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DULCE MARIA SAVIÑON

Estou um pouco dolorida.

Ok, um pouco é um puta eufemismo.

Estou assada a ponto de não conseguir juntar as pernas sem sentir um incômodo agudo, o que não é de se admirar, considerando o tanto de sexo que tenho feito nos últimos dias.

As tentativas de compensar os anos de frustração sexual são deliciosas, não posso negar, mas se não der uma maneirada, vou acabar na emergência, enfrentando o constrangimento de ter que explicar ao médico plantonista o meu problema.

Então, doutor, o pau dele é enorme, grosso e está acabando comigo, mas como sou uma vadia, não consigo negar fogo. Ele é muito gostoso, fode maravilhosamente bem e depois de ter passado quatro anos tendo que implorar ao meu ex-noivo para me comer, acho que mereço essa recompensa. Sabe como, é né?

Dou risada do pensamento bobo e termino de pentear o cabelo em frente ao espelho, saindo do banheiro enrolada no meu roupão novo. Confusa, vejo Christopher parado em frente à porta de saída, que está aberta.

– Ainda não foi? – pergunto, me aproximando. – Achei que tivesse uma reu... – A frase morre em minha boca quando uma cabeça surge por detrás do ombro de Christopher para me olhar.

Uma cabeça que, infelizmente, conheço muito bem.

O que Paco está fazendo aqui?

Os olhos castanhos se arregalam quando nota o meu traje, e eu preciso controlar o impulso de me encolher no tecido felpudo quando a atenção de Paco recai no meu pescoço, no exato ponto onde Christopher deixou um chupão.

Mais um.

Não devo nada a ele. Não somos mais nada. Ele me traiu! Por mais que a situação seja, no mínimo, desconfortável, não estou fazendo nada de errado, por isso ergo e cruzo os braços na frente do peito, me recusando a ser intimidada.

Christopher gira o tronco para me encarar, mas sua mão permanece firme na maçaneta e o seu corpo cobre parcialmente a visão de Paco.

– Parece que você tem visita – diz, irônico, arqueando uma sobrancelha.

– O que significa isso, Dulce? – Paco se espreme no espaço apertado e dá um passo para dentro, intercalando o olhar entre nós dois. – Pensei em te dar um tempo antes de vir conversar com você, mas acho que esperei demais. Para quem se mostrou tão abalada com o que aconteceu, não demorou muito para abrir as pernas para outro.

Tudo acontece muito rápido.

Em um instante, estou abrindo a boca para manda-lo à merda. No outro, Paco está sendo imprensado contra a parede por Christopher, que pressiona a parte externa do antebraço no pescoço dele, os rostos tão colados que os narizes quase se tocam.

Paco não reage. Ele não é idiota, sabe que não teria a menor chance em um confronto físico. Christopher é uns quinze centímetros mais alto e muito mais musculoso, a prova disso é que só precisou de um braço para imobilizá-lo.

– Repete essa merda – desafia, a voz soando baixo, grossa e tão ameaçadora que provoca um arrepio na minha espinha. – Será um prazer te fazer engolir cada palavra.

Sabendo que não se trata de uma ameaça vazia, obrigo minhas pernas a se moverem e corto os metros que nos separam em poucas passadas, puxando Christopher para trás com dificuldade.

– Ele até merece, mas não vale a pena – alerto, me colocando entre os dois, o peitoral de Christopher pressionando as minhas costas enquanto encaro paco, que massageia o pescoço, um pouco assustado. – Sério, Paco? Você acha mesmo que tem algum direito de ficar chateado e se comportar como se fosse o noivo traído?

Acordo de desafetosOnde histórias criam vida. Descubra agora