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CHRISTOPHER UCKERMANN

4 meses depois

Minhas mãos estão suando.

Pareço um adolescente prestes a ter o primeiro encontro, em vez de um homem esperando a sua mulher retornar de uma viagem longa.

Longa demais.

Estivemos juntos apenas duas vezes nos últimos seis meses e não serei hipócrita de dizer que foi fácil. A distância tortura, provoca inseguranças, cria paranoias. Foi um trabalho árduo não cair nas armadilhas da própria mente.

E se ela conhecer um cara mais interessante do que eu? E se as dificuldades de um namoro à distância a esgotarem? E se Dulce Maria decidir permanecer na Inglaterra depois do curso?

O acompanhamento profissional me ajudou a segurar as pontas. Felizmente, não precisei usar remédio, as sessões semanais de terapia têm dado conta. A rotina saudável de exercícios físicos e alimentação equilibrada que mantenho há anos também contribui no controle da ansiedade.

Troco o buquê de girassóis, a flor favorita dela, de mão para esfregar a palma úmida na calça jeans, parado em frente ao portão de desembarque internacional do Aeroporto de Guarulhos. Checo o relógio pela milésima vez no último minuto, impaciente.

O voo está atrasado.

As portas de vidro se abrem e um grupo grande de passageiros começa a sair, encontrando os amigos e familiares que os aguardam. Mudo de lugar, tentando ter uma visão melhor, até que reconheço os cabelos loiros no meio da multidão.

Dulce Maria empurra o carrinho com duas malas enormes enquanto faz uma varredura no local com os olhos, me procurando. Assim que me vê, abre um sorriso lindo e apressa o passo.

No meio do caminho, ela simplesmente abandona a bagagem e corre em minha direção, se atirando em meus braços. Rindo, eu a rodopio no ar algumas vezes, enfiando o rosto em seu pescoço para inspirar o aroma floral do perfume feminino.

Finalmente, caralho.

Eu a coloco no chão e abaixo a cabeça para beijá-la.

– Como foi a viagem? – pergunto, me afastando o suficiente para encará-la.

– Foi tranquila, dormi a melhor parte do tempo. – O seu olhar recai nas flores em minha mão. – Girassóis?

– Bem-vinda de volta, meu amor. – Entrego o buquê para ela, que o recebe com um sorriso ainda maior que o anterior. – Você está proibida de ir para longe de mim novamente.

– Não vou – promete, ficando nas pontas dos pés para me dar um selinho. – Estou exatamente onde quero estar.

Beijo a sua testa.

– Vamos para casa?

– Sim, por favor!

Dulce vai ficar no meu apartamento. Ela acha que é apenas um arranjo temporário, mas estou decidido a convencê-la a morar comigo.

Recupero o carrinho com as malas e seguimos até o estacionamento de mãos dadas. O longo percurso até o meu prédio é feito em meio a uma conversa animada. Ela me conta os detalhes dos seus últimos dias em Londres, como foi a despedida das amigas que fez no curso e da senhorinha que a alugou o porão da sua casa, com quem criou uma conexão.

A minha mulher está radiante, orgulhosa por ter concluído aquele ciclo com sucesso, apesar das dificuldades.

Eu a admiro pra caralho.

O intercâmbio fez Dulce Maria desabrochar. Foi foda vê-la descobrir a própria força diante das adversidades, cada vez mais convicta de que estava no caminho certo.

Enfiar duas malas de vinte e três quilos e dois adultos no elevador não é uma tarefa fácil, mas conseguimos após algumas tentativas. Abro o apartamento para que ela entre primeiro e fecho a porta atrás de nós.

– Que sensação maravilhosa estar de volta – comenta, jogando a bolsa no sofá. – Eu amei a experiência de conhecer outro país, outra cultura, mas não existe nada melhor do que a nossa casa.

Deixo as malas no corredor, testemunhando o momento em que nota a maquete sobre a mesa dela. Curiosa, ela se aproxima para observá-la melhor.

– O que é isso?

– Um projeto muito especial – revelo, parando atrás dela e afastando os fios longos para beijar seu ombro. – Gostaria de saber sua opinião.

– Estou impressionada com a perfeição dos detalhes.

– Gostou?

– É lindo, Christopher. Os móveis, a decoração, as cores das paredes. Eu não mudaria nada. Que projeto é esse?

– Uma sala de pintura e desenho que projetei para a minha casa. Ficará no último andar, de frente para o jardim. A iluminação é incrível e, com sorte, será possível ver o pôr do sol.

Dulce Maria demora uns segundos para absorver o significado da explicação.

– Christopher... – murmura, girando o corpo para me encarar. – Por que vai construir isso na sua casa?

– Porque quero que a minha futura esposa tenha um espaço adequado para trabalhar.

Ela arregala os olhos e engole em seco.

– Es...esposa?

Dou um passo para trás e enfio a mão no bolso interno da jaqueta, de onde tiro uma caixa pequena de veludo.

Os olhos de Dulce crescem ainda mais, quase saltando de órbitas.

– Sou um cara sistemático, planejo tudo nos mínimos detalhes para me sentir seguro. Sempre fui assim. Sempre gostei de ser assim. Então, você entrou na minha vida e me mostrou que as melhores coisas acontecem quando não planejamos. Você foi o desvio mais especial que peguei. A bagunça mais linda. Sei que para algumas pessoas pode parecer precipitado, e o Christopher de um ano atrás seria uma dessas pessoas, mas eu sei que é a decisão correta.

Eu me ajoelho e abro a caixinha, revelando o anel de diamante que mandei confeccionar especialmente para ela.

Dulce leva as mãos à boca, em choque.

– Dulce Maria Saviñon, case comigo e me faça o homem mais feliz do mundo?

Em vez de responder, ela começa a rir e chorar ao mesmo tempo. Franzo o cenho, um pouco preocupado com a reação, mas não tenho tempo de investigar, porque ela se ajoelha à minha frente logo em seguida.

– Quando eu era pequena, amava contos de fadas. Queria crescer logo para encontrar o meu príncipe encantado e viver feliz para sempre, como as minhas princesas favoritas. Com o passar do tempo, percebi que não precisava de um príncipe encantado e um feliz para sempre. O que eu desejava de verdade era um homem que estivesse ao meu lado nos melhores e piores momentos, apoiando os meu sonhos, torcendo pelo meu sucesso, comemorando as minhas vitórias e me consolando nas derrotas. Encontrei tudo isso em você, Christopher. Você pode não ser perfeito para o mundo, mas é perfeito para mim. Ser sua esposa será uma honra, meu amor.

Meus olhos ardem, a garganta queima, os batimentos cardíacos aceleram, emocionado por enxergar em Dulce Maria o reflexo dos meus próprios sentimentos.

– A honra é toda minha – declaro, com a voz engasgada, puxando-a para os meus braços. – Eu te amo muito, bruxinha, e estou ansioso para construir uma vida ao seu lado.

O beijo que compartilhamos é diferente de todos os outros. Ele tem gosto de promessa.

E essa é uma que vou até o fim do mundo para cumprir.

Acordo de desafetosOnde histórias criam vida. Descubra agora