DULCE MARIA SAVIÑON
Não me orgulho disso, mas eu fugi.Aproveitei que Christopher acordava mais tarde aos sábados e saí de fininho enquanto ele e Poncho ainda dormiam, deixando apenas um recado para avisar que passaria o dia fora.
Eu me conheço o suficiente para saber que não estava preparada para vê-lo indo embora sem correr o risco de fazer uma cena patética na frente dele, tipo chorar.
É, fui estúpida por me apegar a um cara com quem estou transando sem compromisso. Um cara que ficou com a ex por quase uma década, foi traído da forma mais suja possível e provavelmente quer um novo relacionamento tanto quanto uma dor de dente.
Lamentável, eu sei. Mas não sou um robô sem sentimentos, caramba! Contra todas as possibilidades, ele se mostrou um companheiro perfeito desde que nos entendemos, então foi ridiculamente fácil criar uma rotina ao seu lado e estou um pouco triste por perder o que construímos nessas semanas.
A quem estou tentando enganar? Estou triste pra caralho.
E magoada por Christopher não ter me contado sobre o novo apartamento.
Por isso, passei a manhã inteira trabalhando na cafeteria da esquina, lutando contra o impulso de checar o celular a cada minuto na esperança de receber uma mensagem dele.
Nada.
A única que chegou foi a de Poncho, me convidando para ir à casa de tia Ale com ele, um convite que recusei educadamente.
Depois, peguei um Uber para o apartamento de Anahí e passei o resto do dia com ela e Maite. Jogamos conversa fora, assistimos a um filme e, à noite, minha cunhada colocou a mão na massa e preparou sua receita de pizza caseira, uma das melhores que já experimentei.
Elas insistiram para que eu passasse a noite lá, mas as longas horas na companhia das duas gatinhas do casal trouxeram consequências: uma crise alérgica forte.
Saí de lá mal, com os olhos vermelhos e lacrimejando, espirrando sem parar. Pedi ao motorista do aplicativo para me deixar em uma das farmácias próximas ao studio e agora, já medicada, estou caminhando devagar até o prédio, aproveitando o clima ameno para espairecer a mente.
Pego o celular para conferir o horário e noto que a bateria acabou.
– Estou te ligando há algum tempo.
Pulo de susto, levando a mão ao peito enquanto ergo o rosto para Christopher, vendo-o apoiando em seu carro, que está estacionado em frente ao prédio de Poncho, com os braços cruzados e uma expressão indecifrável.
– Você ainda vai me fazer infartar com essa mania de aparecer do nada – ofego, engolindo em seco para assimilar o impacto que a sua presença dominante causa em mim. – Acabei de ver que o celular descarregou.
Ele permanece inalterado, me estudando com aquela intensidade que revira o meu estômago, até que solta um longo suspiro e se afasta para o lado, abrindo a porta do carona.
– Vamos.
– Para onde? – pergunto, confusa.
A única resposta que recebo é um arquear de sobrancelha.
– Já está tarde, Christopher. Amanhã...
– Amanhã é domingo e você não tem nenhum compromisso. – Aponta com a cabeça para dentro do veículo. – Entra, Dulce Maria.
Filho da mãe arrogante.
Quem ele pensa que é para afirmar que não tenho compromissos e exigir que eu vá para não-sei-onde em sua companhia, depois de passar o dia inteiro sem entrar em contato comigo?
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Acordo de desafetos
RomansaFui criada para ser a filha exemplar, sempre cumprindo expectativas, sem questionar. Mas essa obediência teve um custo alto: uma vida marcada pela ansiedade, um trabalho que me sufoca, e um noivado sem paixão. Tudo desmorona quando pego meu noivo co...