Capítulo 22

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Anahi

Três meses depois

Hoje o dia está bonito, daqueles em que a gente sente esperança. O sol entra pela fresta da janela enquanto eu me arrumo para ir à faculdade. O sono está sendo meu fiel companheiro nos últimos meses e por várias vezes só sinto vontade de ficar deitada, chorando em posição fetal, mas agora mais do que nunca preciso reagir e seguir em frente. Preciso finalmente começar a viver a minha vida.

— TOC TOC. — Me viro e vejo Dulce com duas xícaras na mão.

— Caiu da cama, Dulce? — pergunto com um sorriso no rosto enquanto prendo meu cabelo em um rabo de cavalo apertado.

— Não posso deixar a minha melhor amiga do mundo ir embora sem tomar um descafeinado e ganhar um abraço meu. Ela estende a xícara para mim, e agradeço.

— Como você está hoje? — pergunta, com uma expressão de preocupação. Não sei o que seria de mim sem essa mulher, honestamente. Dulce é a irmã que nunca tive e me mostrou nos últimos três meses que sempre vai estar presente para o que eu precisar, literalmente para tudo.

— Melhor, Dulce. Cada dia que passa, eu aceito melhor a minha vida real. Não sei como vai ser daqui para frente, mas estou vivendo um dia de cada vez — digo e sento na cama, virando o líquido na boca com uma careta. Que saudade da cafeína.

— Já te disse, mas repito: estou aqui para tudo, Anahi. Qualquer coisa, a qualquer hora.

— Eu sei, amiga. E eu te amo muito por isso. Mas preciso começar a arrumar um lugar para eu morar. Não posso ficar para sempre aqui.

— Quem disse que não? A dona da casa sou eu. Reviro os olhos e deixo a xícara na mesa de cabeceira do quarto que Dulce me cedeu depois que saí da casa dele. Conforme previ, assim que contei tudo para minha amiga, que estava sem saber de nada desde que fui expulsa de casa, Dulce deu um jeito de voltar o mais rápido possível. Sua tia, graças a Deus, estava melhor. Dulce não pensou duas vezes em me oferecer um quarto na sua casa depois de eu passar uma semana em um hotel barato. Ela me salva sempre. Mas cansei das pessoas me resgatando de tudo. Sou grata, claro. Sempre serei. Só que preciso depender mais de mim mesma, principalmente agora.

— É sério, Anahi. As suas despesas vão aumentar drasticamente. Você conseguiu passar na federal, mas tem alimentação, transporte. O dinheiro do estágio mal vai dar para o...

— Não quero pensar nisso agora, Dulce. Ainda não. Está sendo... difícil.

— Eu sei, amiga, mas você precisa. — Ela segura minhas mãos e as aperta, olhando para mim com uma expressão de compaixão. — Sempre que penso naquele desgraçado, tenho vontade de ir lá e...

— Não foi culpa dele, Dulce. — Solto um suspiro e me levanto, sem querer ficar parada pensando nele. Alfonso. Não saiu da minha cabeça um dia sequer, mas cada dia fica mais fácil viver sem ele estar presente. Tudo na vida é questão de costume. Dói todos os dias, mas já não choro como antes, já não sinto meu coração sangrando sempre que seu rosto aparece na minha mente. Só me lembro dos momentos bons que vivemos e me sinto grata, apesar de tudo. Com ele que descobri a paixão, o desejo, o amor — este último só da minha parte, claro. Com ele que aprendi a me soltar mais, a me entregar de cabeça ao momento intenso ou a aproveitar a calmaria de uma tarde. Apesar das palavras duras que disse na última vez em que o vi, eu não me arrependo de ter o conhecido. Ele me trouxe a melhor coisa que podia.

— Você vai se atrasar — Dulce fala, me despertando dos meus pensamentos constantes.

— Deixa eu ir. Beijo, Dulce. Não perca a hora de novo. — Ela me dá língua e em seguida me abraça apertado, como tem feito todos os dias.

Uma virgem resgatada pelo CEO - AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora