Acordo de desafetos

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DULCE MARIA SAVIÑON

No dia seguinte, acordo cedo para ir à academia.

Quero iniciar a semana com uma rotina mais equilibrada e isso inclui dormir e comer bem, me exercitar e estabelecer um horário fixo para trabalhar no meu projeto como futura ilustradora.

Faço uma hora de musculação e, na volta, passo no supermercado para comprar alguns mantimentos que acabaram.

Tomo banho, preparo um café da manhã reforçado e me acomodo na mesa de escritório de Poncho, dando play no curso online que comprei por recomendação de vários profissionais da área.

No meio da manhã, recebo uma mensagem no Instagram.

Christian Chávez:
Oi, tudo bem? Seu perfil apareceu por acaso pra mim e fiquei apaixonado pelo seu traço. Procurei o link pra solicitar um orçamento, mas não encontrei, então resolvi entrar em contato por aqui mesmo. Quero muito que você ilustre uma cena de um livro meu. Pode me passar os valores, por favor?

Releio o texto algumas vezes, um pouco confusa. Entro no perfil dele e me surpreendo com a quantidade de seguidores.

Trinta mil.

Em uma rápida pesquisa, descubro que Christian é um escritor nacional de romances, bem popular, que publica seus e-books de forma independente. Vejo algumas ilustrações de casais no seu feed, algumas bem fofas, outras mais sensuais, e clico nos nomes dos profissionais marcados para dar uma olhada.

Pelas horas seguintes, mergulho em um universo completamente desconhecido por mim até então.

Descubro o mercado editorial da autopublicação, onde os próprios autores cuidam de todo o processo de publicação dos seus livros digitais, desde a divulgação até o lançamento.

As ilustrações são bastante utilizadas por eles para dar vida aos seus personagens e proporcionar uma experiência mais imersiva aos leitores.

É simplesmente incrível.

São desenhos que sei fazer. Mais do que isso, que gosto de fazer. Acho que seria interessante ser parte disso. Parte do sonho de alguém. Transformar uma ideia em algo "real".

Decido tentar.

Todo aprendizado é válido, especialmente para quem está recomeçando.

Visito perfis de ilustradores que já atuam na área para ter uma noção dos valores, prazos, formas de pagamento e de entrega, e monto um orçamento personalizado. Respondo à mensagem do autor e envio o arquivo para que ele dê uma olhada, sentindo um frio na barriga de expectativa.

É tão maravilhoso estar empolgada com o trabalho que mal vejo o tempo passar e, quando o barulho do interfone ressoa no ambiente silencioso, tomo um susto ao ver que já passa do meio-dia.

Corro até o aparelho, curiosa para saber quem é.

– Oi.

– Entrega do iFood.

– Moço, acho que você interfonou para o apartamento errado. Não pedi nada.

– Apartamento 505. Pedido no nome de Christopher Uckermann. Não é aí?

Arregalo os olhos.

Achei que Christopher daria um jeito de escapar da aposta, prova disso é que acordei sem nada pronto para o desjejum, por isso nem cogitei a possibilidade de ele mandar comida para mim.

Abro um sorriso animado.

– Ah, é aqui, sim. Já estou descendo.

Retorno em alguns minutos com um yakisoba de frutos do mar, com muito camarão, um rolinho primavera romeu e julieta e uma latinha de coca-cola bem gelada. A aparência e o cheiro estão maravilhosos, e o meu estômago ronca.