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LUCCA

Meu choque dura segundos pois mesmo chorando ligo o carro rapidamente e enfio a mão na buzina assustando o traidor do meu marido que olha assustado pro carro, eu poderia descer do carro e fazer um escândalo seu desgraçado, mas não vou te dar esse gostinho. Saio cantando pneu de lá e chorando, meu casamento que já estava por um fio acabou de acabar, foi a gota d'água e não tem mais volta. Eu aceitei muita coisa, a falta de amor dele por mim, a indiferença, a bruxa da mãe dele que sempre me cobra pelo neto ou neta. Eu carregando nosso casamento nas costas e ele apenas me tolerando, ele poderia ter ido embora, ninguém é obrigado a ficar com quem não quer, mas ele preferiu me humilhar, preferiu me tolerar, preferiu engravidar o amante sabendo qu estou a meses tentando e não consigo.

_ AAAHHHH.

Solto um grito e foi tão doloroso, tão inesperado que eu mesmo me assusto, tá doendo demais e eu estou sufocado, sentindo dores físicas, respirando com muita dificuldade, eu estou... paro o carro abruptamente e tento tomar fôlego procurando o ar de alguma parte do meu corpo, olho pras minhas mãos e elas estão tremendo pra caramba, coração acelerado, estou tendo uma crise braba de ansiedade, a minha sorte é que consegui chegar em casa, o salão é relativamente perto daqui e eu vim praticamente voando. Mesmo tremendo consigo pegar minha carteira e o meu remédio, tomo com a água que deixo no carro e abraço meu corpo ficando em posição fetal no banco do carro, fico assim até minha respiração normalizar um pouco e eu parar de tremer.

Assim que entro em casa tomo uma água gelada na geladeira e me dirijo até o quarto, pego as malas debaixo da cama e começo a enfiar tudo do Luís lá dentro de qualquer jeito, ele e o amante grávido dele que passem tudo depois. Eu não me conformo por ele ter engravidado o amante e não a mim, essa foi a maior humilhação que já passei na minha vida inteira, minhas lágrimas jorram como se não tivesse fim. Ouço o carro de Luís parar e olho o relógio da cabeceira, pouco mais de dez horas. Chegou cedo. Não foram comemorar que estão livres de mim? Porque ele me viu, tenho certeza que viu pois conhece o meu carro. Ele entra no carro e fica parado me olhando jogar furiosamente as roupas dele nas malas, fica parado estático me olhando como se estivesse com medo de se aproximar.

_ Você que deveria estar fazendo isso, você que deveria ter feito isso a muito tempo mas não, preferiu me humilhar engravidando o seu amante.

Ele se aproxima e segura meus braços.

_ Me solta Luís.

_ Vamos conversar, eu sabia que você tinha entendido errado o que viu mas não podia deixar o Manuel sozinho, ele estava passando mal.

_ Pois vá com ele, termine de arrumar seus trapos e some, vai cuidar do seu amante.

_ Ele não é meu amante eu juro pra você, ele só estava desesperado, foi contar ao marido que estava grávido e foi agredido.

_  O marido deve conhecer a boa bisca que tem em casa.

_ Não fala assim, você nem o conhece.

_ Ao contrário de você não é? Me disse que não o conhecia mas na hora do aperto parece que resolveram se apresentar.

_ Não pense besteira, ele só voltou ao salão porque não sabia o que fazer. Fugiu de casa sem o celular, só com a roupa do corpo, eu só o levei ao hospital, eu não podia...

_ E porque demorou tanto?

Ele me solta achando que estou mais calmo.

_ Eu fiquei lá com ele esperando a mãe dele chegar, a chamaram, ela era o contato de emergência dele. Eu não podia o deixar sozinho, ele estava com medo, grávido e..

O tapa que dou no rosto dele queima como brasa a minha mão.

_ Lucca que merda. O que foi isso? Eu já te expliquei o que aconteceu.

_ E acha que sou idiota em acreditar?

_ E porque eu iria inventar isso?

_ NÃO SEI.

_ Lucca...

_ A única coisa que sei é que não te quero mais..

_ Por favor não faz isso.

_ Ta implorando pra ficar porque? Você ja tinha desistido do nosso casamento antes de mim, acha normal madrugar na esbórnia todos os dias? Acha normal eu ser casado e não ter ninguém pra me ajudar, pra conversar comigo porque você prefere estar com estranhos? Prefere estar com o Théo, aliás cadê ele?

_ O Théo tinha a festa de aniversário do sogro hoje.

Eu volto a jogar as coisas dele na mala, não temos mais porque ficarmos juntos, eu não acredito numa palavra que ele diz.

_ Para com isso Lucca, vamos conversar..

Ele fala chorando mas eu já estou decidido.

_... eu não fiz nada, eu só...

_ E esse é o seu problema Luis, você não faz nada, você não fala nada, pelo menos não pra mim. Eu estou sozinho a meses, só faltava você ir embora de vez.

_ Eu não sabia como agir com você. Você está obcecado por um filho e está agindo como se nossa vida fosse só isso, a gente poderia viver normalmente como um casal e o esperar..

_ Eu estava fazendo isso, sozinho, eu já te perdi faz tempo Luis.

_ Eu ê que te perdi, eu te perdi desde que você ficou obcecado em ter um filho.

_ Você só fala isso Luis, até parece que não sabia desde o início sobre o meu sonho de ser pai...

_ Sabia e eu queria também, eu quero também mas não nesses termos, esse nosso sonho se tornou um pesadelo..

Eu me aproximo dele completamente sentido e ele me segura novamente.

_ Você não vai me bater denovo.

_ Não vou, não perco mais meu tempo e nem minha sanidade por sua causa, vai embora, vai cuidar daquela sua bisca.

_ Eu não tenho pra onde ir e essa casa também é minha.

_ Essa casa é alugada e eu ficarei com ela até conseguir uma menor. Os móveis e eletrodomésticos nossos advogados nos orienta sobre o que fazer depois, nesse momento eu quero que você saia e não volte mais aqui.

_ É isso mesmo o que você quer?

Estamos chorando nos encarando mas não tem outra solução, eu cheguei no meu limite e o que vi hoje foi a última gota d'água, antes de tudo transbordar.

_ É o que tem que ser feito.

Ele termina de jogar seus últimos pertences na mala e sai, me deixando em pedaços e completamente sem chão.

EU AINDA TE AMO Onde histórias criam vida. Descubra agora