22. Revelações

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Jimin viu a tromba d'água se romper no horizonte e, num instante, as águas se voltaram contra ele com uma fúria incontrolável. Antes de ser engolido pelo mar, ouviu um grito estridente, um som não-humano que reverberava pelo ar. A correnteza o envolveu com uma força esmagadora, e ele sentiu seu corpo sendo puxado para as profundezas, como se o próprio oceano, dotado de uma vontade consciente, estivesse determinado a afogá-lo.

Ele tentou nadar, lutando contra as ondas e contra o medo crescente, mas a força das águas era implacável. Cada movimento parecia inútil, e seu corpo se exauria rapidamente. A água preenchia seus pulmões, queimando por dentro. A escuridão ao redor se fechava, e um pensamento aterrador tomou conta de sua mente: aquele era o fim. O oceano o devoraria por completo.

Quando suas forças estavam quase esgotadas, algo inesperado aconteceu. Mãos firmes o seguraram, puxando-o para longe da correnteza. Ele mal teve tempo de processar o que acontecia quando sentiu um toque inesperado e delicado. No fundo do mar, alguém o beijava. Os lábios de Jimin foram selados em um toque que carregava uma energia estranha e intensa, diferente de qualquer coisa que ele já sentira antes. Não era apenas um beijo — havia algo profundamente mágico nele.

No começo, ele tentou resistir, confuso e surpreso. Seus pensamentos eram uma mistura de medo e uma sensação estranha de familiaridade, como se aquela presença o reconfortasse de um jeito que ele não entendia. Mas, aos poucos, o pânico cedeu, substituído por uma calma surreal. Jimin percebeu que o ar retornava aos seus pulmões, sentindo o oxigênio fluir de volta como se ele pudesse respirar debaixo d'água.

Com essa nova consciência, seus sentidos se expandiram. Seus olhos, que antes só viam a escuridão turva das profundezas, agora enxergavam cada detalhe do oceano ao seu redor. As cores dos corais, o movimento das criaturas marinhas, tudo se tornou claro. Diante dele, uma figura com uma cauda brilhante emergia das sombras do oceano, seus movimentos eram tão naturais quanto as correntes ao redor, e naquele instante, tudo fez sentido. Taehyung não era apenas o rapaz curioso e impulsivo que ele conhecera nos últimos dias; ele também era a obsessão de Jimin de anos, a criatura fantástica que ele havia devolvido às águas quando criança, o ser misterioso que o atraíra ao mar desde aquele dia.

Jimin continuava a olhar para Taehyung, com o coração ainda acelerado, mas agora por uma razão diferente. O mistério que ele perseguira por tanto tempo estava ali, bem diante dele. Seus olhos, ainda cheios de confusão, encontraram os de Taehyung, e ele sentiu um turbilhão de emoções que nem mesmo as palavras poderiam capturar. Mas o rapaz não teve tempo de processar essas emoções, pois Yongwang observava a cena, os olhos fixos nele, e um brilho estranho passou pelo olhar do rei, transformando-se em um ódio avassalador.

Ele berrou, a voz ressoando pelas águas como um trovão: "Sung Hoon, seu demônio!" e avançou em direção a Jimin com uma fúria cega, o que fez o rapaz recuar em pânico. Úrsula, percebendo a gravidade da situação, tentou intervir. Ela gritou para Taehyung fugir o mais rápido possível, pois sabia que teria que tomar medidas drásticas para trazer o irmão de volta à razão.

Taehyung olhou de relance para seu pai, a figura que ele sempre respeitou e obedeceu. Uma pontada de culpa apertou seu peito, mas a confusão nos olhos de Jimin o despertaram de seu conflito interno. Ele não podia hesitar. Segurando firmemente o braço de Jimin, ele o puxou e nadou para longe dali.

Enquanto Taehyung nadava, tentando manter Jimin a salvo da ira de Yongwang, sua mente fervilhava de perguntas. Ele sabia que seu desaparecimento por uma semana havia preocupado seu pai, mas aquilo não explicava a fúria mortal de Yongwang em direção a Jimin. E mesmo que Yongwang soubesse que Jimin era parte da razão para o seu desaparecimento, por que atacá-lo com tanta intensidade, ao invés de apenas o punir pela fuga? E quem era Sung Hoon? Será que seu pai, perturbado pela dor do passado, estava confundindo Jimin com um antigo inimigo?

Enquanto isso, Úrsula, sem outras opções, lançou um feitiço poderoso e emergiu do mar com Yongwang, transformando a si mesma e a ele temporariamente em humanos. Na terra, seus poderes eram bem menores, e a ausência da força do mar para amplificar suas habilidades tornava uma nova batalha inviável. Ela conseguiu conter o irmão com sua magia e, finalmente, falou com ele, tentando tirá-lo de sua confusão interna:

— Ele não é o... Sung Hoon. — Úrsula repetiu, a voz tremendo ligeiramente, enquanto mantinha os olhos fixos nos de Yongwang. — Ele não é quem você pensa, irmão. Ele é jovem demais... 

Yongwang, ainda respirando com dificuldade, encarou Úrsula, seus olhos refletindo uma dor antiga, enterrada por anos, que agora se misturava à fúria do presente.

— O mesmo rosto... — ele murmurou, sua raiva vacilando — Ele têm o mesmo rosto do homem que... que levou Yuna de mim.

Úrsula apertou os ombros do irmão, forçando-o a manter o foco nela.

— Mas esse rapaz não é ele. Nem eu conseguiria um feitiço tão potente para enganar o tempo assim.

Aos poucos, a tensão nos ombros de Yongwang diminuiu. Mesmo que ele tivesse voltado à razão, o ressentimento persistia em seu peito. Para ele, Jimin ainda era a imagem do algoz que tinha lhe tirado Yuna e das dores que, mesmo depois de anos, não estavam curadas. Úrsula sabia que a batalha com os demônios internos de seu irmão estava longe de terminar, mas por ora, conseguir que ele controlasse sua fúria era suficiente.

Destiny - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora