Capítulo 18

1 0 0
                                    

Leonardo Monteiro

    
  
    Um enfermeiro envolvido com sua paciente, mais errado que isso não poderia ser, completei e venci o desafio, domar a fera, mas de um forma nada boa, ela está a minha mercê, e eu gosto dela, a desejo, estar com ela é bom, ela é uma mulher amável e sensivel, que apenas se escondia por detrás da faixada de mulher arrogante e amarga. Entretanto sei que não vai durar para sempre, em breve tudo isso vai acabar, e será doloroso mais para ela do que para mim, não me apego fácil a mulheres, eu deveria ter evitado que isso chegasse a esse ponto, fui burro, foi uma tolice da minha parte me deixar levar pelo desejo, onde já se viu um enfermeiro e uma paciente... Se acontecesse em uma ocasião em que eu já não fosse seu enfermeiro seria muito mais fácil, me descontrolei e agora, a vida vai seguindo.

   Minha avó continua doente, e eu tenho cuidado dela assim como o meu avô, todos sabemos que vamos partir um dia, isso é algo inevitável, mas pensar que meus avós me deixarão me faz sofrer não adianta dizer que não me afeta de alguma maneira, são os únicos modelos de pais que eu tive na vida.
 
  Saio de casa pronto para enfrentar mais um dia de trabalho.

                        ********

    Estávamos no ginásio, e eu estava ajudando Laura nas barras verticais. Ela estava se esforçando tanto, e eu não podia deixar de admirar sua determinação, ela mudou consideravelmente, fico feliz que ela esteja lidando com sua condição de uma melhor forma, e saber que eu tenho dedo nisso me deixa ainda mais feliz. O suor escorria por seu rosto, mas havia uma luz em seus olhos que me fazia acreditar que ela estava mais forte do que nunca.

- Você consegue, Laura! — Incentivei, segurando-a com firmeza. — Mantenha os ombros retos. Isso mesmo!

     Ela respirou fundo e continuou, mas, ao mesmo tempo, havia algo em sua mente que a distraía. Assim que ela desceu, com um suspiro pesado, olhei nos olhos dela

- O que foi?

  Laura hesitou por um momento antes de falar, então é algo que a preocupa muito.

- O que nós temos, Leonardo? O que isso significa?

   Eu sabia que essa pergunta estaria sempre no ar, eu deveria saber que ela esperava algo mais que isso, ela não é uma mulher de apenas viver o momento como sua irmã Marta, mas não queria me comprometer a definir o que sentíamos.

- Devemos apenas aproveitar o que temos. Até onde isso nos levar, não sei. Mas o que importa é que estamos aqui, agora.

    Ela se aproximou, e, antes que eu pudesse entender, agarrou meu rosto e me beijou. O beijo foi intenso, como se ela estivesse expressando tudo o que não conseguia dizer. Aquela paixão me consumiu, e, em questão de segundos, estávamos nos despedindo da razão, e mesmo que minha mente me avisasse que tinhamos que parar com tudo isso, meu corpo não respondia, a puxei ainda mais para mim juntando totalmente os nossos corpos, ele sorriu em meio ao beijo o que me deixou ainda mais louco. O ginásio, que deveria ser apenas um lugar de reabilitação, se transformou em nosso refúgio longe da vista de todos. Ali, no calor dos nossos corpos, fizemos sexo, entregues àquele momento sem pensar no que viria a seguir.

  A ajudei a vestir o restante da sua roupa e a coloquei na cadeira de rodas, parece que o ciclo continua, meu corpo não obedece aos comandos da minha mente, então tudo que me resta é aproveitar estes momentos como se fossem os últimos, porque chegará o dia em que de facto será a última vez que vivo tudo isso com Laura. Seus olhos tinham um brilho, seu rosto demonstrava satisfação e alegria.

- Você quer comer algo agora?—pergunto sem olhar diretamente para ela, apenas endireitava a camisa que estava em meu corpo.

   Ela estava se apaixonando e eu não estava aguentando a pressão, antes o homem espontâneo e debochado em sua presente, estava me retraindo um pouco. Finalmente olho para ela.

- Sim, estou morrendo de fome e cansada.—ela sorriu.

- Se arrepende do seu cansaço?—falo insinuante com um sorriso nos lábios.

- Não, eu gosto de estar com você, me faz sentir viva.

- Você sempre esteve viva Laura, e não precisa de mim para se sentir assim.

    Ela me olha com estranheza como se eu dissesse alguma mentira, ela não pode pensar dessa forma.

- Podemos ficar por quis mais um pouco só...—trocou de assunto.

   Me aproximo dela me abaixando para ficar da sua altura.

- Não little dove, vamos descer, olha pra quem não gostava desse lugar pra nada, agora o amas.—sorrio de canto.

- Só porque estou com você, aqui comigo, fazes deste lugar divertido.

- Estás bem saidinha para quem nem ia com a minha cara.

- Mudei.

- Sei!—falo com um ar de presunçoso.

   Sorrimos!

                         ********

  
     Cada dia que se passava era mais um dia para tornar as coisas mais difíceis para nós quando tudo isso tivesse que terminar, mas ao mesmo tempo estava vivendo de forma intensa cada momento com Luara, sua reabilitação vai muito bem tem ido às consultas com a psicóloga e até com o médico particular da família, Mateus Lemos, responsável pelo tratamento e reabilitação dela, foi ele quem me sugeriu para a família, por isso podemos dizer que somos conhecidos. Ele falou comigo estes dias sobre a possibilidade dela voltar a andar, mas teria que passar por uma cirurgia e mais reabilitação, mas não se falou disso pra ela.

  Em suma tudo está bem por enquanto. Havíamos terminado mais uma sessão de fisioterapia, estavamos na sala de estar da fazenda, e decidi preparar um lanche especial para ela. O sol estava se pondo, e a luz dourada deixava tudo mais bonito. Tinha colocado algumas frutas e um pouco de chocolate em uma bandeja Maria Sorriu ao me observar fazer tal coisa.

- Não precisava fazer isso, podia apenas pedir para mim.—falou a mulher de meia idade.

- Eu gosto de fazer.—sorrio com a bandeja nas mãos.

- Gosto da sua gentileza, Laura está em boas mãos.

  Sorrio de leve novamente, um sorriso malicioso, por lembrar de tudo que fazemos quando ninguém esta a ver.

- Não custa nada ser gentil, com uma pessoa amargurada.—pisco para ela e saio da cozinha.

    Quando entrei na sala novamente constatei que o  meu telefone vibrou na mesa. Ao olhar, vi o nome de uma mulher na tela, "Vanessa".

    Instantaneamente, um frio na barriga me pegou de surpresa, pois Laura estava bem do lado e viu a tela, pude notar a mudança em sua expressão.

- Quem é essa? — Ela perguntou, sua voz carregada de ciúmes.

   Eu sabia que tinha que ser cuidadoso, mas não queria mentir.

- É apenas uma amiga, nada mais.

   Ela cruzou os braços, claramente não convencida.

- Uma amiga? Parece que você tem muitas amigas, Leonardo.

   Eu me aproximei dela, tentando suavizar a situação.

- Laura, você sabe que você é a única que eu quero. Não há nada entre mim e essa mulher. Você é quem ocupa meus pensamentos nos últimos dias.

    Laura ainda parecia um pouco irritada, mas seu olhar suavizou.

- Só queria ter certeza, porque eu não gosto de dividir.

Sorrindo, eu peguei sua mão e a puxei para mais perto.

- Você não precisa se preocupar com isso. Estou aqui, e isso é o que realmente importa.

  E com isso, a tensão se dissipou, e nós compartilhamos um beijo doce e rápido, selando aquele momento de insegurança com a certeza do que realmente éramos um para o outro...

Além Do Toque Onde histórias criam vida. Descubra agora