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LUCCA

E aconteceu o que eu mais temia, eu não aguentei a saudade que sinto daquele filho da puta e as crises voltaram, e voltaram com força. Teve um dia que eu chorei e tremi por uma noite inteira inenterrupta, isso fora as crises que me dão durante o dia, duas seções de terapia por semana e parece que não estão sendo suficientes, as vezes me sinto regredindo. Doutor Silvio diz que isso é normal que terei essas crises até estar curado e elas virão cada vez com menos intensidade, mas é difícil, é sufocante. Estou a ponto de assaltar uma farmácia pra pegar o meu remédio, ligo pro meu avô e fico horas conversando com ele pois falar com ele me acalma também.

Ele fica desesperado pra me ajudar mas essa dor está dentro de mim e ninguém pode me ajudar, nem o remédio que tanto quero me ajuda, pois ele apenas me faz dormir e tenho um alívio momentâneo, por isso eu me dopava dele, quando estou dormindo esqueço do quanto sou fraco e incapaz.

Luis tem me mandado mensagens quase todos os dias mas não as respondo, só respondi uma ou duas mas parei, não quero encoraja lo a achar que podemos ser amigos depois da separação, eu prefiro cortar qualquer tipo de contato. Meu terapeuta me aconselhou a sair um pouco de casa, viajar e me distrair, peço pro meu chefe me incluir na viagem pra Milão, vai ter um desfile da Valentino e eu queria ver mesmo.

Faltam poucos dias pra Luis voltar pra casa então aviso ele que terei que viajar senão capaz que ache que estou fugindo do divórcio, na verdade estou fugindo um pouco mesmo, não de assinar o divórcio pois isso é inevitável e não vai adiantar fugir. Estou fugindo por nedo da minha reação quando o ver, a palavra certa seria pânico pois a saudade é tanta que tenho dores físicas e acho que terei uma das minhas crises na frente dele.

Chega o dia da viagem e Arnaldo se oferece pra me levar ao aeroporto de madrugada, eu aceito pois ele insistiu bastante e não arredou pé do aeroporto até eu embarcar no avião, essas saídas pra jantar com ele estão me engordando isso sim, tenho notado minhas calças um pouco apertadas e isso não é bom, era só o que me faltava engordar. E lá vamos nós pra uma viagem de mais de treze horas, aquele remédio viria a calhar nesse momento, teria treze horas dormindo mas ao invés disso terei treze horas pensando no meu quase ex marido. Como eu faço para o esquecer? Eu preciso arrumar um jeito de o esquecer. Cheguei até a pensar em dar uma chance pra Arnaldo pra ver se desencano desse sentimento mas além de não ser justo com o Arnaldo, dificilmente ele daria conta de fazer comigo o que Luis fazia, é absurdo dizer isso mas acho que ninguém tem o efeito que Luis tem sobre mim.

Chegamos em Milão no final da tarde e surpreendentemente eu posso dizer que nem vi o tempo passar, juro que praticamente dormi a viagem toda, ainda bem pois eu não esperava. Pego um táxi e vou até o hotel que tinha reservado e só faço check-in, entro no quarto, tomo banho, deito na enorme cama e apago. Só acordo de madrugada, nem acredito que consegui dormir tanto. Acordei faminto e o restaurante do hotel estava fechado. A fome é tanta que peço pra chamar um taxi e digo ao motorista achar um restaurante ou lanchonete aberto pra mim. Ele me leva em um e eu peço uma macarronada, estava tão deliciosa que acho que eu até gemi enquanto a comia, me fartei e teci mil elogios ao chefe que fez aquela maravilha.

Saindo do restaurante como já estava quase amanhecendo, fiquei caminhando por Milão e encontrei uma padaria aberta. Pra que? Pedi dois tipos de pães que me encheram os olhos, focaccia e pão de altamura, e claro, um café expresso. Que delícia! Luís ficaria admirado se me visse nesse momento comendo feito um esfomeado,  geralmente eu não gosto de comer nada pela manhã, é bem raro.

Antes de voltar pro hotel compro duas calças mais larguinhas pra mim, duas camisas manga longa, um sapato que não poderia faltar e um suéter pra mim e outro pro meu avô. Aquele velho teimoso não gosta que eu gaste meu dinheiro com ele mas terá que aceitar esse suéter.

Pego um táxi e volto pro hotel, me deito mais um pouco e depois almoço e me arrumo pra ir pro desfile. Tirei milhares de fotos pro blog da revista e claro tietei alguns famosos, quanto a nova coleção de Valentino não preciso nem dizer que ele arrasa. Só chego no hotel de madrugada e podre, morto de cansado, ainda bem que jantei com outros jornalistas então só tomo banho e apago. Não sei o que estou fazendo pra dormir tão facilmente assim mas está funcionando e estou amando, nem o remédio me relaxava tanto. Porém o sono foi tanto que quase perdi a hora, tem uma coletiva do Valentino de manhã e se eu a perdesse estaria demitido, certeza.

Enfim passaram os dez dias de desfile e e como acabaram os desfiles na sexta-feira, eu resolvi ficar até domingo em Milão. Minha cobertura foi tão boa que o chefe me deu segunda e terça de folga, mas me assusto com o número do caseiro do meu avô me ligando sábado a tarde quando estou estourando meu cartão de crédito numa loja de Milão.

_ Oi senhor Alfredo, tudo bem?

Já pergunto assustado.

_ Oi Seu Lucca. Seu avô me pediu pra não te ligar mas eu e minha véia somos idoso e não podemos ficar com ele no hospital.

Eu me estremeço inteiro e pego minhas sacolas e saio correndo da loja onde estou deixando um vendedor sem entender nada pra trás.

_ Que hospital homem? O que aconteceu com o meu avó?

_ Choveu bastante no sítio de madrugada e ele escorregou e caiu hoje de manhã..

Eu há choro no meio da rua. Estou sensível pra caralho.

_ ... mas fique calmo, ele tá bem, só machucou a perna e a bacia, não chegou a quebrar nada.

_ Eu tô indo, fala pra ele que pegarei o primeiro voo que conseguir.

_ Eu falo Seu Lucca, desculpa interromper sua viagem.

_ Não peça desculpas homem, eu que te agradeço por me ligar, meu avô é tudo pra mim, só te peço o favor de ficar com ele enquanto não chego.

_ Eu não irei a lugar algum enquanto o senhor não chegar, fique tranquilo.

_ Obrigado.

Desligo e paro um táxi. Chego no hotel e peço na recepção pra fazerem o check-in enquanto arrumo minhas malas. Tomo um banho rápido e arrumo minhas coisas, ainda bem que não cheguei a tirar todas minhas coisas da mala, acabo vestindo um conjunto de moletom, minhas calças estão apertadas e as que comprei as usei e estão sujas. Como estou engordando tão rápido assim? Tá certo que estou comendo mais do que o  meu normal, mas é por que estou sem o meu remédio, meu organismo deve ter arrumado um jeito de aliviar minhas crises de ansiedade, porém terei que maneirar na comilança  senão com a velocidade que estou engordando viro uma bola.

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