EU AINDA TE AMO

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LUCCA

Fiquei quase quinze dias na casa do meu avô, como trabalho home office e só preciso ir a redação as sextas feiras, conversei com meu chefe e ele me liberou na primeira semana, depois só voltei pra casa quando precisei ir pro trabalho.

_ Não vá ficar sozinho infurnado naquela casa pensando besteira.

Esse é o meu avô.

_ Saia um pouco, ocupe a cabeça com alguma coisa que goste..

_ Tá bom vô.

Nos abraçamos antes de eu entrar no carro.

_ E não vá brigar novamente com o Luis, se tiver mesmo que separarem cada um vai pro seu lado e é isso.

Luis e Théo me ligaram várias vezes e eu não os atendi, mas ele ligou pro meu avô que o atendeu e disse que eu estava na casa dele, só pediu pra ele não aparecer aaui, pois eu precisava de um tempo longe dele, ele respeitou o que meu avô pediu, ele sempre o respeita. Luis é muito educado com o meu avô e pedia que eu fizesse o mesmo com a mãe dele, se ele soubesse que meu único arrependimento com ela é não ter a mandado pra casa do caralho, filhos da puta também envelhecem e ela é um exemplo claro disso, não gosto dela e nem ela de mim, aliás o verbo gostar não tem como incluir na mesma frase onde tem o meu nome e o dela, o verbo perfeito a se utilizar seria o odiar mesmo, tenho pesadelos com merdas que aquela megera despeja emcima de mim na frente do Luis e ele apenas me pede pra relevar porque ela é idosa, sinto ódio só de pensar nisso.

Chego em casa e tiro a minha bolsa e as sacolas de frutas, hortaliças e verduras que meu avô me obrigou a trazer, comi tanto disso esses dias que devo estar verde também, mas foi gostoso passar esses dias com o meu avô, só tomei meu remédio nos primeiros dias, depois nem precisei.

Guardo as coisas na geladeira e olho desanimado pra minha casa, está empoeirada e fedendo a mofo, programão pra hoje quando voltar do trabalho, faxinar a casa. Que delícia! Penso com ironia.

Entro no carro e vou direto ao meu trabalho, lá há pequenos nichos onde cada um tem a sua mesa, cumprimento alguns colegas de trabalho e me concentro no meu. Ligo notebook e computador e fico tão entretido que nem vejo a hora passar, só percebo quando uns colegas me chamam pra almoçar. Vamos num bistrô onde a comida é bem boa, a maioria das vezes almoçamos lá, aliás Luis costuma almoçar lá às vezes também, espero que hoje ele não tenha tido essa idéia, seria constrangedor já que todos do meu trabalho conhecem ele e eu não comentei com ninguém que separamos, aliás preciso ver o nosso divórcio e partilha dos bens, que coisa feia "partilha dos bens" me sinto um sovina, um morto de fome tendo de repartir nossos móveis e eletrodomésticos, vontade de deixar tudo pra ele e comprar outros, se isso não fosse estourar o limite do meu cartão era o que eu faria. Mas pra minha completa tristeza depois de fazermos nossos pedidos e estarmos conversando enquanto aguardamos, Arnaldo um dos meus colegas comenta comigo.

_ Aquele ali não é o seu marido?

Eu olho e ele está entrando no bistrô, acompanhado por outro cabeleireiro do salão, seu olhar cruza com o meu e meu coração acelera, engulo em seco, abaixo o olhar e minto descaradamente.

_ Não. Você está enganado.

Arnaldo franze a sombrancelha mas não diz nada, só olha pra Luis parecendo querer conferir se não é ele mesmo. Foda se, não devo satisfações a ninguém. Tento ignorar ele mas de vez em quando meu olhar cruza com o de Luis e ele está me olhando, percebo que Arnaldo olha de mim pra ele disfarçadamente, o almoço parece que dura dias, eu se pudesse ja teria me levantado e caído fora, termino de comer rápido e peço pra eles mandarem o valor da minha parte que faço o pix depois, dou uma desculpa que tenho trabalho acumulado e me retiro do bistrô, sinto o olhar de Luis em mim me queimar e agradeço por ele não me seguir, quem me segue é Arnaldo.

_ Lucca, você e o Luis não estão bem não é?

Paro na calçada e o encaro.

_ Qual é Arnaldo? O que isso tem a ver com você?

_ Nada. Desculpe me intrometer mas não teve como não notar, e não foi só eu que notei, você é meu amigo Lucca. Se quiser conversar estou aqui tá.

_ Tá Arnaldo desculpa. Eu só não quero falar sobre isso, ainda estou digerindo, eu e o Luis nos separamos, foi uma briga feia e não conversamos desde então.

_ Eu sinto muito, também passei por uma separação recente e sei o quanto é difícil.

Voltamos a caminhar em direção a redação.

_ Eu soube disso e sinto muito também, não conversei com você pois meu casamento já estava ruim, não estava com cabeça pra lidar com meus próprios problemas.

_ Eu te entendo cara. Até porque não somos muito próximos mas a gente pode mudar isso, amanhã vamos num barzinho, eu o Douglas, o Marcelo e vamos combinar com outros também, você pode ir com a gente arejar um pouco a cabeça sabe. Faz bem, te mando a localização amanhã e se resolver aparecer será muito bem vindo.

_ Vou pensar, mas obrigado pelo convite.

Vejo o carro de Luís passar por nós devagar nos observando.

_ É, acho que será uma boa arejar um pouco minhas idéias.

Falo pra meu amigo que sorri feliz por eu aceitar seu convite.