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CHRISTOPHER UCKERMANN


A queimação nos músculos é tão dolorosa que preciso travar a mandíbula para não gritar.

Mesmo assim, não paro. Desfiro uma sequência de golpes no saco de pancadas, intercalando socos e chutes.

O suor, que cobre cada centímetro da minha pele, escorre para os olhos, me obrigando a piscar várias vezes para afastar a ardência. Quando não funciona, sou forçado a interromper o treino de boxe.

Jogo uma das luvas no tatame e ergo a barra da camisa para esfregar os olhos, mas a situação só piora, porque o tecido também está encharcado.

Frustrado, atravesso a academia até os armários, pego a mochila e me dirijo ao banheiro masculino, entrando em uma cabine vazia. Não gosto de tomar banho aqui, mas ultimamente tem sido necessário por causa dos treinos mais intensos.

A água morna não alivia as dores musculares.

Demoro mais do que o normal para me secar e vestir as roupas limpas, sentindo os movimentos pesados e letárgicos. Passo pomada nas falanges feridas, improvisando ataduras para cobrir as mãos, e caminho apressado para o estacionamento do prédio.

Os últimos sete dias foram infernais.

Não durmo bem, não me alimento direito, não consigo nem me concentrar na porra do trabalho, que costumava ser o meu refúgio.

Ando tão irritado que fiz dois estagiários chorarem. Pedi desculpas e garanti que aquilo não se repetiria, mas, desde então, os funcionários da CNC têm me evitado como se eu fosse uma bomba-relógio prestes a explodir.

É exatamente assim que me sinto, caralho.

Um drogado em abstinência. A diferença é que a minha droga tem nome composto e sobrenome mexicano.

Dulce Maria Saviñon.

A desgraçada foi embora e deixou um buraco no meu peito. Não há um minuto em que não pense nela, não sinta a sua falta, não lute contra a necessidade doentia de procura-la.

O que me impede é o medo.

Um pavor paralisante, que me coloca frente a frente com o meu pior pesadelo.

Não sou idiota, sei o que estou sentindo. Sou louco pela garota. Soube que estava fodido desde o primeiro beijo, a primeira foda, a primeira vez que dormimos juntos, no entanto, no alto da minha arrogância, tentei me convencer de que tinha tudo sob controle e poderia parar a hora que quisesse.

Idiota do caralho.

Nunca tive a menor chance contra Dulce Maria.

O problema é que a intensidade das emoções que ela desperta em mim é poderosa demais para controlada e, sem estar no controle, eu afundo no mar de incertezas que quase me afogou tantas vezes.

Não sei o que fazer para chegar à costa.

Passo em casa para trocar de roupa e enfiar algum alimento no estômago e sigo direto para o trabalho.

Murmuro um bom-dia para os funcionários da recepção e me tranco em minha sala com uma garrafa cheia de café, mergulhando de cabeça nos projetos que preciso finalizar essa semana.

No meio da manhã, ouço batidas na porta e, em seguida, Natália entra sem esperar autorização, se acomodando na cadeira à minha frente.

– O que está acontecendo?

Arqueio a sobrancelha.

– Preciso que seja mais específica.

– Juro que não queria me envolver na questão, mas os funcionários estão com medo de você, Christopher. Os estagiários decidiram no pedra, papel e tesoura quem te entregaria um projeto. Até a Gardênia, que não tem medo de ninguém, tem evitado contato contigo. Está todo mundo pisando em ovos.

Acordo de desafetosOnde histórias criam vida. Descubra agora