Capítulo 17

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Anahi

Às vezes acho que estou vivendo em uma espécie de sonho ao estar aqui, no apartamento de Alfonso, meu chefe querido e ao mesmo tempo ranzinza. Faz um pouco mais de duas semanas desde que voltamos de viagem e ele me alojou aqui, sem nem ao menos perguntar minha opinião. Não que eu tivesse achado ruim, mas é... estranho. Estranho e triste que um homem que me conhece há tão pouco tempo, que até alguns meses não era nada gentil comigo, tenha tido mais empatia do que a minha própria família. Meus pais, após praticamente me expulsarem de casa depois de eu ter terminado meu noivado e "viajado" com outro, nem sequer tiveram o trabalho de ligarem para saber se cheguei viva, se por um acaso não estou debaixo de uma ponte ou pedindo esmola no sinal. Para eles, aparentemente, a boa imagem, o casamento arranjado e Marcos na minha vida eram mais importantes do que qualquer coisa. Ainda dói. Dói saber que sou tão pouco valorizada e entendida pelas pessoas que mais deviam me amar no mundo. Sempre fui uma boa filha, nunca dei trabalho com drogas, garotos, bebidas, horários extrapolados, rebeldia. Praticamente deixei que eles vivessem a minha vida por mim durante vinte anos. Tempo completamente desperdiçado, percebo agora. Mas de novo Alfonso tem sido uma pessoa que me faz pensar em muita coisa relacionado a isso. Ele me ajudou demais, às vezes até de forma inconsciente. É como se ele estivesse, dia a dia, me resgatando de um poço sem fundo. Ele me fez refletir que eu não preciso ficar me rastejando atrás de ninguém, mesmo se forem meus progenitores. Sinto falta deles, os amo de todo meu coração, mas existem coisas que são demais para um ser humano aguentar, que ninguém deveria precisar aguentar. Mas estou tentando fingir que isso não está acontecendo comigo, pelo menos por enquanto. Sei que uma hora terei que lidar com essa realidade. Meu querido CEO estava certo quando disse que seria quase que impossível encontrar com ele neste lugar cheio de luxo que chama de apartamento. Já me perdi muitas vezes aqui dentro, e sigo me perdendo até hoje, mesmo depois de duas semanas. Também, a casa de um CEO tão conhecido no país não poderia ser diferente. Estou aqui, pensativa, sentada na cozinha enorme e toda branca que parece nunca ser utilizada, sozinha enquanto Alfonso está não sei onde. Hoje é sábado, então pelo visto vai ser mais um final de semana sem saber o que fazer neste lugar. Não tive coragem de usar o spa e, sinceramente, nem ando muito que é para não correr o risco de quebrar nada caro por aqui e ele não descontar do meu salário. O meu querido chefe está cumprindo com a sua palavra de se manter profissional desde que me mudei temporariamente para cá. Na verdade, acho que todo aquele desejo que parecia sentir por mim foi coisa momentânea, somente até descobrir como era estar com uma virgem. Não que ele tenha estado de todas as formas, porque o lacre ainda está aqui, mas creio que deu para ter o gostinho que os homens parecem tanto ter por uma virgem.

— Ainda acordada? — Salto da cadeira quando ouço a voz de Alfonso e quase engasgo com o sorvete. Olho para ele, constrangida por estar usando apenas um pijama de corujas nada adulto e por ele estar apenas com uma bermuda de dormir, com o peitoral e aquele corpo maravilhoso quase completamente exposto.

— Hoje é sábado, nem vem me mandar dormir para que a gente não se atrase amanhã. Ele franze a testa e sacode a cabeça de leve enquanto vai até a geladeira para se servir de um copo de água. Vira o líquido de uma vez na boca, e me perco até mesmo no percurso da gotinha sortuda que sai da sua boca e desce pela virilha.

— Não sei preocupe que hoje não vou te cobrar nada.

— Sei. Você também disse que seria minha escolha ir ou não contigo para a empresa, mas olha só, me arrastou todos os dias e ainda me cobrou que me arrumasse logo.

— Não faz sentido você ir de ônibus ou pagar Uber sendo que estou indo para o mesmo lugar — responde e dá de ombros. — Você não disse que queria economizar dinheiro? Junte o útil ao agradável. E sobre cobrar que se arrumasse logo, foi para o seu bem. Seu chefe odeia atrasos. Solto uma risada baixa e sacudo a cabeça. Nosso clima na empresa melhorou muito depois da nossa viagem. Não sei exatamente o que foi, mas consigo perceber que Alfonso está tentando ser mais simpático. Não só comigo, como também com os demais funcionários. Nem sempre ele consegue, mas o importante é pelo menos tentar.

Uma virgem resgatada pelo CEO - AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora