Capítulo 17

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Laura Mendonça

   
     
       Nos últimos dias, as coisas entre Leonardo e eu mudaram de forma que eu não esperava, não tinha como ser diferente depois do que aconteceu naquele ginásio, ambos sabiamos que tudo ia mudar mesmo, ou pra melhor ou para pior... E digo que desta vez as coisas melhoraram para melhor apesar de tudo. A relação que antes era pra ser estritamente profissional começou a transbordar para algo muito mais íntimo. Havia uma conexão entre nós, uma eletricidade que não conseguíamos ignorar. Mesmo nos momentos de reabilitação, sempre havia um toque a mais, um olhar mais profundo. É como se o papel de enfermeiro e paciente tivesse se tornado uma fachada para algo que crescia em segredo, e eu tenho me sentido muito feliz com isso mesmo sento uma coisa totalmente errada.

    Todos estão reparando que estou muito mais feliz que antes, me arrumando um pouco mais, a amargura e frieza que outrora rondavam o meu ser desapareceram como magia, Leonardo tem uma  capacidade de me deixar mais calma e mança... Desço pela rampa após me preparar,  em meu corpo uso as roupas compridas como de costume, cheguei até a sala de estar pegando o telefone para mandar uma mensagem a Pedro, temos falado muito nos últimos dias, estou feliz fazer o que, enquanto sinto tal coisa melhor viver. Guardo o telefone com um sorriso que dança em meus lábios e me dirijo a sala de jantar aonde vejo os meus pais.

- Bom dia família —a minha voz sai com empolgação

- Bom dia Laura laura.—os dois respondem em uníssono.

- Estou a gostar de te ver assim Laura, algo mudou.—meu pai fala com os olhos brilhando de felicidade.

- Sim pai, acho que me toquei que precisava mudar—sorrio começando a servir o que ia comer

- Acho que o enfermeiro tem a ver com isso.—minha mãe fala após dar um gole no seu café.

- Ele tem feito um bom trabalho.—falo simples

   Evito que um sorriso bobo veja visto em meu rosto, quando penso em tudo que ele tem feito por mim nestas semanas.

- Laura eu e sua mãe ficamos muito felizes por está mudança, não gostávamos de te ver daquele jeito, nos partia o coração, e nem querias ajuda.—sua voz era terna, suave e cuidadosa ao pronunciar as palavras.

- Eu sei pai, eu estava tentando lidar com tudo, e ainda estou.

   Ambos sorriram para mim felizes, para os pais os filhos são tão importantes, que sua tristeza é a tristeza deles e eu estou vendo que minha alegria está transbordando para eles e para as pessoas ao nosso redor, e isso me alegra muito...

- Do que estão sorrindo?

    Marta aparece ainda de pijama, com um um semblante de que não dormiu a noite, estava sonolenta coçando os olhos, ela logo sentou á mesa.

- Alguém acordou de mau humor.—brinquei.

- Hahaha—ela fala aborrecida.

  Ultimamente Marta não anda com o seu típico ar sarcástico e implicante, mas claro que nunca para em casa, meus pais deviam falar com ela, desde o meu acidente, que parei de prestar a devida atenção a essa menina e sei que está fazendo coisas erradas

                       *********

    Após estarmos no ginásio para mais uma sessão de fisioterapia, Leonardo está empurrando a minha cadeira agora, enquanto observamos a fazenda, os trabalhadores que desempenham os respectivos trabalhos a todo vapor, o clima fresco do dia, fazem do momento bom, especial até.

- Para onde vai me levar?—estou curiosa como uma criança.

- Espera pra ver little dove.

  Sorrio, gosto quando ele me chama assim, é um nome carinhoso e gentil, significa que ele sente alho especial por mim.

- Como você quiser enfermeiro.

  Ele continuou a empurrar a cadeira até chegarmos nos estábulos, meu coração errou a batida, meu peito apertou, não estava confortável em estar neste lugar, após o acidente que eu não entro aqui ou vejo um cavalo, imagens deste dia fatídico me vem a mente... Não posso ficar neste lugar. Leonardo vem para minha frente e se abaixo eu nem tento esconder o desconforto.

- Eu... Me tira daqui leonardo.—falo nervosa.

- Calma, não tem que ter medo—acariciou o meu rosto.

- Eu... Não consigo, ainda não...

- Vamos ficar só mais um pouco está bem.

   Sua voz era tão calma que me transmitiu um pouco de tranquilidade, enquanto ele tocava no meu cavalo, era o meu cavalo de competições, dei-lhe o nome de dourado, eu apenas o observo a uma distância considerável, ainda não consigo tocar em um cavalo, estar num estábulo é um passo para me livrar deste medo mas é um sacrifício. Se passaram uns minutos até Leonardo se aproximar de mim pegando nos braços da cadeira e me encarar com seus olhos que me fascinam.

- Bom trabalho, estás a ser muito corajosa.—sorri para mim

- Obrigada.— sussurro

                     
                        ********

    Saímos dos estábulos, mas era óbvio que ele não estava me levando para dentro de casa ao invés disso nos continuamos a caminhar pela fazenda, ou ele caminhava, já que eu estava naquela cadeira, mas como ele fala, está cadeira é apenas um extensão de mim, eu posso fazer o que quiser. Demos umas tantas voltas, o sol estava alto no céu, indicando que era praticamente meio dia, Leonardo decidiu me levar para um dos campos próximos dessa fazenda enorme, um pouco mais isolado, e ele me tirou da cadeira de rodas com uma delicadeza que me fez sentir segura, e juntos nos sentamos no mato, rodeados pela natureza. Cada vez que ele me chamava de "little dove", isso me fazia sentir um misto de carinho e fragilidade. Era como se estivéssemos em nosso próprio mundo, longe de todas as expectativas e olhares, estou gostando de me sentir assim e não me sentir mais com raiva de tudo, estou vivendo da forma que sou, sabendo das minhas limitações, não sou a mesma de antes, sou uma versão melhorada.

    Enquanto conversávamos, ele se aproximou e me deu um beijo rápido, um toque suave que fez meu coração acelerar. O momento foi tão bonito que eu quase me esqueci de tudo ao nosso redor, mas logo a realidade voltou à tona, e eu sussurrei, preocupada:

- E se alguém nos ver?

    Leonardo sorriu, aquele sorriso provocador que eu conhecia tão bem.

- Tens medo?—me encarou.

- Não... Mas...

- Então que vejam. O que temos é só nosso, Laura. Ninguém pode tirar isso de nós.

- E o que temos realmente?

   Ele desvia seu olhar brevemente dos meus como se estivesse pensando e isso me deixa insegura, ele estava hesitante, apenas por uma simples pergunta, logo seus olhos tornam a me encarar com doçura e a determinação e animação soltaram ao seu rosto

- Uma conexão, algo que nos une, nisso não é bom?

- Sim... Mas...

  Outra vez ele me corta.

- Mas nada, estamos juntos e isso é o que importa, não os outros, apenas nós, e este lugar bonito.

  Suas palavras tinham poder em mim, seus olhos eram hipnotizantes, como pôde. Eu me perdi naquele olhar, e pela primeira vez, percebi que não me importava com o mundo exterior. O que importava era aquele instante, aquela conexão que crescia entre nós.



"Little dove" é uma expressão em inglês que pode ser traduzida como "pequena pomba".

   Se chegou até aqui, avance e continue lendo... Beijos.😘

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