Capítulo 14

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Laura Mendonça

 

   Estou transformando minha vida num inferno, tenho medo dele ... Tenho medo de mim, tenho medo, tenho medo e mais medo. Suas palavras ecoam a em minha mente, mal consegui dormir ontem á noite, estou cansada de tudo isso, ele me jogou verdades na cara, como se fossem palavras soltas ao vento, e isso me doeu , porque é a realidade, estou me afundando em algo que eu simplesmente não consigo controlar, eu cai e não foi culpa de ninguém, não é culpa dessa cadeira... Que inferno me sinto muito mal, Leonardo me fez sentir assim, Imbecil estava muito bem antes dele sequer aparecer em minha vida, me fazendo ter que enfrentar estes sentimentos absurdos.

  Me sinto devastada, quando nem devia estar assim ele é um enfermeiro, talvez me sinta desse jeito por suas palavras serem a mais pura verdade, só me senti desse jeito quando soube que não ia andar mais, e nos meses que se seguiram, ainda me sinto assim. Apesar da falta de vontade de fazer qualquer coisa, sei que tenho que sair do quarto, pois ele vira para trabalhar e eu continuar com a fisioterapia. Me vesti da mesma maneira que de costume amarro o cabelo e saio do quarto sem nem olhar meu reflexo no espelho, não posso

   Tem sido difícil para mim lidar com tudo isso, ir a psicóloga no começo de tudo isso, quando descobri que ia ficar nessa cadeira, não aliviou em nada o que eu sentia, mas com o tempo percebi que fazia alguma diferença sim... Acho que deveria continuar com as sessões já que ontem por incentivo de Leonardo eu fui para o consultório. Não dá pra negar que ele tem algum poder sobre mim, ele consegue que eu faça as coisas, mesmo não querendo, é como se me empurrasse para as fazer, como uma ave que quer que o filho aprenda a voar.

- Laura querida! Pareces muito mais linda.—minha mãe falou, assim que me viu na sala.

   Linda... Que nada, estou com olheiras não dormi bem ontem, mas ela não vai reparar nisso, ela é ocupada demais, mas não a culpo já ficou tempo suficiente do meu lado mesmo com este meu gênio, dou um sorriso forçado e saio de perto da mulher elegante e fui para o jardim, esperar o enfermeiro.

- Bom dia senhora Laura, vai querer algo para comer?—Maria perguntou chegando perto de mim.

- Não, me traga apenas um café.

- Claro senhora, com licença.

    Maria se afasta de mim com celeridade, observo a vastidão da fazenda, enquanto os trabalhadores tratam dela, não param... A ventania acaricia meu rosto fecho os olhos por por momento revivendo o momento que Leonardo me deu o primeiro beijo, foi como despertar para uma nova realidade, ou enchergar a minha, sou uma aleijada... "Não, Laura. Você tem medo de mim. Medo de que eu te mostre que a cadeira não te define. Que você ainda é uma mulher com desejos, com vontades. É isso que te assusta."

     Eu tenho desejos e vontades, mas estes sentimentos voltaram a surgir por causa dele! E eu tenho medo sim, antes dele chegar eu era apenas uma sombra viva isolada eu estava confortável em minhas lembranças, olhando para todas as medalhas e troféus que conquistei, mas aí surgiu ele trazendo sentimentos adormecidos, o que ele quer que eu faça viva! Viver um romance breve com ele? Eu sei que vou me machucar, coisas assim nunca acabam bem, ele é bonito trabalha e ganha seu dinheiro obviamente tem varias mulheres atrás dele, e eu seria mais uma na sua lista, e ainda uma inútil... Ele com certeza quer me iludir, brincar comigo e me jogar fora, mesmo que ele nunca tenha falado isso, pois me trata bem, e tenta elevar minha autoestima, mas é isso que sinto toda vez que penso...

"Mas sabe o que mais é insuportável, Laura? Ver você se esconder atrás dessa amargura. Ver você usar essa cadeira como uma desculpa para não viver."

  Estou vivendo sim, apenas da maneira que consigo e é dessa forma usando a amargura, e frieza, e é isso que faz com que as pessoas não se aproximem de mim, me distanciei emocionalmente da minha família. Vejo as horas no meu telefone, já passavam das 9 e a uma hora destas Leonardo já deveria ter chegado, já passa uma hora do seu horário normal de chegar, dou um suspiro. Vejo Marta se aproximar de mim com uma caneca de café em suas mãos, ela sorria, aquele sorriso que me irritava, era para me provocar ele coloca a caneca de café bem do meu lado e se senta.

- Maria pediu que eu trouxesse o café para você .—sorriu em forma de deboche.—está esperando Leonardo chegar?

   Meus Deus, preciso de paciência com essa garota.

- Não tens nada para fazer hoje Marta!—minha voz sai áspera.

- Aí! Não precisas falar desse jeito sua amargurada, mas olha... —coloca os cotovelos na mesa, enquando apoia seu rosto nas mãos.— cá pra mim Leonardo se cansou de te aturar e não vem mais.—sorriu parecendo alegre.

   Ele não vem!

- Se isso de facto é verdade, para mim é bom.

  Digo tudo de boca para fora... Pois por dentro meu estômago parece ter um nó.

- Ele demorou mais que suas outras enfermeiras praticamente 4 semanas o recorde, o homem tentou, mas olhar para você deve tê-lo cansado... E isso é uma pena irmãzinha, eu gostava dele era um homem bonito e charmoso.

  Se levantou e foi andando com o seu gingado, minha vontade era de lhe atirar com alguma coisa, pra ver se assim ela cresce, que raiva! Olho para a caneca de café, perdi até a vontade...

               
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     Fiquei por horas esperando ele chegar e nada ele não vem hoje, Marta tinha razão, eu nunca liguei muito para o que minha irmã dizia, mas sobre isso ela tinha razão... Ele se cansou de mim tal como as outras enfermeiras, mas também porquê me admiro, ontem tivemos uma espécie de discussão porque ele continuaria aqui? O meu dia estragou por completo, foi monótono como a semanas não era.

   Estou em meu quarto fazem algumas horas depois de passar todo o dia no jardim em perfeito silêncio... Ouço batidas em minha porta e a pessoa nem espera tanto e já entra, me viro para ver quem era, minha mãe...

- Laura os empregados me falaram que não querias comer? Verdade que o enfermeiro não apareceu?

   A mulher com um corpo meio avantajado, me encarava com o rosto sério.

- Não tinha fome, e quanto ao enfermeiro, se ele desistiu não tenho culpa desta vez não fiz nada, quero ficar sozinha.

  Volto a olhar para a janela buscando um pouco de alívio na paisagem linda da fazenda ao anoitecer.

- Olha Laura, eu e seu pai toleramos muito estes teus comportamentos, mas isso chega a aborrecer, ages como uma criança.. Eu tentei lidar com sua situação mas não consigo Laura.

  Ele tentou lidar com a minha situação! E eu que tenho que lidar com ela!

- Eu lido com a situação todos os dias mãe, acha que eu quero estar nessa cadeira inútil!—altero a voz.

- Não fales assim comigo, tens que entender que está é a tua realidade agora!—ela fala autoritária.

- Eu aceitei, são vocês que tentam procurar "soluções" se me deixassem em paz eu estaria bem, não presciso de enfermeiros, psicólogos, fisioterapia, opiniões médicas, nada disso, tem razão mãe chega... Chega disso estou muito cansada.

   Sinto o meu rosto queimar, lágrimas adornam ele, estou lacrimejando na frente da minha mãe, coisa que eu não faço desde... Que me percebo por gente, ela me olha com arrependimento e ternura.

- Laura eu sinto muito...

- Eu quero ficar sozinha mãe me deixa...—falo limpando as lágrimas.

  Minha mãe tenta me tocar mas eu não deixo, ela suspira e sai do quarto... Aí eu posso realmente chorar como nunca antes, nem quando soube que ia ficar presa a essa cadeira eu chorei como estou chorando hoje.

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