21. O que seria essencial?

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A garganta de Taehyung ardia como se tivesse sido queimada por dentro, mas ele não pensava sobre isso, tampouco sobre o fato de, pela primeira vez na vida, ter emitido um som. Tudo o que ocupava sua mente era a sensação avassaladora de ter chegado tarde demais. A lembrança de cada sorriso, cada momento que compartilhara com Jimin na superfície o atravessava como um maremoto. O feitiço havia se dissipado, levando consigo algo essencial — Jimin. Sem ele, uma vida na superfície nunca seria feliz, e essa realidade coincidia com as terríveis consequências que sua tia mencionara.

Desesperado, Taehyung correu em direção ao mar, sentindo a areia fria sob seus pés, enquanto as ondas violentas pareciam quase repelir sua entrada. De forma imprudente ele rogava a todos os deuses da terra e do mar que lhe dessem mais tempo, sentindo uma pontada de pavor ao pensar em perder Jimin para sempre. Prometeu, em silêncio, que viveria eternamente nas profundezas do oceano, que renunciaria a qualquer sonho de caminhar em terra firme, desde que Jimin pudesse ter uma vida longa e feliz lá. Quando a água gelada finalmente o envolveu, ele sentiu um alívio estranho ao retornar à sua forma de tritão, como se o oceano o acolhesse novamente, mas sua cauda o impulsionava com urgência, cortando as correntes enquanto ele mergulhava em busca de Jimin. Talvez ainda houvesse tempo.

Enquanto isso, Úrsula havia conseguido manter Yongwang imobilizado. Depois que a tromba-d'água se rompeu, a tarefa ficou mais fácil. Seu irmão parecia estar em estado de choque, os olhos vidrados em um vazio, como se tivesse visto um fantasma de seu passado. Ele murmurava palavras desconexas, entre elas os nomes Yuna e Sung Hoon. Mas, embora Yongwang estivesse imobilizado, o mar não se acalmava; ao contrário, as ondas tornavam-se cada vez mais altas e furiosas, como se refletissem uma nova perturbação. Úrsula percebeu que aquilo não era mais o resultado da raiva e desespero de Yongwang. As águas agora estavam carregadas de um medo profundo, e as correntes se entrelaçavam, convergindo em direção ao seu sobrinho, atraídas por uma força invisível e incontrolável.

Foi então que Úrsula compreendeu: Taehyung era o novo epicentro daquela tempestade. Ele não controlava conscientemente a magia que fluía através das águas, mas sua angústia reverberava nas profundezas, invocando o poder do oceano e arrastando tudo para perto de si — inclusive Jimin. Uma dessas correntes poderosas envolveu o jovem príncipe, puxando-o para as profundezas, em direção a Taehyung. Jimin estava se afogando, seus braços se debatendo contra a água gelada enquanto seus pulmões, desesperados por ar, eram tomados pelo pânico. Em meio à escuridão das ondas, ele sentia a vida se esvaindo, e um terror profundo atravessava seus pensamentos, a ideia de que talvez nunca mais visse a luz do sol.

Quando Taehyung o avistou, uma dor lancinante o atravessou, como se uma parte dele mesmo estivesse se afogando junto de Jimin. Sem pensar duas vezes, ele nadou rapidamente até ele, segurando-o firme nos braços enquanto o rapaz, exausto, começava a perder as forças. Em um gesto impulsivo e desesperado, Taehyung aproximou-se e selou seus lábios aos de Jimin, o beijo carregado de urgência e necessidade, enquanto as ondas rugiam ao redor deles. Por um instante, a sensação de calor entre seus corpos se destacou em meio ao frio das águas, e Taehyung sentiu seu coração disparar. Ele sabia que este poderia ser um último adeus.

Úrsula, observando de longe, reconheceu de imediato o que seu sobrinho estava fazendo. Aquilo era "o beijo da sereia", um feitiço simples e antigo que sereias vingativas usavam para enganar marinheiros, permitindo-lhes respirar debaixo d'água por um tempo antes de arrastá-los às profundezas. Tinha sido um dos primeiros feitiços que ela ensinara a Taehyung. Havia outras formas de salvar um humano do afogamento, métodos menos pessoais e mais eficientes, mas ela não pôde deixar de sorrir ao perceber que Taehyung havia escolhido justamente esse. "Ah, meu sobrinho... Talvez seja mais parecido com seu pai do que eu pensava," ela murmurou para si mesma, um misto de orgulho e preocupação.

Para Taehyung, porém, o beijo não era uma escolha consciente. Era um gesto desesperado, carregado de significado, um pedido silencioso para que Jimin não o deixasse. Ou, no pior dos casos, um último desejo antes do adeus. À medida que a magia fluía de Taehyung para os pulmões de Jimin, ele sentiu o calor do corpo do rapaz contra o seu, e uma esperança tênue floresceu em seu peito. Ele se lembrava de todas as vezes que viu Jimin sorrir para ele, cada pequeno gesto de gentileza que o cativara. Taehyung não sabia se Jimin entenderia o que estava acontecendo ou se algum dia perdoaria suas mentiras, mas, naquele momento, a única coisa que importava era que ele vivesse.

O mar ao redor, antes um turbilhão caótico, começou a se acalmar e recuar, como se o próprio oceano aguardasse o desfecho daquele instante. A chuva que caía impiedosamente sobre a superfície do mar começou a diminuir, e o vento, antes feroz, transformou-se em um sussurro suave. Jimin, agora capaz de respirar graças ao feitiço, parou de lutar contra a água. Seus olhos se abriram lentamente, encontrando os de Taehyung, um misto de confusão e alívio refletido em seu olhar. 

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