Capítulo 31

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Laura Mendonça

    Voltar a faculdade foi algo que eu precisava fazer, retomar os meus estudos e terminar o que havia começado, estou já no último ano, me sentindo realizada pelo menos em parte. Estou voltando aos poucos a equitação, tenho cavalgado para manter o ritmo e quem sabe voltar as competições.

  Tudo estava pronta para eu ir para a faculdade preferi o turno da manhã, e Lúcio foi levado para a creche, é bom interagir com outras crianças já que aqui não tem nenhuma, fazem dias que não vejo Marta desde um dia antes do aniversário do filho sempre está fora de casa e quando volta é tarde por isso nossos pais ainda nem conseguiram falar com ela, não sei aonde nós como família falhamos com ela. Estava praticamente de saída quando meu telefone tocou, era um nome que eu não conhecia, mesmo hesitante eu atendi.

  Quando ouvi a voz de Leonardo, eu estremeci, meu sangue gelou, e quando ele falou que precisava de mim eu fiquei meio sem reação, ele não parecia bem, mas não me explicou muito por telefone. Em pouco tempo ele me enviou o endereço e sem pensar muito pego no meu carro e vou dirigindo até lá, nem pensei muito na faculdade.

                         ********

    Eu estava nervosa enquanto esperava do lado de fora da casa de Leo, com o coração acelerado. Quando bati no portão, ele veio quase correndo para abrir, e logo vi que algo estava errado. O olhar dele estava distante, vazio, e parecia perdido de um jeito que eu nunca tinha visto antes. Ele me puxou para dentro da casa sem dizer uma palavra, e assim que fechou a porta, ele me abraçou.

    Por um momento, fiquei sem reação, mas logo senti o peso do desespero dele, e o abracei de volta, apertando-o forte. Quando ele finalmente me soltou, vi que seus olhos estavam lacrimejando, e sem pensar, levei minhas mãos até o rosto dele, limpando aquelas lágrimas com delicadeza.

- Leo, o que aconteceu? — perguntei suavemente, pegando na mão dele e o levando para o sofá.

   Ele sentou, e parecia estar lutando com as palavras. Eu esperava, sem pressa, enquanto ele olhava para as mãos, respirando fundo.

- Ela apareceu... minha mãe. — Ele murmurou, como se as palavras fossem amargas demais para sair. — Depois de todos esses anos... ela simplesmente apareceu. E eu... eu não sei o que fazer.

   Eu vi a dor nos olhos dele, e o peso de anos de mágoa que ele sempre tentou esconder. Apertei a mão dele, querendo oferecer alguma força, mas sem saber o que dizer naquele momento.

- Laura, eu sou um homem de 28 anos... e ainda estou aqui, sofrendo por uma mãe que me abandonou. — A voz dele estava embargada. — Como é possível? Eu devia ser mais forte. Eu devia conseguir lidar com isso, mas... não consigo.

   Ele balançou a cabeça, com raiva de si mesmo, e eu senti o coração apertar ao vê-lo daquele jeito.

- Me desculpa por te chamar, por te fazer vir até aqui... mas você é a única pessoa que consegue me acalmar, a única em quem eu confio de verdade. Eu não sabia o que fazer.

- Não precisa se desculpar, Leo. — Minha voz saiu firme, tentando trazer alguma tranquilidade. — Eu estou aqui, está bem? E eu vou ficar aqui o tempo que você precisar.

   Ele olhou para mim com tanta vulnerabilidade que me fez querer abraçá-lo de novo. Eu sentia a luta interna dele, o peso de anos de abandono, e tudo o que eu queria era tirar essa dor dele, nem que fosse por um momento.

- Eu só... eu não sei como lidar com isso. Ela me deixou, Laura. Eu passei a vida toda sem saber o que é ter uma mãe de verdade, e agora ela acha que pode aparecer e... resolver tudo. Eu não quero ouvir as desculpas dela, eu não quero nada disso. — Ele suspirou, passando as mãos no rosto. — E eu nem sei se sou forte o bastante pra enfrentar isso agora.

- Leo, você é forte sim, mesmo que não sinta isso agora. — Eu disse, segurando sua mão com mais firmeza. — É natural que você esteja sentindo tudo isso. Não existe um jeito certo de lidar com uma coisa dessas. Mas eu estou aqui, e não vou sair do seu lado.

  Ele me olhou, e pela primeira vez naquela conversa, esboçou um pequeno sorriso, mesmo que triste.

- Eu te amo, Laura. Mesmo que esse não seja o momento certo... eu só precisava te dizer isso. Você é a única pessoa que me faz sentir que não estou sozinho nesse mundo.

   As palavras dele bateram fundo, e eu fiquei sem saber o que dizer. Havia tanta verdade, tanta emoção naquele "eu te amo", que me deixou sem palavras foi a primeira vez que o escutei falar isso mesmo sabendo disso pelo livro. Tudo o que fiz foi apertar sua mão e olhá-lo nos olhos, esperando que ele sentisse o mesmo consolo que ele me deu tantas vezes.

   O silêncio entre nós se estendeu por um momento, mas não era desconfortável. Aos poucos, a conversa foi mudando de rumo, com Leo se acalmando.

   Eu ainda segurava a mão dele, sentindo a energia mais leve, mas a tensão no ar era inegável. A conversa lentamente começou a se direcionar para nós dois, e eu sabia que esse momento chegaria.

   Leo me olhou nos olhos, e eu podia ver algo diferente em seu olhar.

- Eu sei que você está feliz, Laura, de verdade. E eu estou feliz por você estar feliz. — Ele começou, com a voz carregada de sinceridade. — Mas... eu preciso ser honesto com você. Eu te amo. Sempre vou te amar.

     Essas palavras vieram com tanto peso que me deixaram sem saber como reagir. Eu já sabia disso, claro, mas ouvir Leo confessar tão abertamente me pegou desprevenida. Meu coração apertou, e por um momento, não soube o que dizer.

- Leo... — comecei, tentando ser gentil, mas sem alimentar algo que não tinha mais lugar. — Eu também gosto de ti... Sei que isso é difícil de ouvir, mas eu estou com outra pessoa agora, e você sabe disso. E mesmo que a gente não seja um casal, você vai sempre ser uma parte importante da minha vida. Nós podemos ser amigos, não precisamos perder isso.

    Leo se levantou abruptamente, afastando-se de mim como se aquelas palavras o tivessem atingido.

- Não, Laura. — Ele balançou a cabeça, irritado. — Nós não podemos ser só amigos. Eu... Simplismente isso não vai dar certo. Não consigo olhar para você e fingir que não sinto  nada. Isso... isso me machuca, prefiro ficar longe.

  Fiquei paralisada por um segundo, observando-o lutar com seus sentimentos. E antes que eu pudesse pensar muito no que fazer, me levantei e me aproximei dele.

- Leo... — comecei, mas antes que pudesse terminar, ele me puxou para perto e, de repente, seus lábios estavam nos meus.

   Por um instante, tudo parou. O mundo ao nosso redor desapareceu, e o calor do corpo dele, a pressão suave do beijo, fez com que meu coração batesse mais rápido. Não era planejado, não era algo que eu esperava. Mas por aquele momento, eu estava ali, entregue.

   Quando ele finalmente se afastou, os olhos dele estavam cheios de arrependimento.

- Desculpa. — Ele murmurou, a voz quase inaudível. — Eu não devia ter feito isso.

Eu ainda estava processando o que tinha acontecido, meu coração ainda acelerado. As palavras pareciam presas na minha garganta, mas tudo o que eu conseguia pensar era na dor evidente nos olhos dele.

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