Capítulo 22

0 0 0
                                    

Laura  Mendonça

    Estávamos deitados no chão do ginásio. Minha cabeça descansava no peito de Leonardo, enquanto seus dedos traçavam círculos lentos em meu braço. O silêncio era confortável, mas havia algo me incomodando. Algo que eu não conseguia ignorar mais. Ele parecia tão relaxado, tão à vontade, enquanto eu estava à beira de explodir com perguntas.

- Leo— comecei, hesitante — o que somos nós?

    Houve um breve silêncio antes dele responder, como se estivesse escolhendo bem as palavras, o que era um costume quando eu fazia está pergunta.

- Amigos, é claro — ele disse, sorrindo, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

   Amigos! De repente está palavra soou feia para mim...

    Aquilo me atingiu como um soco. Amigos? Depois de tudo o que tínhamos passado, era só isso que ele via? Levantei a cabeça de seu peito, me sentando rapidamente.

- Amigos? É isso o que você pensa que somos?— perguntei, minha voz saindo mais alta do que eu pretendia.

   Leonardo, ainda deitado, me olhou com um misto de surpresa e confusão. Ele também se sentou, coçando a parte de trás da cabeça como fazia sempre que ficava desconfortável.

- Laura, o que você quer que eu diga? A gente... Se dá bem. Temos momentos... Mas não podemos ser mais que isso. Não quero complicar as coisas.— ele explicou, desviando o olhar.

- Complicar as coisas?— rebati, indignada. — Você acha que o que temos agora é simples?

   Ele suspirou, como se estivesse tentando se controlar.

- Eu não... Olha, Laura, é melhor assim. Eu não sou o homem certo pra você. Você merece mais do que alguém que... Que não pode te dar o que você quer.

- Você nem sabe o que eu quero! — retruquei, frustrada.

    Ele me olhou, sério desta vez, e se aproximou.

- Talvez eu saiba. E por isso eu digo que não posso te dar, não posso te dar algo pela metade. Porque não seria justo.

   Eu estava prestes a voltar para a cadeira de rodas e ir embora, mas então ele segurou minha mão e, antes que eu pudesse protestar, me puxou de volta para o chão, deitando novamente minha cabeça em seu peito.

- Fica aqui, não vá— ele murmurou suavemente. —escuta meu coração.

- Leo, eu não preciso ouvir seu coração. Preciso que você seja honesto comigo — falei, ainda irritada, mas sua mão estava quente em minhas costas, me acalmando aos poucos.

   Ele deu um sorriso pequeno, quase triste.

- Eu estou sendo honesto, little dove. Só... não quero te machucar.

    Eu suspirei, frustrada, mas, por algum motivo, deixei meu corpo relaxar contra o dele. O coração dele batia forte sob minha orelha, e por mais que as palavras dele não fizessem sentido, eu não conseguia me afastar.

****

    Agora percebo o motivo dele não ter querido uma relação séria comigo, ele é um mulherengo mentiroso, que mentiu para mim, estava dormindo com a minha irmã bem na minha cara, quando se fazia do homem bonzinho comigo que me queria, devia ser assim que ele tratava todas as mulheres até a Marta... Ainda dói, não tem como negar, mas tento não ficar pensando nele, apesar de ser quase impossível pois as lembranças sempre surgem, pois todos os cantos têm o seu cheiro, a sua essência, cada lugar que estivemos juntos está marcado, e sempre me fazem lembrar dele.

   Pensei por uns dias sobre a cirurgia que Mateus me falou, onde há possibilidade deu voltar a andar, e eu resolvi fazer, mesmo com os riscos que ela implica, o pior que pode me acontecer é eu morrer, porque de resto não será nada demais, por um lado tem a opção de não dar certo e eu continuar como estou, ou com metade de um dos meus membros, e a outra opção é eu voltar a andar, a opção que eu desejo que se concretize, estou esperando por tal cirurgia faz um mês.

   Tenho falado mais com o Pedro que contou que viria pra cá no fim de semana, estou feliz pelo meu amigo. Hoje vou sair com Mateus ele me convidou para sair, eu não neguei, não quero voltar a me trancar em casa por causa de Leonardo, ele me estimulou a sair da minha zona de conforto e não vou voltar para a mesma agora por causa dele... Aceitei essa cadeira mesmo que às vezes eu só queira que desapareça. Estava distraída, remexendo o armário, tentando encontrar algo confortável para usar para tal saida. A semana tinha sido difícil, porque agora eu faço fisioterapia sozinha isso enquanto não faço a cirurgia, então eu só queria uma roupa que me fizesse sentir um pouco mais leve. Enquanto mexia nas roupas, meus dedos tocaram em um tecido macio, diferente dos outros.

   O vestido vermelho... Fazem uns meses que o tenho

   Eu o tirei lentamente do cabide, deixando o tecido escorregar entre meus dedos. Aquele vestido... foi um presente de Leonardo. Lembro de como ele o entregou com aquele sorriso malandro, o brilho nos olhos como se estivesse me presenteando com algo mais do que apenas uma peça de roupa.

    Segurei o vestido contra o meu peito e fechei os olhos. Uma onda de nostalgia tomou conta de mim. Senti falta dele. Senti falta do jeito que ele me olhava, como se eu fosse a única pessoa que importava no mundo. Mas, ao mesmo tempo, uma tristeza silenciosa invadiu o meu coração.

   Tudo mudou. Eu e Leo... o que éramos, o que poderíamos ter sido, estava ali, perdido no tempo. Um suspiro pesado escapou dos meus lábios enquanto acariciava o tecido, tentando conter as lembranças que inundavam a minha mente.

   Mesmo assim, não consegui deixar de sorrir. Talvez fosse loucura, mas, por um breve momento, ao segurar aquele vestido, eu quase pude sentir o abraço de Leo novamente. Voltei a colocar o vestido no armário e fico procurando outra roupa, optei por um vestido comprido com um decote leve, fiz um rabo de cavalo, passei o meu perfume e estava pronta, sem exagero. Desço a rampa com a bolsa em minhas mãos avistando Mateus conversar com meu pai era previsto que eu fosse ao seu encontro e não que ele viesse pra cá, me aproximo dos dois homens.

- Mateus, boa tarde.—cumprimento e ele vem até mim me dar um abraço.

- Boa tarde Laura ele me olhou com ternura, o que virou costume.

- Laura estás linda.—elogiou o meu pai

- Obrigada pai, nós já vamos.

- Está bem, se cuidem.—bateu de leve no ombro de Mateus que sorriu.

  Mateus empurrou a minha cadeira até chegarmos ao seu carro, vamos apenas almoçar a um restaurante

                        ********

  O lugar estava movimentado, montes de clientes em suas mesas apreciando um bom prato da terra, ia me esquecendo como era vir para um restaurante, é a primeira vez que venho a um após o meu acidente e hoje me sinto muito mais segura pra o saber ainda mais com Mateus ao meu lado, sendo meu amigo e médico. Ele me ajuda afastando a cadeira e se se senta em sua cadeira.

  Fizemos os pedidos rapidamente não demoramos para escolher.... A conversa fluia em torno do assunto da cirurgia das minhas expectativas, preferi não criar tantas, que fosse o que Deus quisesse.

- Eu já elogie você hoje?—perguntou me olhando feliz.

- Já, uma  vez—levei o garfo a boca.

- Então vou elogiar pela segunda vez, você está linda.

- Thanks.—sorrio sem mostrar os dentes.

   Logo perco o foco no que Mateus dizia pois meu foco se voltou a mesa que estava a duas mesas de distancia da nossa, Leonardo estava almoçando com uma mulher super animado, meu peito apertou, eu sabia que ao voltar a vê-lo haveria aquela sensação de ressentimento, pois tudo ainda é recente se passaram apenas dois meses, e vejo que ele lidou bem com tudo... Bem ele nem deve ter sentido algo por mim, aproveitador, vê-lo com uma mulher me afetou mais do que se eu o visse só.

  Se eu achava antes que ele poderia ter sentido algo especial por mim, agora isso prova que eu estava enganada, outra vez...

Além Do Toque Onde histórias criam vida. Descubra agora