus pensamentos estavam indo longe naquele momento. Ela respirou fundo – Uma.Duas.Três – e então olhou para ele.
— Eu cheguei a conclusão, que eu parei de ter um namorado para ter um inquilino que não paga aluguel — ela murmurou — Já que esse apartamento é meu.
— Está jogando na minha cara, que eu vim morar com você? — ele rosnou
— Estou! — Sunna rebateu com frieza — além de vim morar comigo, você não procura um trabalho digno. Sempre perdendo o emprego, sempre nas minhas custas. Como espera que eu me arrume, sendo que eu preciso pagar as SUAS dívidas.
Ele ficou em silêncio, como se naquele momento tivesse acertado seu ego masculino frágil. Os olhos de Milo se tornaram sombrios e toda sua linguagem corporal mudou para uma mais agressiva.
— Então deixa eu te contar uma coisa — ele murmurou baixo e ameaçadoramente — As prostitutas que eu fodo, são mil vezes mais gostosas do que você. Elas sabem satisfazer um homem, sabem atiçar a mente de um homem. Mas você? Sunna já se olhou no espelho? Até seus gemidos são horríveis, você não passa de uma garota sem sal e sem graça, deveria ter uma aula de sexo com as mulheres do cabaré.
Sunna engoliu o choro naquele momento, o nó que se formou em sua garganta, ameaçou se desfazer ouvindo palavra por palavra. Se antes ela já se sentia insuficiência, agora ela tinha certeza de que era. Mesmo assim ergueu seu olhar mantendo-o fixo em Milo, não mostrando nenhuma fraqueza.
Ela não podia mostrar fraqueza…
— Já terminou? — Sunna desafiou.
Milo calou-se naquele momento, diante do olhar da mulher em frente a ele, ao ver que ela permanecia inabalável.
— Mais uma única coisa — Ele disse, ao pegar a mala e olhá-la — Você é uma mulher de baixo nível. Eu só me envolvi com você por causa do seu dinheiro, nunca te amei nesses cinco anos. Eu vivia te traindo, já fiquei com mulheres que pareciam aviões de tão lindas e gostosas. Então eu não estou perdendo nada nesse momento!
Milo então pegou suas costas e virou as costas, saindo sem olhar para trás, e assim que a porta de fechou. Foi quando Sunna se permitiu chorar tudo o que tinha para chorar, toda a frustração, toda a dor.
Ela deixou sair…
Gritou um grito que veio diretamente do fundo da sua alma, que parecia rasgar de dentro pra fora. Ela sentia, claro que sentia. Seu coração estava sangrando, e ela sentia esse sangue.
(…)
A noite se transformou num turbilhão de dor para Sunna. As palavras de Milo, cruéis como facadas, ecoavam em sua mente, dilacerando sua alma. Cada lembrança, cada momento compartilhado, agora contaminado pela traição que se estendia por cinco longos anos. As lágrimas escorriam pelo seu rosto, sem cessar, enquanto o choro abafado se misturava ao som da chuva que começava a cair lá fora.
O sol da manhã se erguia, mas não trazia consigo o conforto que Sunna precisava. Seu corpo doía da dor, e a alma parecia estar estilhaçada. A ideia de ir trabalhar era impensável. As mãos tremiam e os olhos inchados, vermelhos e doloridos, refletiam a dor que a consumia.
Segurando o celular com dedos trêmulos, Sunna digitou uma mensagem rápida para suas amigas da empresa: "Oi, meninas! Não estou me sentindo bem, vou ficar em casa hoje. Desculpem o aviso em cima da hora." Era uma mentira, mas era a única que conseguia inventar naquele momento.
Enviou a mensagem e, em seguida, respirou fundo, abrindo o aplicativo pessoal de seu chefe, Satoru Gojo. Com a voz embargada, digitou uma mensagem similar, justificando sua ausência com um "mal-estar repentino". Um misto de culpa e vergonha a percorria, mas, naquele momento, suas necessidades estavam acima de qualquer outra coisa.
Após enviar a mensagem, Sunna colocou o celular em modo avião e ativou o "não perturbe". Ela precisava de silêncio, de solidão, para tentar processar o que aconteceu, para deixar a dor tomar conta, para chorar até não poder mais. A chuva lá fora, batendo forte nas janelas, parecia ecoar a tempestade que se instalara em seu coração.
Era como se o mundo estivesse a seu lado, compreendendo seu sofrimento, e lhe concedendo o privilégio de se entregar à dor sem qualquer interrupção, apenas ela e seus pensamentos, e a chuva que caía incessantemente.
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Resilienza - Satoru Gojo
Hayran Kurgu"Eu te protegerei de qualquer ameaça, porque perder você não é uma opção."