DULCE MARIA SAVIÑON
De banho tomado, com a skincare feita e dentro do meu pijama mais confortável, estou arrumando o sofá-cama para dormir quando Christopher retorna.
Olho para o relógio na parede, surpresa. Foi rápido. Faz menos de uma hora que os dois saíram daqui.
Ele vai direto ao armário embutido da cozinha de onde retira uma segunda garrafa de vinho e abre em tempo recorde, despejando uma quantidade generosa na taça.
Poncho vai encontrar a mini adega vazia ao voltar dos Estados Unidos.
Discretamente, acompanho seus movimentos, sem acreditar que o idiota não vai tecer qualquer comentário sobre o que aconteceu.
Christopher sendo Christopher.
- Como ela está? - pergunto, irritada por ter que tomar a iniciativa. - Será que foi uma boa ideia deixa-la sozinha?
- Natália está com a irmã, não se preocupe. Vinho?
- Não, obrigada.
Ele sorve um gole, me encarando por cima do cristal.
- Ela deu muito trabalho? - Arrasta a cadeira e se joga sobre o móvel, depositando a taça e a garrafa na mesa.
Suspiro.
Estou cansada, sem nenhuma vontade de estender a conversa além do necessário. Tudo o que mais quero é encerrar de uma vez esse dia péssimo, no entanto, me vejo abandonando o conforto do sofá para me juntar a ele.
- Não. Só conversamos um pouco. Quer dizer, ela falou e eu ouvi.
- O que ela te disse?
- O suficiente para que a ideia de formarmos uma dupla sertaneja tenha passado pela minha cabeça. O corno e a chifruda. Acho que faríamos sucesso, muita gente se identificaria.
Christopher balança a cabeça, incrédulo.
- Como consegue fazer piada com isso?
- Às vezes, a melhor saída é rir das nossas próprias desgraças, Christopher.
- Ainda não cheguei lá - comenta, amargo. - Toda vez que penso no quanto fui feito de otário, só sinto ódio.
Quem diria que, no final das contas, Christopher Uckermann e eu teríamos algo em comum.
- Recebi um vídeo dos dois.
Estreito os olhos, interessada na revelação.
- Um vídeo?
- Eles foderam na empresa, na sala de Caíque, enquanto eu trabalhava no cômodo ao lado. - Abre um sorriso de escárnio, ingerindo mais um gole do vinho. - A câmera de segurança pegou e alguém me enviou.
Pisco algumas vezes, embasbacada.
- Não sei nem o que dizer, de verdade - murmuro, tentando imaginar como foi doloroso para Christopher. Caíque e ele eram próximos a ponto de o sujeito passar alguns natais com a família Uckermann. E Natália... bem, acho que o fato de os dois terem ficado juntos por quase uma década fala por si só. - Quem te mandou?
- Não consegui descobrir. A pessoa ocultou o IP, não deu para rastrear. De toda forma, esse é o menor dos meus problemas.
- Foi por isso que você mudou de ideia sobre me deixar ficar aqui - divago, mais para mim do que para ele. - Porque sabia exatamente o que eu estava sentindo.
Christopher não confirma a teoria, reabastecendo a taça.
- Ainda não comuniquei à minha família sobre o término do relacionamento - diz, me encarando com seriedade. - Quero reorganizar as coisas antes de contar. Se puder manter o segredo, inclusive de Poncho, ficarei grato.

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Acordo de desafetos
RomansaFui criada para ser a filha exemplar, sempre cumprindo expectativas, sem questionar. Mas essa obediência teve um custo alto: uma vida marcada pela ansiedade, um trabalho que me sufoca, e um noivado sem paixão. Tudo desmorona quando pego meu noivo co...