LUÍSVer o Lucca no bistrô só me fez ter a certeza que eu ainda o amo. Ele está lindo, está mais corado e sem aquele rosto inchado pelo choro que já era uma característica dele, estar com o vô Mauro fez bem a ele. O senhor Mauro é um bom homem, espero que tenha dado bons conselhos a Lucca.
Estou o encarando descaradamente no bistrô, mas meu coração se parte quando ele vai embora sem nem ao menos me olhar, meu colega ainda está comendo mas eu o apreço pra irmos embora, invento que esqueci que tenho horário marcado com um cliente. Percebi um cara indo atrás do Lucca e fiquei mais desesperado ainda pra o seguir. O trabalho dele é pertinho daqui então entramos no carro e saímos do bistrô, eu ainda o consigo ver com o cara antes de entrarem na redação, já vi esse cara algumas vezes, trabalha com ele, mas me parece que é casado, não tenho certeza então não sei o que pensar, só sei que o ciúmes está me corroendo.
_ Você e o Lucca ainda não se acertaram? Era ele lá no bistrô não era? Não tinha cliente nenhum, você só queria vir atrás dele não é?
_ Mais ou menos. Eu e ele não conversamos depois de nossa briga então não sei se ele realmente quer o divórcio.
_ E você quer?
_ Não. Quer dizer... eu já nem sei. Eu ainda o amo mas se é pra ser do jeito que estava melhor assim, apesar da saudade que sinto dele melhor não insistirmos nesse barco afundado.
Ele não diz mais nada e nem eu. Chego no salão e faço o resto do meu dia no automático, como tenho feito ultimamente. Já não estou morando com o Théo, consegui uma kitnet mobiliada, é um pouco pequena mas pra mim está bom, fiz contrato de apenas dois meses, presumi que esse tempo fosse suficiente pra eu e Lucca resolvermos o que vamos fazer mas não tenho mais essa certeza. O que sei é que ele não me pareceu disposto a querer conversar comigo, aí você me pergunta do porquê eu não ter tentado uma conversa antes. Porque eu não sabia que chegaríamos ao extremo de nos separar, estava adiando, procrastinando pra conversar e tentar me acertar com meu marido e deu no que deu.
Termino meu trabalho e vou a kitnet, num bairro na periferia. Chego tiro meus sapatos e me sento no sofá, colocando os pés pra cima, não é fácil ficar o dia todo em pé e ainda cuidando de cabelos, meus pés e meus braços estão podres de cansaço, e amanhã ainda é sábado, tenho tantos clientes agendados que terei que os empilhar na sala de espera. Meu celular toca e é o Théo.
_ Oi Théo.
_ Oi. Já foi pra casa? Estava te esperando pra gente tomar uma gelada.
_ Hoje não cara, tô muito cansado. Final de semana do quinto dia útil já viu né? Todo mundo com grana querendo se arrumar.
_ Que pena então. Quer que eu vá aí?
_ Acho melhor não, vou tentar dormir cedo.
_ Você está bem? Esse desânimo é só cansaço mesmo?
_ Eu o vi hoje.
_ O Lucca?
_ É, o vi naquele bistrô do centro na hora do almoço.
_ Conversaram?
_ Não. Ele mal me olhou, cara acho que a gente vai se divorciar mesmo, ele não me ama mais.
Falo com a voz embargada.
_ Vocês deixaram as brigas irem longe demais cara, o Lucca é um cabeça dura, você também é, fica difícil assim.
_ Eu não sei o que fazer, estou bem perdido. Irei deixar que ele tome a iniciativa de conversar ou procurar um advogado, ele que decida.
Ainda fiquei conversando um pouco com Théo depois fui fazer alguma coisa pra comer e em seguida dormir.
LUCCA
Depois de um dia de trabalho chegar em casa fazer faxina me deixou exausto. Depois de um banho relaxante, misturo umas hortaliças e faço uma salada, como tomando Coca-Cola zero e fico pensando naquele idiota, sinto saudades, não dos últimos meses que ele estava aqui, mas sim do nosso começo. Eu já havia cortado o cabelo com ele algumas vezes e ele me jogava umas indiretas, eu dava corda afinal o achava lindo e se ele não me convidasse pra sair eu o faria. Até que um dia ele tomou coragem e me mandou mensagem, já tinha meu número no meu cadastro do salão. Me convidou pra jantar e no que eu pensava ser só uma ficada se tornou um namoro, apresentações pra nossas famílias, e logo depois procuramos juntos nossa casa pra alugar, compramos juntos nossos móveis em várias prestações e só depois nos casamos numa cerimônia íntima numa capela, eu quis algo discreto pro desgosto de minha sogra que se dependesse dela teria escolhido da decoração, as alianças, nossa roupa e padrinhos, mas comigo não tem essa, bato de frente mesmo, sutilmente mas batia e fazia a minha vontade.
O problema foi depois quando com quatro meses de casados decidimos ter o nosso filho e eu comecei a passar mal de tão ansioso que ficava a cada resultado negativo que recebia, não que ele não se importasse mas ele não ficava tão frustrado quanto eu, ele não era cobrado pela mãe dele como eu sempre fui e aquilo me destruia, ela usava vários exemplos de homens e mulheres grávidas e eu não conseguia dar um filho ao filho dele, uma coisa tão simples e eu nada ainda, o médico explicou que o fato de eu tomar pílula por tantos anos, pode ser que o meu sistema imunológico ainda esteja com os efeitos do método contraceptivo mas não sei, eu não me conformava e não me conformo com isso até hoje.
Assim a cada dia que passava eu ficava pior, vinha adoecendo a olhos vistos e sentia uma moleza e fraqueza absurda, vivia doente com a imunidade baixa, acordava com manchas roxas na pele sem explicação nenhuma. Nessa altura meu casamento já estava em crise, e eu não conseguia verbalizar ao meu marido o que estava sentindo e ele não se interessou em me ajudar e tentar entender minha mudança repentina. Procurei um médico e ele diante do que conversamos me diagnosticou com transtorno de ansiedade generalizada e me receitou remédios. Me aconselhou a procurar um psicólogo terapeuta mas até agora não o fiz, nem tomei o remédio por esses dias, não quero ser dependente disso, acho que era a pressão por engravidar que me deixou assim, vou dar um tempo pra mim mesmo, tirar essa pressão da minha cabeça e esquecer por hora o sonho de ser pai, eu quero muito mas ainda tenho vinte e cinco anos e irei me curar primeiro. O primeiro passo é aceitar o convite de Arnaldo, beber e esquecer a merda que a minha vida se tornou. O segundo? Meu divórcio. O terceiro? Só o tempo dirá..

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EU AINDA TE AMO
RomanceQuando a vontade de engravidar se torna uma obsessão e atrapalha o seu casamento. Atrapalhou tanto que cegou os dois de um jeito que os separou, só um milagre, ou talvez dois milagres os façam voltar... Lucca e Luis chegando com a sua história de am...