Capítulo 12

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Anahi

Por que sou uma bocuda? Eu me questiono isso enquanto abro e fecho a boca, sem saber o que responder para Alfonso. É a primeira vez que o vejo surpreso a ponto de mexer com a pose de homem sério que sempre tem. Seus olhos escuros me encaram como se eu fosse um duende de jardim, um ser místico de outro mundo, e é assim que me sinto na maior parte do tempo mesmo. Você deve se questionar como, em pleno século XXI, em um país repleto de luxúria e tentações, alguém consegue se manter virgem aos vinte anos. Eu te respondo com o maior prazer. A verdade é que nunca senti vontade disso. Cresci em uma família cheia de pudores, que me privavam de tudo relacionado a sexo, até mesmo a palavra era proibida de ser mencionada em qualquer situação. E piora! Até mesmo a menção dos órgãos sexuais, algo completamente biológico, era considerada errada. Cresci com essa ideia tão fixa na cabeça que sempre temi a relação sexual. Ao contrário do que normalmente acontece, quando os pais proíbem demais e a pessoa apenas fica mais curiosa, eu me reprimi. Juntou com o fato de que sempre fui tímida e nunca me aproximei de ninguém para ser fácil ainda manter o lacre intacto.

— E-Eu... — gaguejo, evitando olhar para Alfonso.

— E você não pensou em me avisar isso antes, Anahi? Eu quase... — Ele suspira e fica de costas para mim, deslizando a palma da mão pela barba rala que preenche seu rosto. — Quase te fodi de uma vez, garota! Eu ia te machucar.

— Esse não é o tipo de coisa que diz "Oi, tudo bem? Meu nome é Anahi Portilla, tenho vinte anos, mas ainda sou virgem".

— Mas devia! Ele parece exaltado, abalado e algo que não consigo identificar. Esse homem me deixa confusa demais. Não consigo entender como em um momento ele parece completamente bravo com o mundo, comigo, e de repente estou sendo pressionada em algum canto ou chupando um pinto. Meu Deus, eu chupei um... pau. Até pensar nessa palavra chula me faz corar. Dulce vai amar saber disso.

— Não planejei isso.

— Como diabos você tinha um noivo sendo virgem? — pergunta, voltando a olhar para mim. — Por acaso ele era cego?

— Não... — respondo baixinho, sem pensar por um segundo sequer que ele vai me entender. — Minha família é conservadora, e Marcos respeitou isso. Quer dizer, respeitou comendo metade da cidade enquanto "me esperava" — completo amarga, fazendo aspas com os dedos.

— Que filho da puta. Arqueio a sobrancelha, questionando a frase como se ele fosse incapaz de fazer isso com alguma mulher. Tenho minhas dúvidas de que um homem que toca uma pessoa desconhecida daquele jeito, em um cantinho de uma boate, sem nem mesmo perguntar o nome é adepto de fidelidade. — Por que a expressão de dúvida e de surpresa no seu rosto? Sou um homem solteiro, Anahi. Não tenho interesse em relacionamento, não iludo ninguém, por consequência não devo satisfação a ninguém, não magoo ninguém e não traio ninguém. Apenas aceno, porque é um bom ponto. Ele sabe argumentar. Não há nada que impeça uma pessoa solteira de se divertir, conhecer pessoas novas e desfrutar dos prazeres. Mas Marcos não era solteiro, por isso lidar com essa situação é tão frustrante. Descobri que me sinto mais chateada por ter perdido longos anos da minha vida, desperdiçados ao lado de quem não soube me valorizar, do que por não ter um futuro ao seu lado. Dulce sempre teve razão; a nossa relação se tornou uma comodidade. — Você nunca fez nada? — Alfonso indaga com curiosidade, e eu nego com a cabeça, sentindo meu rosto ficando quente. — Então, esse foi seu primeiro boquete? — pergunta abismado, e volto a acenar. — Puta que pariu, Anahi! Eu ia te foder, porra!

— Eu ia te falar antes de... você sabe, mas me desconcentrei. Pronto, agora eu vou morrer de vez. Ouço um suspiro alto vindo de Alfonso e me sento na cama, cobrindo meu corpo ainda nu dos seus olhos. Encosto o queixo nos joelhos e fico olhando para o nada. Sei que ele não vai simplesmente sair daqui sem me dar uma bronca ou jogar coisas bruscas na minha cara, então só fecho os olhos e espero pelo pior.

— Eu te machuquei? — pergunta com a voz branda, e abro os olhos.

— Não... Foi gostoso. — Ao dizer isso, escondo o rosto de vergonha. Meu chefe se aproxima de mim e senta ao meu lado no colchão.

— De que mundo você veio, garota? — indaga baixinho, e abro um sorrisinho fraco. Estou dizendo que a maioria das pessoas me considera um extraterrestre.

— Não sei.

— Por quê? Posso saber? Você é religiosa, fez promessa? Solto uma risada com a curiosidade que ele parece demonstrar. Não é possível que um homem como ele nunca se envolveu com uma virgem antes.

— Não sou religiosa. — Dou de ombros. — Minha família simplesmente decidiu por mim, e só segui.

— Nunca sentiu vontade? E quando você era adolescente?

— Eu não saía — falo, sem olhar para ele, voltando a apoiar o queixo no joelho e olhar para ponto nenhum à minha frente. — Nunca senti desejo por ninguém antes de...

— Antes de mim? — completa antes que eu conclua. — E seu noivo?

— Já tentou, mas não era difícil dizer não. Essa conversa deveria me deixar a ponto de correr, mas um lado meu gosta da atenção que estou recebendo. Normalmente, todas as coisas que Alfonso me questiona são relacionadas ao trabalho. Hoje foi a primeira vez que se interessou por algo da minha vida desde que comecei a trabalhar com ele. — Podemos não falar mais disso?

— Não sei se consigo, Anahi. Isso me deixou perturbado. Parece que forcei a tirar sua pureza. Quando te via corando, nunca imaginei que existisse alguém tão... meiga assim.

— Não sou meiga — respondo, revirando os olhos, e sinto sua mão segurando meu queixo.

— É, você é. Machuquei sua garganta? — indaga, deslizando o polegar na pele do meu pescoço. — Eu empurrei com força.

— N-Não. Está tudo bem, Alfonso. — Tento me afastar para esconder meu rosto, mas ele me impede e volta a me fazer o encarar. Entreabro os lábios automaticamente quando a ponta do seu dedo desliza pela carne inferior.

— Eu podia te mostrar tanto, garota. Você ia sentir prazer a ponto de desmanchar nos meus braços — fala quase em um sussurro. — Mas não posso. Já é demais eu ter infringido as regras de não me relacionar com ninguém no trabalho.

— Eu sei. Nós podemos manter a relação profissional, pelo menos? — peço, com um choro preso na garganta, porque não quero perder esse emprego. Ele passou a ser meu refúgio. Eu me sinto como uma donzela sendo resgatada sempre que preciso sair de casa para ir trabalhar, mesmo que Alfonso não tenha nem um pouco de consciência disso. Quer dizer, talvez agora tenha.

— Tudo bem, mas você sabe que é temporário, não sabe? Raquel vai voltar depois da licença-maternidade.

— Eu sei, pode deixar. Só é... importante para mim. Vai ser uma boa experiência para meu currículo. Ele suspira e me solta tão rápido que parece que eu estava queimando.

— Então é isso. Vou tomar banho e daqui a pouco passo aqui.

— Pode deixar, senhor Herrera. — Ele faz uma careta quando digo isso, mas logo disfarça.

— Vou estar pronta. A frase de duplo sentido não passa despercebida por ele, porque Alfonso suspira alto e caminha de um jeito duro até a porta. Olho para meu chefe saindo, com o coração pequeno por saber que não vou ter mais dos seus toques. Não vou negar que estava amando cada um deles, tanto que por um momento me esqueci desse hímen maldito.

— Tchau, Anahi.

— Tchau, senhor Herrera — sussurro e não sei se ele ouve. Jogo meu corpo para trás, caindo no colchão de uma vez, e sinto uma lágrima descendo ao pensar na falta que suas carícias vão fazer. Gostei de sentir seus dedos em mim, de sentir seu gosto, de saber que era eu a dar prazer para aquele homem gostoso, experiente e tão frio. Alfonso fica tão lindo descontrolado de prazer... Sacudo a cabeça pelos meus pensamentos safados e me levanto para ir novamente ao banheiro para limpar a bagunça que ele fez aqui. Enquanto me lavo, penso novamente no homem e chego à conclusão de que vai ser praticamente impossível manter a distância que deveria.

Uma virgem resgatada pelo CEO - AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora