22

329 25 27
                                        

CHRISTOPHER UCKERMANN

Eu gosto do meu trabalho. Consigo lidar bem com os desafios de uma profissão que tem como fundamento transformar desejos abstratos em realidade, mas algumas situações me fazem questionar se deveria ter optado por outro curso.

E todas elas envolvem engenheiros civis.

Porra, como odeio esses filhos da puta com completo de superioridade.

Durante os mais de dez anos atuando na área, conto nos dedos das mãos as experiências positivas que tive com eles. Nunca vi, por exemplo, um projeto ser aprovado de primeira. Mesmo que esteja impecável, os otários vão encontrar algum detalhe para ser alterado, em uma necessidade doentia de mostrar que têm a última palavra.

Depois de um dia cansativo e estressante, não estou com saco para lidar com egos inflados. Levo o celular ao ouvido enquanto caminho até o meu carro, saindo da obra que acabei de vistoriar.

– Gardênia, entra em contato com Leonardo Viegas e informa que se ele interferir mais uma vez no projeto sem a minha autorização, estaremos fora e ele terá que explicar ao cliente o motivo da nossa saída – oriento, assim que a secretária atende à ligação. – Não dou a mínima se ele é o engenheiro ou o Papa.

Vou ligar para o escritório dele agora mesmo – garante, e posso ouvi-la digitando no computador. – Eu estava mesmo precisando falar com você, Christopher. Natália precisará se ausentar duas semanas por motivos pessoais e me pediu pra checar a possibilidade de você assumir um dos projetos dela. É um cliente antigo, por isso não quer cancelar.

– E Caíque?

Está com a agenda lotada, não conseguiu encaixar.

Suspiro, massageando as têmporas.

Porra, também estou atolado até o rabo de trabalho. Detesto assumir um projeto iniciado por outro arquiteto, mas a ideia de deixar um cliente fiel na mão é ainda mais desagradável.

Eu me pergunto que tipo de problema pessoal requer um afastamento de quinze dias, mas, assim que o pensamento surge, eu o afasto. Embora velhos hábitos sejam difíceis de mudar, o que acontece com Natália não me diz respeito.

Não mais.

– Me envia o que tiver do projeto, Gardênia. Só posso dar uma resposta depois de analisar tudo.

Farei isso agora.

– Obrigado.

Entro no carro e encaixo o celular no suporte preso ao painel, analisando qual é o percurso com menor engarrafamento até o studio. Pelo horário, não tenho esperanças de encontrar uma rota sem trânsito, mas se puder chegar ao apartamento em menos de uma hora, já me dou por satisfeito.

O celular vibra com uma chamada recebida antes que eu dê partida. Franzo a testa ao ver o nome do Rubens na tela.

– Fala, Rubens.

Como vai, Christopher?

– Estou bem. Aconteceu alguma coisa? Você não costuma me ligar durante a semana.

Os segundos de hesitação dele não são um bom sinal.

– É algo com a minha mãe?

– Estou preocupado com ela, filho.

– O que houve?

Alexandra está muito angustiada desde que soube da sua separação com Natália. Não tem dormido direito, não tem se alimentado bem e essa semana já fomos ao hospital duas vezes por conta da pressão arterial alta dela. Ela me fez jurar que não contaria nada a você nem ao seu irmão, mas estou realmente preocupado.

Acordo de desafetosOnde histórias criam vida. Descubra agora