EU AINDA TE AMO

21

LUCCA

Tomo café da manhã com o meu avô e consigo comer bem, eu simplesmente não sei o que pensar ou fazer, meu avô alugou um triplex em minha cabeça porém não tenho coragem de fazer o teste, não tenho estrutura pra me deparar com mais um resultado negativo. Falando nisso meu médico me mandou uma nova receita em meu e-mail, tô precisando muito voltar a tomar meu remédio, mas se eu tomar e estiver grávido eu prejudico o meu bebê. Caralho eu tô ficando louco. Meu bebê? Eu já o estou considerando um fato, se bem que eu sempre tive essa certeza, eu desde a minha adolescência, quando descobri que tenho útero eu sempre soube que seria pai, eu só estava procurando um grande amor pra dividir esse sonho comigo, estamos nos separando mas ele continua sendo meu grande amor. E se eu pedir na farmácia o teste e o meu remédio? Se der negativo eu já me entupo de comprimido e apago por uns dias sem sofrer com uma nova crise. Mas quem cuida do meu avô?

_ Estou começando a me assustar com você.

_ O que?

Pergunto ao meu avô que está me encarando realmente assustado.

_ Está olhando pro nada a uns quinze minutos, te chamei por quatro vezes e não me ouviu.

_ Desculpa vô. Eu estava pensando.

_ Sobre o que eu falei?

_ É que eu não sei o que pensar, eu tentei por oito meses, fiz testes pra caramba, e acredite quando eu digo que foram testes pra caramba. Luis não exagerou quando disse que eu comprava sacolas de testes. Eu fazia um dava negativo e eu culpava a marca, fazia outro e mais outro, e assim ia dúzias de testes. Eu ficava horas sozinho no banheiro tentando provar pra mim e pro meu marido que eu era perfeitamente capaz de engravidar e realizar meu sonho de ser pai. Só que não acontecia e eu me desabava em choro, quando saia do banheiro Luis só me olhava virava as costas e saia, ele não me apoiava vô, eu só tinha os meus remédios pra me apoiar..

_ Você tinha a mim meu neto, você tem a mim sempre. Quanto ao Luis eu acho que ele tem as frustrações dele também, talvez ele também se sentisse culpado pela situação e não sabia explicar o que estava sentindo a você ele é um homem de poucas palavras, talvez doesse pra ele te ver naquele estado e ter que te consolar quando ele também estava sofrendo e precisava de consolo, vocês deveriam ter se apoiado mas não souberam conduzir.

_ Eu tentei vô, eu amava tanto o Luis, eu só queria ter a minha família com ele mas de tanto ver resultados negativos agora eu tenho pavor desses testes.

_ Eu estou aqui, vamos fazer o teste, se você..

_ Não vô, eu não quero, eu não vou conseguir, isso pra mim é como uma droga e se eu voltar a usar será a minha ruína.

Meu avô me olha parecendo consternado, eu retiro as coisas da mesa e começo a lavar a louça, estou com as mãos um pouco tremendo e não sei se meu avô está percebendo pois ele está na mesa sentado atrás de mim e me sinto observado.

_ Se você passar mal de novo eu ligo pro Luis pra ele te levar ao hospital.

_ Pro Luis?

Olho assustado pra ele e ele confirma com a cabeça.

_ Não, eu não quero que ele saiba, ainda mais quando não tenho certeza de nada.

_ Pois então vá a um hospital.

_ Vô, eu estou bem. Se eu passar mal denovo marco uma consulta com meu médico. Tá bom assim?

_ Por hora sim, e nem pense em tomar aqueles malditos remédios fortes que ele te receitou, não quero que prejudique meu bisneto ou bisneta.

Olho pra ele incrédulo que ele já está com a certeza que estou grávido.

_ Vô!

_ Eu vou ver o que tem pra fazer aqui. Odeio ficar parado.

Ele sai pro jardim e eu fico de olho nele enquanto faço uma lista de compras e peço pra entregarem. Relutantemente ligo na farmácia e peço meu remédio e um teste de gravidez também. Pra desencargo de consciência.

As compras chegam e eu faço um almoço rápido pra mim e meu avô, ele vai dormir depois do almoço e eu dou uma geral na casa, não está suja mas está com poeira e com cheiro de mofo, ficou dez dias fechada. Os remédios e o teste chegam e eu os levo pro quarto, fico olhando pra aquele teste e começo a tremer e suar, eu não vou conseguir fazer isso, não sozinho. Meu avô quer me ajudar mas se me der uma crise de ansiedade ele não saberá o que fazer e ficará assustado, jogo o teste no fundo da  gaveta. E se eu ligar pra Luis? Não, ele apenas terá a certeza que transei com ele naquela noite pra engravidar mesmo. Me deito na cama e acabo dormindo, acordo com um cheiro insuportável de algo que parece tão ruim e enjoativo que me deixa tonto. Que merda meu avô está fazendo?

Me levanto da cama com a mão no nariz e vou até a cozinha, quanto mais chego  perto mais o cheiro fica insuportável e está na casa toda.

_ Que isso vô? Que cheiro é esse?

_ Pedi a padaria que me trouxesse um frango assado. Não parece bom como o do sítio mas...

Não consigo mais segurar e saio correndo pro lugar mais próximo que foi a área de serviço, o jato fedido de vomito foi pro tanque mesmo e saem lágrimas dos meus olhos até, ouço a bengala do meu avô batendo no piso e fico ainda mais preocupado dele estar tentando andar rápido pra me ajudar.

_ Lucca.. meu Deus Lucca você passou mal de novo? Eu vou ligar pro seu marido, esse filho é dele e ele precisa te ajudar..

Caralho! Eu lavo a minha boca e faço bocejo só com água mesmo.

_ Eu não estou grávido vô.

_ Como não está? Você está vomitando, está pálido, está dormindo mais do que a cama e só falta me dizer que suas roupas estão encolhendo.

_ Eu.. eu..

Meu avô me abraça.

_ Não tenha medo meu neto, você sonhou tanto com isso, é o seu momento de felicidade.

_ E se eu não estiver vô? E se for psicológico ou alguma doença?

_ Mais um motivo pra você fazer o teste porque se estiver doente tem que se tratar.

_ Eu comprei um teste.

Ele me olha e me faz um carinho nos cabelos.

_ Eu vou fazer, eu só preciso de um tempo, preciso de coragem.

_ Eu sei. Não quer chamar o Luis pra estar com você?

_ Não. Só o comunicarei se der positivo.

_ Você é quem sabe meu neto, de qualquer forma eu estou aqui.

_ Obrigado vô. Mas se não for pedir muito pode tirar aquele frango daqui?

_ Tiro. O darei pra vizinha, o cheiro nem estava tão bom assim.

Ele sai e eu trato de fazer alguma coisa pra jantarmos, dormi pra caramba e o coitado do meu avô deveria estar com fome, por isso pediu o frango. Jantamos, eu o ajudo a tomar banho e ele vai se deitar, me pergunta se quero fazer o teste mas eu digo que por enquanto não. Tomo banho também e me deito, mas fico inquieto e novamente pego o teste da gaveta, vou com ele ao banheiro, faço o xixi mas começo a tremer e tenho certeza que irei passar mal, vou ao quarto pego meu celular pra ligar pra Luis mas não consigo, se eu disser que estou fazendo um teste e quero que ele venha aqui ele ira me chamar de louco ou coisa pior. Eu estou louco mesmo, o que estou pensando? Eu não consegui engravidar durante tanto tempo porque conseguiria agora? Pego uma cartela de remédio e tiro um, mas se eu estiver grávido posso prejudicar meu filho com esse comprimido. Droga, o que eu faço? O comprimido escapa da minha mão e cai na pia quando meu celular toca e a foto de Luís aparece na tela. Será que eu estava prestes a fazer uma loucura e o outro pai do meu bebê pressentiu?