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CHRISTOPHER UCKERMANN

O bar está praticamente vazio. Além de mim e de um homem próximo ao balcão, conversando com o barman, não há nenhum cliente. Normal para uma noite de terça-feira. As pessoas estão iniciando a semana, reorganizando a rotina, focadas no trabalho ou estudo, não enchendo o rabo de uísque.

Ah, me dá a porra de um desconto. Acabei de colocar a minha mulher em avião que a levará para quase dez quilômetros de distância de mim por seis meses. Não estou no melhor dos humores.

Pego a garrafa para reabastecer o copo, mas paro o movimento na metade ao notar alguém se aproximando. Levanto a cabeça a tempo de ver Caíque se acomodar na cadeira à minha frente.

– Como me encontrou aqui? – pergunto, devolvendo a garrafa à mesa.

– Estava parado em frente ao seu prédio, criando coragem para descer do carro, quando te vi saindo a pé e caminhando até aqui.

Respiro fundo, massageando as têmporas.

– Não é um bom dia, Caíque.

– Não precisa falar nada, cara. Apenas escute, por favor. Respeitei o seu tempo em me mantive afastado nos últimos meses, mas não posso continuar adiando essa conversa.

Cruzo os braços e apoio as costas no espaldar da cadeira, arqueando a sobrancelha.

– Não tem jeito fácil de abordar o assunto, então vou direto ao ponto. – Passa a mão no cabelo preto, sustentando o meu olhar. – Eu estava apaixonado pela Natália quando apresentei vocês.

A informação me surpreende pra caralho. Era a última coisa que eu esperava ouvir.

Caíque e eu nos conhecemos na primeira semana de aula. Estávamos na mesma turma de Arquitetura e Urbanismo, ele se sentou ao meu lado e começou a puxar papo. Eu o achei engraçado, gente boa e inteligente. Ele me contou que deixou Brasília para cursar o nível superior, era a primeira vez que saía do próprio estado e não conhecia ninguém em Campinas. Nós nos demos bem e nos aproximamos de cara.

Dividimos o quarto em uma república de estudantes por um semestre. Depois, alugamos um apartamento de dois quartos perto do campus para termos mais privacidade e menos estresse, porque morar com seis caras desorganizados era um inferno.

Por causa de grana curta, ele raramente conseguia ir Brasília nos feriados e datas comemorativas. Para não o deixar sozinha, eu o levava para casa, onde era recebido de braços abertos pela minha família, em especial dona Alexandra, que o colocou debaixo das suas asas.

Esse era o nível de consideração que eu tinha pelo filho da puta.

No último ano da graduação, ele me apresentou a Natália, que estava dois semestres atrás de nós. Ambos se conheceram em um projeto de pesquisa e se tornaram amigos.

Pelo menos foi assim que ele a definiu.

Uma amiga.

O interesse foi imediato e mútuo. Natália não fez questão de esconder o que queria e, inclusive, foi ela quem tomou a iniciativa de me convidar para sair. Dali em diante, não nos separamos mais.

Se eu desconfiasse que Caíque sentia algo por ela, nunca teria me aproximado.

– Por que não me disse? – questiono.

– Ainda estava naquela fase de processar os meus sentimentos. Eu a achava uma garota incrível. Bonita, inteligente, boa de papo. Fiquei intimidado, acreditando que não teria chances com uma mulher assim. Então vocês se conheceram, começaram a sair, e eu soube que havia perdido a oportunidade.

Acordo de desafetosOnde histórias criam vida. Descubra agora